Há 30 anos, Fortunato Frederico era um empresário inquieto. Queria criar a sua própria marca de calçado, quando ainda ninguém se atrevia a tal. Mas, para ele, era uma obsessão. Nascido e criado em Guimarães, já tinha feito muito na vida. Tinha abandonado o seminário aos 14 anos, trabalhado numa empresa têxtil, cumprido a tropa em Angola, vendido máquinas, porta a porta, para a indústria de calçado, até que o 25 de Abril o apanhou a trabalhar numa fábrica de calçado, de onde saiu para embarcar nas folias revolucionárias e o encaminhou para ser candidato pelo PCP nas primeiras legislativas. Sol de pouca dura. O calçado era a sua sina e, depois de mais uma passagem por outra fábrica como assalariado, acabou a arregimentar dois colegas para sócios, a autonomizar-se e a fundar, em 1984, a sua própria empresa, a Kyaia, com 40 trabalhadores.
Aí começam os felizes acasos, que Fortunato Frederico soube sempre aproveitar. A trabalhar, como todos, para as grandes marcas – a Camel foi um dos seus importantes clientes –, cedo percebeu que tinha de criar qualidade e mais valor para se diferenciar. Numa visita a uma feira em Paris, encontrou um paquistanês com boas peles a metade do preço das que encontrava em Portugal. Logo fez uma sociedade, que lhe deu bom dinheiro a ganhar. Era um ótimo primeiro passo para avançar com a marca própria que sonhava. Kyaia foi uma hipótese, mas sabia que ainda não tinha acertado no ponto.