Os miúdos estavam só a brincar, ali junto ao rio Mondego. Aquele novo disco do Dr. José Afonso chamava-se Baladas de Coimbra e à primeira vista nada parecia ter de subversivo. Mas quem olhasse com atenção para a capa veria mais do que aquela fotografia a cores, onde sete rapazes pareciam estar divertidos, com a cidade de Coimbra à vista do outro lado do rio. Lá estão também, na capa, os nomes das quatro músicas incluídas nesta gravação de 1963: Menino do Bairro Negro, As Pombas, Os Vampiros, Canção de Vai… e Vem. (Artigo originalmente publicado na VISÃO História)
O disco foi posto à venda e chegou ao Seminário dos Olivais, onde vivia um rapaz que se preparava para ser padre e gostava de cantar. Chamava-se Francisco Fanhais e, anos depois, viria a conhecer e a ficar amigo de José Afonso, tornando-se também músico de intervenção. Naquela altura, um padre bateu à porta do quarto de Francisco e deu-lhe o tal disco que tinha acabado de sair. Recomendou que o ouvisse baixinho e foi-se embora. Ouvir esse disco foi «um murro no estômago» e «um deslumbramento completo», conta agora Francisco Fanhais. Depois daquela revelação, lembra-se de ter pensado: «Como eu gostava de cantar como este homem canta, com a força que ele põe nas letras, nas músicas, na interpretação vocal!»
O sangue fresco da manada