A WhatsApp está a planear lançar um novo modelo de publicidade nos próximos meses, mas clarifica agora que os anúncios não devem chegar à Europa até 2026. A clarificação foi feita ao regulador de privacidade da Irlanda.

Recorde-se que no início da semana, o grupo Meta anunciou o lançamento desta novidade, que passa por mostrar anúncios publicitários no separador de Atualizações, revelando que um novo modelo de subscrição e anúncios direcionados iam começar a chegar aos utilizadores “nos próximos meses”. Rapidamente, várias organizações dedicadas à privacidade expressaram a preocupação de que a Meta iria usar as preferências e informação dos utilizadores também nas contas de Instagram e Facebook dos utilizadores.

Agora, os responsáveis da Comissão de Proteção de Dados da Irlanda, que tem a cargo assegurar que a Meta respeita o Regulamento Geral de Proteção de Dados, revela que o grupo de Zuckerberg confirmou que o modelo de publicidade do WhatsApp não vai ser lançado na Europa antes de 2026, noticia o Politico

O Comissário Des Hogan confirma esta data e revela ainda que o modelo de publicidade vai ser discutido com outras entidades de proteção de dados “para podermos refletir sobre todas as preocupações que temos enquanto reguladores europeus”.

Um porta-voz do WhatsApp confirma que a intenção é que o modelo de publicidade seja uma “atualização global e que será lançado gradualmente em todo o mundo”. A empresa salienta que as novas funcionalidades estão construídas de forma a respeitar a privacidade e enfatiza que a partilha de dados entre WhatsApp, Instagram e Facebook só irá ocorrer quando os utilizado tenham permitido a ligação das contas.

Donald Trump já tinha adiado por duas vezes o prazo para a ByteDance vender o negócio da TikTok nos EUA como única solução para se manter ativa no país. Ontem, o presidente republicano assinou mais uma ordem para prolongar a decisão mais 90 dias, desta feita até 17 de setembro. Trump assume que quer manter a app em funcionamento nos EUA, pelo que a solução para o grupo chinês terá mesmo de passar por ceder o controlo.

No passado, Trump manifestou otimismo quanto ao apoio do presidente chinês Xi Jinping, mas não há mais novidades sobre o seu posicionamento agora, especialmente numa altura em que ambos os países se digladiam sobre as tarifas comerciais.

A ByteDance revelou que continua a trabalhar com o gabinete do Vice-presidente JD Vance no sentido de se encontrar uma solução. A porta-voz da Casa Branca Karoline Leavitt afirma que “é mais tempo, mais tempo para se fazer um bom acordo”, cita a Reuters. A oficial revelou que os advogados da Casa Branca e do Departamento da Justiça consideram que o adiamento tem uma forte base legal.

Em 2024, foi aprovada uma lei que forçava o TikTok a suspender as operações a não ser que a empresa-mãe ByteDance cedesse o controlo do negócio nos EUA ou demonstrasse progresso significativo em direção a uma venda. Desde então, o prazo para a venda ou diversificação tem sido constantemente adiado.

Palavras-chave:

O Banco de Investimento Europeu financia projetos que apoiam os objetivos da União Europeia e deve revelar hoje o plano Tech EU, onde prevê a dotação de mais de 70 mil milhões de euros ao longo dos próximos três anos para o setor tecnológico europeu.

Fontes europeias confirmam à Reuters que o Banco vai investir 70 mil milhões de euros, a que se devem juntar mais 250 mil milhões de euros vindos do setor privado e o objetivo é manter a Europa competitiva com a China e os EUA nesta corrida.

O investimento dos 70 mil milhões de euros vai dividir-se em 20 mil milhões para equidade ou quasi-equidade em projetos, 40 mil milhões para empréstimos e 10 mil milhões para garantias, entre 2025 e 2027.

Este montante vai juntar-se aos restantes esforços da Comissão Europeia para apoiar outras iniciativas mais arriscadas e inovadoras, desde as provas de conceito até à fase de oferta pública.

Os temas em destaque para este foco giram em torno da supercomputação, Inteligência Artificial, infraestrutura digital, indústrias verdes, tecnologias para saúde, defesa e segurança, robótica e materiais avançados.

O X20 Max é um combo com capacidade de aspiração e lavagem com uma base multifuncional, incluindo, além da capacidade de transferir o lixo do robô para o saco, capacidade de lavar e secar as mopas a altas temperaturas. Tem, também, um sistema de navegação avançado, com base na imagem captada por câmaras e no ‘radar de luz’ instalado em cima do aparelho (LiDAR). Fisicamente e funcionalmente é mais semelhante ao modelo Roomba 505 Plus, da iRobot.

