Casa comprada, emprego estável, filhos. “Segundo a sociedade, era aí que eu devia estar agora, mas não tenho nada disso, nem sei se são objetivos meus.” Com um sorriso e um ligeiro encolher de ombros, é assim que Eunice Paisana, cientista, empurra para canto várias ideias preconcebidas. “Estou a chegar aos 30 anos [faz em agosto], não sei qual é o meu futuro, e isso é… ok.”
Estamos no bar do Instituto de Medicina Molecular (IMM), em Lisboa, e temos à nossa frente uma bela vista. Eunice acabara de se confessar “empolgada e receosa”, porque dali a pouco ia submeter para publicação o artigo sobre a descoberta que fez do papel do gene UBE2C na disseminação do cancro no cérebro e da possibilidade de aplicação de um inibidor já conhecido. “É o fechar de um ciclo, mas deixa-me ansiosa, porque a rejeição é uma possibilidade.”