O que do cimo dos seus 89 anos dirá Ray Harryhausen de Confronto de Titãs? Ele que nos anos 60 era considerado o maestro supremo dos efeitos especiais em Hollywood, em filmes como As três viagens de Gulliver, Sinbad ou Os Argonautas. Hoje, ao revermos as suas obras, não evitamos um sorriso complacente sobre as limitações tecnológicas da época, mesmo num técnico de vanguarda. Mas não nos deixa de impressionar a arte de iludir a desproporcionalidade ou a técnica de stop motion que permitiu, entre outros, a luta contra os esqueletos dos Argonautas.
E seria um exercício interessante colocar lado a lado Confronto de Titãs e Os Argonautas. Notam-se os 40 anos de diferença, como num homem que envelhece, contudo é mais o que os une do que o que os separa. São ambos filmes de vanguarda tecnológica para a sua época (o primeira mais do que o segundo) que optam por um universo mítico, em detrimento da ficção científica (por exemplo, de Avatar). A recriação mitológica, da antiguidade grega, dá, na verdade, uma maior noção megalómana do que o futurismo. Entre os filmes há planos que se repetem e quase se colam. Mas, apesar de tudo, terá sido mais emocionante para o público dos anos 60 ver aquela luta de esqueletos, do que para o de hoje se deixar enrolar pela imensa cauda de Medusa em 3 D. E tal é a nossa predisposição para o avanço tecnológica, que até se percebe como estes efeitos especiais de Confronto de Titãs rapidamente se tornarão caducos.
Ao aplicar os efeitos especiais de vanguarda à mitologia, o homem desafia o divino, pois acredita que é a tridimensionalidade que lhe premite retratar os deuses. E esta é precisamente a encorage de Confornto de Titãs. Os homens desafiam os deuses, repudiando a sua tirania. Cria-se assim um conflito entre a cria e o criador, entre o mundano e o divino, entre o real e o sobrenatural, moderado por um semideus, xxxx, que prefere a mortalidade ao despotismo.
Tudo resulta num filme cheio de emoções fortes, bastante mais empolgante e espectacular do que Avatar, que fica a perder apenas pela fraca prestação de xxxxx e a história de amor pouco convincente. Julgo que Harryhausen deve ter pena por não ter esta tecnologia À disposição.