O despacho de acusação do Departamento de Investigação e Ação Pernal (DIAP) de Évora clarifica que a via e os trabalhadores estavam “devidamente sinalizados” no momento em que ocorreu o acidente que envolveu o automóvel ao serviço do Ministério da Administração Interna (MAI), onde seguia Eduardo Cabrita, provocando o atropelamento mortal de um trabalhador, quando seguia a 163 quilómetros por hora na A6.
O despacho refere que a atividade dos trabalhadores naquela autoestrada “estava devidamente sinalizada por veículo de proteção que, no taipal de trás, dispunha do sinal de trabalhos na estrada, como complemento dispunha do sinal de obrigação de contornar obstáculos à esquerda e duas luzes rotativas, a qual se encontrava a cerca de 100m/150m do local de realização dos trabalhos”. A versão do Ministério Público (MP) contraria, uma vez mais, a versão de Eduardo Cabrita sobre os acontecimentos – o que, logo na altura do acidente, tinha sido comunicado pela Brisa (ao serviço da qual o trabalhador prestava serviço).
Esta sexta-feira, em reação ao despacho – que acusa o motorista do veículo de homicídio por negligência – , momentos antes de anunciar o seu pedido de demissão como ministro da Administração Interna (já aceite pelo primeiro-ministro, António Costa), Eduardo Cabrita voltou a insistir que devem ser “esclarecidas as condições do atravessamento [por parte do trabalhador] de uma via não assinalada”, argumento que o documento não reconhece. Embora não tenha sido acusado diretamente, o advogado da vítima mortal, José Joaquim Barros, já admitiu à VISÃO que, neste momento, “está a avaliar” se vai avançar para um pedido de abertura de instrução neste processo, com o objetivo de averiguar a “cumplicidade” do ministro Eduardo Cabrita nos acontecimentos.
No dia em que sai de cena, Cabrita fez questão de sacudir responsabilidades. “Eu sou passageiro. É o estado de direito a funcionar. Temos de confiar no estado de direito, ninguém está acima da lei”, disse aos jornalistas, ao ser questionado sobre o despacho do MP, visando o motorista do automóvel em que seguia. Sustentando ainda que “o esclarecimento dos factos tem de ser feito” sem se recorrer a um “repugnante aproveitamento político de uma tragédia pessoal”.
Recorde-se que o acidente ocorreu no dia 18 de junho, por volta das 13h00, ao quilómetro 77 da A6 (sentido Évora-Lisboa), autoestrada que liga Marateca à fronteira do Caia, em Elvas. O alerta para o acidente rodoviário foi dado aos bombeiros às 13h14. Nuno Santos, 43 anos, casado, pais de duas filhas, trabalhador de uma empresa subcontratada pela Brisa, que realizava trabalhos de manutenção da via, foi atropelado pela viatura ao serviço do MAI, onde seguia Eduardo Cabrita. A vítima ainda foi assistida, mas acabaria por falecer no local.