Com um debutante nesta série de debates, João Oliveira, da CDU, os primeiros temas foram escolhidos à medida da agenda do PCP: saída ou permanência na moeda única, rendimentos e salários, salário mínimo. Mas nem uma palavra (!) sobre a guerra na Ucrânia ou a política de Defesa da Europa, que teria dividido os contendores à esquerda. Esta circunstância ajudou a que o debate tivesse, assim, um pendor de três contra um, com o candidato da Iniciativa Liberal, Cotrim de Figueiredo, a ter muitas dificuldades em explicar as suas opções, perdendo-se em teoria económica para tentar dizer como se aumentam salários ou se garante a independência do BCE. Enferrujado, como tinha demonstrado no primeiro debate, Cotrim viu-se acossado e, por vezes, não escondeu a irritação e o enfado, acabando por acusar João Oliveira de “populismo de esquerda”. A CDU, o Bloco e o Livre mostraram candidatos genericamente bem preparados – terá sido, aliás, o debate em que Francisco Paupério esteve melhor, depois de uma primeira prestação sofrível e uma segunda medíocre. Muito motivado no confronto com Cotrim de Fiugueiredo, tinha, como os seus parceiros à esquerda, uma agenda muito mais fácil de defender, no sentido de dizer o que as pessoas gostam de ouvir.
Euro
Só João Oliveira admite a saída de Portugal da moeda única, optando pelo controlo nacional da política monetária. Ninguém o confrontou com a possibilidade de desvalorização da moeda, o que corresponde, na prática, ao corte de salários. Francisco Paupério, por uma vez, esteve ao lado de Cotrim na defesa intransigente do euro.
Salários
Tudo se resume a um confronto de ideias entre o representante liberal e o candidato comunista que, grosso modo, foi secundado pelos seus dois adversários da esquerda. Para Cotrim, os salários dependem do crescimento económico, para João Oliveira é o desenvolvimento económico que depende de salários mais altos. Paupério diz que é preciso mais distribuição de riqueza, Cotrim contrapõe que é preciso mais criação de riqueza. Oliveira falou da contratação coletiva, Cotrim afiançou que a contratação coletiva consta da Plataforma Liberal.
Ambiente
Com o “verde” Paupério na sala, foi Catarina Martins quem melhor desconstruiu a infeliz teoria de Cotrim de que as quotas impostas aos países pelas emissões estão na base da transição energética. Enquanto Cotrim explicava mal e quase recuava nessa ideia, Catarina demonstrava porque é que essas quotas são um negócio, com os países a transacioná-las entre si: “Se não vou poluir aqui, vou poluir acolá”. A ideia do Bloco foi cristalina, a IL enredou-se em trapalhada.
Fundos
Oportunidade para que todos tivessem namorado o setor da agricultura e respetivos eleitores. Muito elaborada e inteligente a ideia de reconversão da agricultura exposta por Paupério, mas com um certo aroma a experimentalismo de gabinete, muito longe da realidade dos campos – e das necessidades dos consumidores. No fundo, está em causa o regresso ao minifúndio, à proximidade da oferta alimentar e, portanto, ao risco da agricultura de subsistência. No entanto, nenhum dos candidatos divergiu de outro, tendo todos acrescentado contributos válidos para uma reforma da PAC. Se Cotrim afirmou que temos de nos preparar para viver sem fundos de coesão, João Oliveira disse que os fundos são insuficientes e que eles se destinam a compensar os países vítimas dos impactos assimétricos entre os que ganham e os que perdem. Afiança que fez contas e que Portugal perdeu mais dinheiro do que ganhou, ao longo dos anos de integração, tendo motivado um aparte a Cotrim: “Já chumbou”. Isto depois de uma troca de galhardetes, com o comunista a acusar o liberal de querer vir dar lições e este a garantir que não queira ir para ali dar uma aula.
O número
Muito acutilante, sempre, João Oliveira tinha frases fortes e soundbites de efeito. Captou a atenção dos espetadores ao dar o número de 560 mil euros como o lucro dos bancos, por hora, nestes anos de inflação. E isso deu lugar a duas das frases da noite:
Joâo Oliveira: “Eu não quero os bancos a ganharem 560 mil euros por hora!”
Cotrim de Figueiredo: “Prefere vê-los a ter prejuízos e a serem resgatados com o dinheiro dos contribuintes…”
Foi um aparte e, provavelmente, Oliveira não ouviu esta: havia várias respostas possíveis.