Teste de inteligência

O X20 Max revelou uma capacidade sólida de reconhecimento espacial, criando mapas detalhados e quase instantâneos, mesmo em divisões complexas. A navegação é metódica e raramente redundante. É particularmente eficaz a manter distância adequada de móveis delicados – algo que, no Roomba 505, resultou em toques frequentes nas pernas das cadeiras ou nos rodapés.

Veja imagens abaixo:

No entanto, notámos que o sistema de visão do Xiaomi é algo sensível à variação de luz. Em ambientes com penumbra ou iluminação artificial fraca, o comportamento do robô tornava-se mais cauteloso, com pequenas hesitações junto a obstáculos baixos ou transparentes. Nestas condições, o Saros 10R, por exemplo, revela-se mais eficaz, graças a uma interpretação mais robusta do ambiente.

Outro ponto onde o X20 Max se destacou foi na capacidade de antecipar obstáculos e ajustar a rota de forma quase instantânea, mesmo quando alguém entrava de repente na divisão. Enquanto o Roomba reagia de forma abrupta (com travagens ou mudanças bruscas de direção) e o Saros demorava mais tempo a recalcular o trajeto, o Xiaomi combinava velocidade e suavidade de forma mais harmoniosa.

O reconhecimento de objetos pequenos no chão ainda é uma tarefa onde nenhum dos modelos foi perfeito, mas o Xiaomi conseguiu evitar encravar ou aspirar objetos indesejados com um nível de eficiência semelhante ao conseguido pelo Roborock. Nos poucos casos em que ficou preso, foi rápido a enviar notificações para o smartphone com uma imagem do problema.

Outro ponto positivo é a precisão do mapeamento multizona. O X20 Max reconhece e divide as divisões automaticamente com uma taxa de acerto muito elevada. E a personalização por zonas – por exemplo, limpar a sala com potência máxima e o quarto com lavagem intensiva – funciona sem falhas. O Roomba continua a exigir alguma intervenção manual no ajuste dos mapas e o Saros, apesar de mais próximo da Xiaomi neste aspeto, teve uma taxa de erro ligeiramente superior na identificação de corredores e divisões contíguas.

Em resumo, este é um dos sistemas de navegação mais completos que testámos num robô desta gama de preço. Só não está à frente do Saros 10R, que continua a ser o mais consistente em ambientes variados, mas fica acima do Roomba 505, que depende mais da força bruta do que da inteligência contextual.

Aspiração com músculo

O X20 Max demonstrou ter mais capacidade de sucção que o modelo da iRobot, embora fique atrás do Saros 10R. Na prática, isso traduz-se numa capacidade de extração de sujidade satisfatória, especialmente em tapetes de pelo curto e médio. Mesmo nas extremidades das divisões, onde é comum ficar algum pó acumulado, o robô consegue aspirar com eficiência, graças à escova lateral bem calibrada e à boa gestão da trajetória de aproximação às paredes.

O ajuste automático da potência, consoante o tipo de pavimento, é eficaz, embora com um ligeiro atraso na transição entre superfícies. A deteção de carpetes funciona na maioria das vezes, mas houve dois casos em que o robô levantou as mopas… apenas depois de já ter molhado parte do tapete – uma área onde o Saros, mais uma vez, mostrou maior previsibilidade.

Mas, pelo menos na casa usada para teste, a característica que mais diferença fez pela positiva foi o rolo inferior, com escova equipada com um género de lâminas criado para impedir o acumular e o emaranhar de cabelos e pelos longos. Não evita totalmente o problema, mas é uma bênção em casas com animais de estimação de pelo longo e pessoas com cabelo comprido.

Lavagem e secagem automáticas

Na componente de lavagem, o X20 Max revela-se mais do que apenas um acessório de aspiração com mopa. As mopas rotativas aplicam pressão moderada e conseguem remover manchas secas com alguma eficácia, especialmente em pisos lisos.

A base de lavagem é outro dos trunfos. Com depósitos de água limpa e suja de 4L e 3,5L, respetivamente, é possível manter a lavagem automatizada durante vários dias sem intervenção. A secagem com ar quente a 60 ºC impede a formação de odores e bolores nas mopas.

Por outro lado, base é muito alta e precisa de algum espaço livre à sua volta, mas compensa isso com a quase eliminação da manutenção regular. É a solução mais autónoma que já testámos.

