O uso da inteligência artificial (IA) pelas empresas portuguesas é ainda moderado, mas a sua crescente adoção pode eliminar 481 mil empregos em Portugal, até 2030. Por outro lado, a mesma tecnologia vai ser responsável pela criação de 401 mil novos postos de trabalho, com outras competências, no mesmo período.
“A estimativa do efeito líquido que a IA deixará no emprego do país será ligeiramente negativa, levando a uma perda potencial de cerca de 80,3 mil empregos nos próximos dez anos”, de acordo com um estudo realizado pela Randstad, uma das maiores especialistas em Recursos Humanos em todo o mundo, sobre o mercado de trabalho português.
Na mesma análise, pode ler-se que a maioria dos empregos (3,7 milhões) não vão sentir qualquer impacto direto com a expansão da inteligência artificial, enquanto 16% dos atuais postos de trabalho (795,2 mil) vão ser beneficiados.
O estudo da Randstad não tem em conta qualquer outro fator para além do desenvolvimento desta tecnologia. Ou seja, tem por base os números atuais do emprego do Instituto Nacional de Estatística e mede o possível impacto da criação de emprego, automatização e aumento de produtividade até 2033.
Quais os setores mais afetados?
Os setores serão afetados de formas diferentes pela evolução desta tecnologia. A criação de novos empregos será mais notória na área informática e das telecomunicações (+54 mil empregos até 2033) que, mesmo com a automatização de outros milhares, ficará com um saldo positivo de quase 22 mil.
Na ponta oposta está a área do comércio e reparação de veículos, uma vez que mais de 93 mil postos de trabalho seriam substituídos (perda líquida de 24 mil empregos), seguindo-se as atividades administrativas, em termos líquidos.
Mas em termos percentuais, tendo em conta o número atual de empregos em cada um dos setores, serão as atividades administrativas as mais afetadas, com 18% dos postos de trabalho a serem eliminados, seguindo-se as atividades informáticas e de telecomunicações (17%) com os serviços financeiros e seguros a fechar o pódio (16%).
Ao nível da produtividade, a Randstad prevê que utilização de IA produzirá um aumento neste campo em vários setores, em alguns casos com variações superiores a 30%. Nas atividades financeiras e de seguros, esta tecnologia aumentará sua produtividade em 36%
Noutros casos, o impacto da IA será praticamente nulo, principalmente em atividades relacionadas com o setor primário, a construção e a indústria, juntamente com o setor público. No caso da agricultura, da produção animal, caça, floresta e pesca 91% dos empregos serão mantidos sem qualquer impacto da tecnologia.
Mais de metade das empresas já utiliza IA
“A utilização da IA para fins produtivos é já uma realidade para as empresas e profissionais em Portugal. Ainda assim, é algo recente no contexto nacional, o que significa que a sua utilização é ainda moderada, tanto em termos do tipo de funções como do número de empresas e profissionais que a empregam”, pode ler-se no relatório.
E 62,7% das empresas já experimentaram IA e o tipo de funções em que tem sido mais utilizada são as relacionadas com a análise de dados, otimização de tarefas administrativas, automatização de processos e atendimento ao cliente.
“É importante destacar que o grau de utilização desta tecnologia até à data varia muito em função da dimensão das empresas. Ainda é muito incipiente nas pequenas empresas, ao passo que está muito mais difundida nas de maior dimensão, onde é mais fácil encontrar a possibilidade de fazer o investimento necessário e conseguir uma área de utilização onde faça sentido utilizar a IA”, acrescenta.
O estudo foi realizado maioritariamente a empresas com mais de 250 trabalhadores.
O mesmo estudo diz ainda que “37,3% das empresas inquiridas ainda não incorporaram a IA em nenhuma das suas atividades” e as principais razões para isso prendem-se com o facto de não trazer os resultados esperados, devido à falta de precisão ou de qualidade ou pela falta de competências dos trabalhadores para tirar o melhor proveito da tecnologia.
Por esta razão, 76,5% das empresas preveem necessidades significativas de formação e requalificação no futuro.
Salários impactados pela IA?
Outra das questões levantadas pela Randstad para a elaboração do estudo prendeu-se com o impacto que a adoção da tecnologia podia ter no salário dos trabalhadores. De acordo com a empresa de Recursos Humanos, “a principal conclusão a retirar da análise das respostas relacionadas com os efeitos esperados da IA nos salários o futuro sé que existe uma grande incerteza quanto aos efeitos esperados”.
Três em cada dez profissionais não é capaz de prever quais serão as implicações salariais no futuro, mas 16,8% acredita que poderá representar uma subida do seu ordenado ao fim do mês. 14,7% estão mais pessimistas e preveem uma queda.