Começou por realizar alguns episódios em séries televisivas com qualidade, mas depressa se assumiu no universo artístico e lésbico com High Art, a sua estreia em 1998, vinda a ganhar diversos prémios (incluindo no Fantasporto). Abordou um lado mais vago e hedonista em Laurel Canyon (2003). Depois do regresso ao passado familiar em Cavedweller (2004), em que evoca a memória do pai desaparecido, Cholodenko decidiu também afirmar o seu estilo de vida, dando origem à relação estável entre Julianne Moore e Annette Bening em Os Miúdos Estão Bem. Foi quase há um ano, em Berlim, que conversámos com Lisa sobre valores familiares, homossexualidade os The Who e Joni Mitchel…
É interessante perceber esta dinâmica de problemas familiares dentro de uma família homossexual. Foi de alguma forma baseada na sua experiência pessoal?
Essa pergunta surge com frequência. Houve uma altura em que avaliei a hipótese de ter uma criança com a minha companheira. Ao considerar as diferentes possibilidades – usar o esperma de um amigo ou optar por um dador – acabámos por escolher um dador de esperma anónimo. Agora temos um rapaz de cinco anos. Portanto, é esse o mundo em que vivo. Foram estas as questões que pensei quando decidi ter uma criança. Como iria reagir quando tivesse 18 anos? Queria ele conhecer o seu pai biológico?
E já pensou o que ele fará quando chegar esse momento?
Encorajá-lo-ei a conhecê-lo, sem dúvida. Se isso acontecer e ele quiser.
Portanto, imagino que seja possível aos interessados estabelecer esse contacto?
Sim, dependendo onde arranjar o esperma. Eu moro em LA e fui ao Califórnia Cryo Bank, que é um dos mais importantes. A política é que aos 18 anos o fruto do dador pode fazer um contacto, sendo que o dador pode ou não desejar ser conhecido.
Temos portanto um filme sobre uma família normal. O facto de ser constituída por um casal gay em nada afecta a estrutura dos valores familiares. Foi essa a ideia que quis transmitir?
Sim, foi isso mesmo. Os valores familiares estão no centro do filme. Sobretudo no que diz respeito às crianças. Eu quis que o final não fosse dominado por uma delas a fugir com o seu amante, mas ficar e tentar resolver esse problema. A ideia não é tão sexy, mas é psicologicamente fascinante.
Tanto a Julianne como a Annette estão óptimas no filme. Até que ponto estavam ansiosas por entrar neste projecto? Tinha pensado em alguém antes delas? Como se processou essa escolha?
Eu tinha conhecido a Julianne há alguns anos e já me tinha dito que gostava de trabalhar comigo. Eu gostei dela e esteve sempre algures na minha mente quando escrevi a história. Entretanto, acabei por contactá-la. Tudo isso demorou alguns anos, mas ela esteve sempre ligada ao projecto. O desafio maior foi encontrar uma outra actriz que combinasse com a sua personagem, mas também com a sua persona enquanto actriz. Entretanto, percebi que a Annette Bening era uma actriz que me tinha marcado em Beleza Americana. Muito equilibrada e com uma boa dinâmica de comedia, o que ajudava muito neste caso. De certa forma, acho que são muito credíveis enquanto um casal.
Como evoluiu a motivação da personagem de Mark Ruffalo, o homem que se intromete num casal de mulheres?
Demorei muito tempo a escrever o guião. Fi-lo com um parceiro (Stuart Blumberg, ele em NY, ela em LA) demorou cerca de cinco anos a escrever. As personagens começaram por ser bastante mais extremas – no caso, um viciado e sexo, que tinha um comportamento muito mais extremo e lutando questões de intimidade; depois, com o passar do tempo, percebemos que isso criava uma distracção sobre as outras partes da história. E acabou por ser um aspecto menos vincado.
Sentiu ao escrever esta história alguma responsabilidade com a comunidade gay?
Sabe, não penso muito nisso. Acho que não é o lugar certo de partida. O melhor era escrever de um lugar onde me sentisse eu própria e não me deixar influenciar sobre um qualquer tipo de comunidade. A última coisa que queria era ser porta-voz da comunidade gay. Falo apenas da minha experiência.
Não deixa de ser muito curiosa a escolha do título: The Kids Are All Right. Sente-se aqui uma homenagem aos The Who, mas qual foi a sua motivação principal?
Sim, houve até um documentário com esse título. A verdade é que foi um título que surgiu muito cedo e que, ao longo do tempo, nunca foi substituído por outro melhor. De certa forma, uma homenagem ao filme dos The Who, mas a verdade é que não tem nada a ver com ele. Acho que me satisfaço apenas com a ironia do título.
Foi importante para si ter presente a Joni Mitchell, pelo menos a sua música…
Sim, sim (risos)… Foi importante sim. Teve uma enorme influência em mim na minha juventude.