Aplicação e conectividade

A app Mi Home continua a ser uma das mais completas do mercado. O nível de personalização é muito elevado, com criação de rotinas, zonas proibidas, definição de zonas de limpeza intensiva, horários por divisão e integração com comandos de voz via Alexa e Google Assistant. O controlo em tempo real com renderização 3D do percurso do robô é um extra interessante, embora pouco necessário no dia a dia.

A ligação é estável, o tempo de resposta é curto e a sincronização entre robô e app funciona quase sem atrasos – algo que o Roomba 505 ainda falha ocasionalmente.

Veredito

O Robot Vacuum X20 Max marca um ponto de viragem claro na ambição da Xiaomi no segmento premium. O nível de navegação aproxima-se muito dos melhores, a potência de aspiração é excecional, e a base multifunções reduz drasticamente o trabalho do utilizador. Ainda há margem para melhoria no reconhecimento de tapetes e no comportamento em baixa luz, mas no global é um robô equilibrado, poderoso e surpreendentemente inteligente. Não será o mais refinado de todos, mas oferece um dos melhores balanços entre desempenho, automação e, muito importante, preço.

Tome Nota
Xiaomi Robot Vacuum X20 Max – €649,99
Site: xiaomistore.pt

Aspiração Muito Bom
Lavagem Bom
Navegação Muito Bom
Aplicação Muito bom

Desempenho: 4,5
Características: 4,5
Qualidade/preço: 4

Global: 4,3

A. foi a Budapeste. — “Cidade muito bonita”, disse, e não duvidei. É aquele charme imperial de uma Europa em fim de linha, os tons e jeito “transilvânico” — assim mesmo descrito por A. — dessa meia-luz cor-de-vinho que mancha o jugo e as têmporas da cidade. Depois, a adversativa fatal. Hoje, quando alguém regressa de um passeio há sempre esse “mas”. Todo o viajante moderno o guarda para fazer a ressalva fundamental. Como se em vez de lugares, houvesse apenas duas categorias: destinos turísticos e antiturísticos. Os segundos são os mais desejados, claro. E quanto mais difíceis, melhor; mesmo que por sanções ou guerras ou medo (o ocidental tem um apetite voraz pelo inacessível). São Petersburgo, por exemplo, é um paraíso do antiturismo; “uma maravilha de antiturismo”, diria A. se tivesse de lá voltado. Budapeste não. Budapeste é como Lisboa. Um inferno do turismo.

Numa espécie de lamento armado em sabedoria de WhatsApp, observei o seguinte: — “Sabe A., o mundo precisa de menos turistas e mais peregrinos.”

E, súbito, o dia era ontem: 19 de Junho, Corpus Christi, assim mesmo no original. Corpo de Deus, foi o Feriado do Corpo de Deus.

Esta Lisboa afogada por turistas, acossada por turistas, desfigurada por turistas, desvelou-se. Abriu-se a boca de esgoto do antiturismo. Por debaixo daquele alçapão que ali há, para os lados da Rua da Conceição, directamente das galerias romanas, do subsolo lisboeta, eis que, qual criatura mitológica, emerge o povo católico. Ele existe, caro leitor! Existe e somos esta gente que vem de t-shirt branca com siglas azul-claro e sapatilhas Sketchers “handsfree”. Ou então engravatada, impecabilíssima. Uma gente de calções e chinelos de meter o dedo. Pessoas de todas as dimensões. Muitas velhinhas que cantam (bem-aventuradas sejam as velhinhas de sapatilhas Sketchers “handsfree” que cantam, pois delas será o Reino dos Céus). Uma gente com fé. Uma gente com joelhos. Que se organiza em confrarias, escuteiros, Ordens e Irmandades. E a Guarda a cavalo; e as famílias à janela. Como naquele primeiro andar do 12 da Rua de Santo António da Sé, sempre o mais bonito, com as colchas de Castelo Branco penduradas com cuidado cerimonial.

Amarelecidos pelo tempo, é certo. Mas o arcaboiço de uma civilização. As articulações de um Oeste que ainda se chama Ocidente.

A Lisboa laica agradece. Só pode. É como se a rectaguarda católica, em nome de todos, se tornasse na vanguarda de uma revanche contra o turista invasor. Uma vingançazinha ocasional. Como se dissesse, como A.: — “demasiado turismo.” Contudo, esse não é o ponto do povo de Deus. Por ele, o turista que entre na marcha. O que se está a afirmar ali é outra coisa. Uma coisa especialmente subversiva nos dias de hoje.

De que é feita uma pessoa? De espírito? De carne? Dos dois? Nem tanto?

A essa pergunta o católico responde com o corpo de Deus. O corpo do qual todos os outros corpos procedem. E por isso partilham uma natureza semelhante. O que Deus for, nós seremos também em miniatura; assim mesquinha e corruptível.

Hoje só se consegue enquadrar isto como “espiritualidade”, “gestos simbólicos”, “valores universais”. E, por repetição e osmose, vamos alinhando na ideia vencedora de que o corpo é um acessório.

“O meu corpo”, dizem, como quem diz “o meu carro”, “o meu telemóvel”: qualquer coisa que se actualiza e desbloqueia para não trair o “verdadeiro eu” interior. Uma coisa que tanto se tem, como se pode vir a deixar de ter.

Isto é uma ideia terrível. Um golpe dos diabos que nos divide em dois. Um assunto muito sério, lá dos Cátaros, que deveria ter ficado morto e enterrado no século XIV, mas que a New Age recuperou e se tornou dogma académico e doutrina política. É essa ideia que justifica que se “faça” coisas com o corpo. Como vendê-lo, por exemplo. Mas o corpo não é um objecto. É um sujeito. Somos nós, no mais íntimo, no mais público. Por isso não prostituímos o corpo. Prostituímo-nos. Nem fazemos um desenho no corpo. Desenhamo-nos. Não acrescentamos silicone ao corpo. Acrescentamos mentira. Se o negamos, negamo-nos a nós.

Não surpreende, por isso, que de todos os feriados católicos este seja dos mais ignorados. Para além do desconhecimento puro (as pessoas seguem para os seus fins-de-semana prolongados e não fazem ideia porquê), é um dia que nos põe a pensar em corpos. Mas nós não queremos pensar em corpos. O corpo é o grande empecilho dos nossos dias. Os pobres tatuam-no, os ricos querem ultrapassá-lo. No delírio transumanista, acabar com a carne é acabar com a culpa. A própria palavra é incómoda, principalmente no plural: “corpos” — faz lembrar cadáveres empilhados numa vala.

Mas, e eis a afronta: Deus também é corpo. Durante séculos, saiu à rua. Numa procissão que era uma realidade sensorial, política, litúrgica, social. O Santíssimo Sacramento atravessa freguesias inteiras sob o pálio de ouro, entre crianças vestidas de anjo e passadeiras de flores. E a cidade surge para o adorar. O pão consagrado passa como Rei.

Estávamos aqui tão bem na nossa digressão espiritual pelo simbólico e, afinal, Deus é corpo. Um corpo teimoso. Inteiro, como o nosso; de carne, só um. Uma farinha fermentada e viva. Não uma evocação, uma presença. Sem meias palavras.

Por isso é que a procissão tem um sentido tão profundo, não é uma caminhada, são corpos que peregrinam reconciliados com o seu próprio peso. É a possibilidade de uma civilização restaurada; de tornarmos a ser um, de o mundo voltar a estar inteiro.

Manuel Fúria é músico e vive em Lisboa.
Manuel Barbosa de Matos é o seu verdadeiro nome.

Os textos nesta secção refletem a opinião pessoal dos autores. Não representam a VISÃO nem espelham o seu posicionamento editorial.

1) Os trabalhadores da Trust in News aprovaram a convocação de uma greve por tempo indeterminado, com início a partir do dia 20 de junho, por entenderem que esta é a melhor forma de lutarem pelo pagamento dos salários e subsídios em atraso, de preservarem a sua dignidade profissional e de chamarem a atenção, uma vez mais, para uma situação que, desde há um ano e meio, ameaça a sobrevivência de mais de uma dezena e meia de títulos da imprensa portuguesa.

2) Reunidos em plenário, a 30 de maio, os trabalhadores tinham manifestado já a sua indignação por apenas terem recebido 80% do salário de abril, em três prestações, encontrando-se os restantes 20% por pagar, assim como o salário de maio, o respetivo subsídio de refeição e alguns subsídios de férias. Nesse plenário, os trabalhadores decidiram que se os salários em atraso não fossem regularizados até 6 de junho, tomariam a decisão que entendessem para não continuarem a trabalhar, nomeadamente a de convocarem uma greve e/ou iniciarem o procedimento formal com vista à suspensão ou rescisão, com justa causa, dos contratos de trabalho.

3) Os restantes 20% do salário de abril foram entretanto pagos a 13 de junho, mas em relação ao salário de maio, ao respetivo subsídio de refeição e aos subsídios de férias já em atraso, os trabalhadores não receberam uma informação clara sobre o momento em que essas remunerações seriam liquidadas.

5) Com salários em atraso, impostos por liquidar e prestações da dívida ao Estado a terem de ser pagas já a partir do final do mês de junho, os trabalhadores da Trust in News temem pelo futuro dos seus títulos históricos e continuam a duvidar da existência de condições para viabilizar o plano de recuperação da empresa, aprovado pelo credores, sem que, antes, se verifique a injeção de capital de até 1,5 milhões de euros que o sócio único, Luís Delgado, por diversas ocasiões, e desde há vários meses, se comprometeu a fazer na tesouraria da empresa.

6) Sem essa urgente entrada de capital, que deverá ser acompanhada de uma estratégia realista que garanta o futuro da empresa, são os postos de trabalho que estão em causa mas também a salvaguarda de títulos emblemáticos da imprensa portuguesa.

7) Os trabalhadores encaram também com preocupação o regresso à Trust in News de uma gerência que não soube evitar que a empresa perdesse a capacidade de pagar salários e fosse arrastada para a insolvência, destruindo valor e ameaçando um património construído ao longo de décadas por várias gerações de jornalistas e outros profissionais. Mas são essas mesmas pessoas que vão agora executar um plano de recuperação que tem como medida prioritária continuar a reduzir trabalhadores.

7) No plenário de 30 de maio, os trabalhadores da Trust in News repudiaram também a ameaça de despedimento coletivo de até 20 trabalhadores numa empresa que, no último ano e meio, reduziu em 50% a sua força de trabalho, de forma aleatória, sem qualquer estratégia da parte da gestão, e passou a funcionar com equipas totalmente depauperadas, apoiando-se na produtividade de pessoas que trabalham muito mais horas do que seria razoável. Ora, menos pessoas produzirão menos publicações, e menos publicações irão gerar menos receita, pondo assim em causa a recuperação da empresa.

8) Por todas as razões acima explicitadas, os trabalhadores da Trust in News consideram que a convocação de uma greve por tempo indeterminado é a melhor forma de lutarem pelos seus direitos. Só o pagamento integral do salário de maio e dos subsídios em atraso poderá fazer com que admitam continuar a trabalhar.
Esta tomada de posição foi aprovada por 47 dos 59 trabalhadores presentes no plenário de 6 de junho da Trust in News. Nessa data, a empresa tinha 92 trabalhadores.

Os delegados sindicais da VISÃO
Clara Teixeira
José Carlos Carvalho
Marcos Borga

Imagine um cenário simples: está num almoço de família e partilha que sente um cansaço extremo, pouca vontade de sair ou viajar. Em segundos, ouve:

– “Isso é depressão ou burnout. Devias ver isso. Tens de procurar ajuda.”

De forma subtil, aquele comentário instala-se. Os olhares mudam. Já não esperam que ria das piadas, nem que ajude nas tomadas de decisão. E, quem só sentia o peso de uma semana intensa e a necessidade de uma pausa começa a perguntar-se se algo está mesmo errado.

Nos encontros seguintes, mesmo depois de dizer “sim, estou bem”, os outros insistem: “Estás mesmo?” – a pergunta é repetida várias vezes, como se a primeira resposta não fosse suficiente. E a dúvida instala-se: e se eu não estiver bem e não dei por isso?

Este é um exemplo daquilo que o psicólogo David Rosenhan demonstrou, de forma brilhante, no estudo On Being Sane in Insane Places (1973). Um grupo de pessoas mentalmente saudáveis foi internado em hospitais psiquiátricos apenas por referir um sintoma vago – ouvir vozes. Nenhuma tinha diagnóstico de doença mental. Mas, uma vez dentro do sistema, qualquer comportamento normal passou a ser interpretado como sintoma. Se riam? Era euforia. Se estavam calados? Era isolamento.

A etiqueta de “doente” moldava toda a perceção.

Quando o rótulo fala mais alto do que a pessoa

Este fenómeno ficou conhecido como Efeito Rosenhan. Mostra como um diagnóstico (ou a suspeita dele) pode condicionar a forma como os outros nos veem e como passamos a ver-nos.

Aqui entra o cérebro: o nosso sistema nervoso é altamente sensível ao contexto e à expectativa e interpreta o comportamento dos outros com base em pistas externas. Quando há um rótulo – depressivo, ansioso, bipolar – ativa-se o chamado viés de confirmação, levando-nos a focar apenas nas evidências que validam essa ideia.

Pior ainda: o próprio cérebro da pessoa rotulada também reage a essa expectativa, tornando a pessoa mais insegura, mais retraída, mais tendenciosa a confirmar, sem intenção, o rótulo que lhe foi imposto..

E no nosso quotidiano?

Este efeito manifesta-se quando:

• Alguém em luto é tratado como se estivesse clinicamente deprimido, sem espaço para viver a dor;
• Um adolescente é visto como “problemático” por expressar emoções intensas;
• Uma mãe que partilha o cansaço é imediatamente aconselhada a “tomar alguma coisa”.

O risco aqui não é só o erro diagnóstico. Eles têm o seu lugar. Servem para orientar intervenções, abrir caminhos terapêuticos e ajustar a resposta ao que cada pessoa precisa. Mas é aí que deviam ficar: no plano clínico. Quando saltam para o olhar social, tornam-se rótulos. Um rótulo, quando cola, fica na pele e não na dor que precisava de ser compreendida

Como contrariar este efeito?

  1. Ouvir mais. Em vez de rotular o que o outro sente, pergunte: “Queres contar-me mais sobre isso?”
  2. Ver a pessoa, não o rótulo. Lembre-se que todos passamos por fases difíceis. Um comportamento não define a totalidade de ninguém.
  3. Desafiar o automático. O cérebro gosta de atalhos, mas vale a pena parar e pensar: “E se isto for apenas um momento e não uma doença?”

Cuidar da saúde mental é essencial. Mas rotular de forma precipitada pode ser tão perigoso quanto ignorar sinais.

Não se trata de negar o sofrimento. Trata-se de escolher as lentes com que o olhamos.

Porque quando vemos com mais humanidade e menos rótulos começamos, de facto, a cuidar.

Os textos nesta secção refletem a opinião pessoal dos autores. Não representam a VISÃO nem espelham o seu posicionamento editorial.

As florestas

Há dezenas de anos que ouvimos, quase todos os dias, a maior parte do ano, os tratores e atrelados, vazios, a entrar pelas florestas, a subir os montes e as serras. Ao fim do dia, ou durante todo o dia, descem, lentamente, a chiar, carregados de troncos de árvores acabadas de abater para ir alimentar uma fábrica de papel, algures. Ninguém sabe o que foi abatido, porquê, para quê, com que consequências, segundo que plano. O que não vai para a fábrica fica no chão. Cada um faz o que quer, quando quer, como quer, segundo os seus interesses pessoais, a curto prazo. Se me apetecer abater uma árvore centenária, que se encontra no meu jardim, nada me impede de o fazer. Não há políticas sustentadas pelas comunidades locais, não há planeamento, controle ou fiscalização. Não há programas de manutenção da floresta, não há informação local nem atividades permanentes de sensibilização. Não há informação institucional, atualizada, pública, útil, sucinta e legível. No verão, gastam-se centenas de milhões de euros a apagar incêndios que podem ser evitados. Há pessoas que morrem, outras que ficam feridas. Os prejuízos deste estado de coisas, atingem valores ofensivos.

O que podemos fazer como cidadãos e como sociedade civil?

Empresas e colaboradores. Famílias e comunidades

Conheço uma fábrica enorme que há pouco tempo duplicou a sua produção, ampliou as suas instalações, aumentou a altura das suas chaminés e ao fim da tarde, ao caiar da noite, expele os resíduos dos seus fornos. Será isto seguro para as centenas de pessoas que lá trabalham, para os milhares de pessoas que vivem à volta? A uma dezena de quilómetros, as telhas vermelhas dos telhados, estão cobertas de pó preto. A empresa não tem informação no seu side sobre o impacto da sua atividade nos seus empregados, famílias e comunidades envolventes. Também nada diz sobre o impacto da sua atividade na fauna e flora. Como protege a empresa a biodiversidade e repõe o que consome? Há algum programa que siga, durante alguns anos, a saúde das pessoas, das crianças e das famílias que vivem à volta da empresa? O que dizem os serviços de saúde locais sobre o estado de saúde das pessoas? O que faz esta fábrica, ou qualquer outra, para preservar a qualidade do meio ambiente das pessoas? O que as empresas escrevem nos seus sites são elogios a si mesmas e textos de promoção. Para onde vai a quantidade enorme de água que a fábrica utiliza e polui? Para o rio a 500 metros de distância? O que faz a empresa para reduzir o seu consumo de energia e de matérias-primas, diminuir a produção de lixo? O que faz com os lucros, são exportados? Que se saiba, nada de realmente relevante é reinvestido nos colaboradores, nas famílias, nas comunidades e no meio ambiente. Fica o lixo e -provavelmente- centenas ou milhares de pessoas com uma saúde debilitada e sem perspetivas de um futuro melhor, porque não houve investimento na formação profissional. Muitas empresas têm dificuldade em sentir empatia e compaixão, quando olham para os seus colaboradores e comunidades locais.

Como reagir às agressões dos diretores, administradores e acionistas?

É frequente encontrar empresas de grandes dimensões, nacionais e multinacionais, com um estatuto jurídico de Empresa Unipessoal. Esta forma jurídica oferece muito pouca segurança aos colaboradores. Não há infraestrutura empresarial, os salários são baixos, a precaridade e a insegurança são permanentes, a formação profissional irrelevante ou inexistente. No caso de deslocalização ou encerramento da empresa, as famílias e a região enfrentam uma catástrofe pois os municípios e as juntas de freguesia não têm políticas económicas locais que visem manter as famílias e as comunidades. As empresas locais ou estabelecidas na região também não são motivadas para se modernizarem, serem mais criativas, resistentes e rentáveis. A legislação vigente, antiquada e não raramente, viciada, permite -seguramente- este estado de coisas.

Nestas condições, como conseguem as pessoas sobreviver e fixar-se?

Os rios

Alguém sabe qual é a qualidade da água do rio, aqui ao lado, do estado da fauna e da flora das suas margens? Há peixes e outros animais? Já houve lontras! Qual é o seu estado de saúde, quais as espécies que estão ameaçadas ou em vias de extinção? Há algum plano ou relatórios anuais, compreensíveis e acessíveis sobre -por exemplo- a biodiversidade? Que se saiba, nada de relevante está publicado. O teor da informação existente é: “Está tudo bem. Não se preocupe.”

O cidadão e a sociedade civil são mantidos à distância.

Pedreiras e lixeiras de tratamento de resíduos

A uma dezena de quilómetros de distância há uma pedreira desativada onde durante dezenas de anos saíram camiões com granito, ou outra coisa qualquer, e onde quase todos os dias se ouviam enormes explosões. As casas de habitação tremiam, as pessoas assustavam-se, as crianças choravam. Entretanto, os restos de construções milenárias (castros) desaparecerem, as fendas nas casas, essas ainda lá estão. A lixeira, a céu aberto, pertence a uma empresa que se dedica a esta atividade. O cheiro é intenso, as infiltrações no solo devem ser permanentes, e num raio de 1 ou 2 quilómetros vivem dezenas, talvez uma ou duas centenas de famílias. As pessoas não sabem se estão em segurança ou não, se a sua saúde é ameaçada ou não. Mais uma vez, não se encontra informação relevante disponível e de confiança sobre o impacto da atividade da empresa no meio ambiente e na saúde das pessoas. A empresa informa que tem as melhores intenções, que respeita a lei e que é uma excelente empresa, mas não dá qualquer informação concreta sobre o que faz -por exemplo- para proteger a saúde e o bem-estar dos seus colaboradores, a comunidade envolvente e o seu meio ambiente.

A atual legislação das atividades económicas parece ser condescendente e permissiva para com as empresas, omissa na proteção das comunidades locais e do interesse coletivo. Esta situação institucionalizou a conflitualidade e os comportamentos associais.

A perceção de situações tóxicas e traumatizantes, afeta gravemente a saúde e a existência de todos nós, indivíduos e sociedade.

Democratizar o lobby político

A quase totalidade dos cidadãos, independentemente do seu estatuto socioeconómico e cultural, não está em contacto com políticos, governantes, autarcas, gestores ou acionistas, contrariamente ao que fazem as organizações empresariais e profissionais. O lobby político, ou seja, a atividade desenvolvida com a intenção de influenciar decisores públicos a tomar decisões favoráveis a interesses particulares ou de grupos específicos é absolutamente legal, mas é também algo que a sociedade civil tem descorado.

As pessoas que não se conseguem fazer ouvir, a grande maioria das pessoas, podem promover mudanças e fazê-lo de forma eficiente, recorrendo à prática do lobby. Os moradores de cada aldeia, de cada rua, bairro social ou condomínio fechado, podem fazer uso da internet para trocar informações e opiniões de forma agradável e segura e podem -quando quiserem- alargar os seus grupos a outras regiões, promover atividades ou encontros. Este ativismo social pode conduzir a atividades de lobby político. Os cidadãos podem acordar entre si reunir com (candidatos a) deputados, governantes, autarcas, assessores, diretores gerais e grupos económicos, informá-los sobre o que pretendem, fazer-lhes propostas e propondo acordos. Por exemplo, promover ou apoiar candidaturas a órgãos de soberania mediante o compromisso de iniciativas concretas e reuniões periódicas de trabalho. Desta forma, são os cidadãos que têm a iniciativa, promovem Políticas de Coesão Social, e dão mais qualidade à democracia e à governação.

É necessário quebrar o nosso isolamento e reduzir a nossa depressão.

Os textos nesta secção refletem a opinião pessoal dos autores. Não representam a VISÃO nem espelham o seu posicionamento editorial.

São quase oito da noite, na Place de la République, no centro de Paris. É um final de tarde quente e as esplanadas em torno da estátua da Marianne, borbulham de vida e animação. Quando me aproximo da imagem da República Francesa, saltam-me à vista as pichagens que lhe mancham a pedra. Só então reparo que a placa central da praça tem um cordão de polícias de choque, parados à sua volta. Por entre eles vão passando jovens com lenços palestinianos ou bandeiras da Palestina. Cumprimentam-se à medida que se dirigem para a rua que fica mesmo em frente do local cercado pelos polícias. Uma das raparigas, que traz ao pescoço uma máscara antigás pimenta amarela, cumprimenta efusivamente um rapaz que, como ela, se aproxima de um grupo de manifestantes que não chegará aos 60. Juntos dizem vivas à Palestina e pedem a sua libertação, em Francês, Inglês e Espanhol. E aí ficam. Gritando e saltando ao ritmo das palavras de ordem.

Começa, então, a sentir-se a tensão subir. Os jovens continuam nos seus cânticos animados. Mas os polícias começam a convergir das bordas da praça para o centro. Chegam mais polícias. São todos muito jovens, mas ainda assim mais velhos do que os manifestantes. Reparo num rapaz de barbas ruivas, cuidadosamente aparadas, que comenta a cena com outro polícia moreno, enquanto se aproximam devagar, mas decididamente, para a pequena manifestação pacífica que decorre a poucos metros.

Há sensação de que está a alguma coisa para acontecer. Os polícias medem nas mãos os cassetetes e avançam. É como se estivesse prestes a começar uma caçada. Estão cada vez mais tensos. E começam a surgir mais polícias, vindos de todos os cantos da praça.

Quando são já mais de uma centena, os que estavam no centro da praça disparam a correr. À sua frente, o punhado de manifestantes para os cânticos e começa a fugir. A sua corrida instiga os polícias, que passam por mim num galope desenfreado. Os cassetetes em riste, que alguns metros à frente caem sobre as costas desprotegidas dos jovens. Vejo-os fugir em várias direções, perseguidos por agentes a pé, ao mesmo tempo que umas duas dezenas de motas, cada uma das quais com dois polícias em cima, se aproxima da praça.

Fujo também, evitando correr, com medo de ser confundida com um dos manifestantes e acabar como eles, espancada pelos polícias que agora já têm capacetes e, em alguns casos, máscaras negras a cobrir-lhes a face. Ando devagar, mas firmemente. Tão firmemente quanto me é possível, agora que as pernas me tremem e o coração se acelera.

À minha volta, nas esplanadas a vida segue. Bebem-se copos de final da tarde, petisca-se qualquer coisa nas brasseries. Não tenho sequer a coragem de olhar para trás. Não quero ver ao vivo as cenas de violência e repressão policial que quase todos os dias me aparecem nos vídeos do Instagram, mas que só agora presencio ao vivo, vendo do princípio ao fim toda a cena. Vendo o suficiente para afirmar, com a certeza de quem viu e ninguém lhe contou, que não houve provocações nem violência dos manifestantes.

À medida que me afasto da praça, com as pernas bambas, há uma ideia que não me sai da cabeça. Não havia um único jornalista presente. Não havia uma câmara, um microfone, nada, a não ser um videografo que estava claramente com os manifestantes, certamente para fazer um daqueles vídeos com que me deparo uma e outra vez nas redes sociais e em relação aos quais há sempre alguém que diz que a cena está descontextualizada, que a violência policial é justificada com as provocações de quem se manifesta.

Não há um único jornalista a registar a cena. E isso não me sai da cabeça enquanto me afasto.

No dia seguinte, um taxista reage com indiferença à pergunta sobre o incidente. “É assim todos os sábados”, responde com um encolher de ombros. E a resposta encaixa bem no ar coreografado da cena que vi. Os caçadores e os caçados, cientes desde o início dos papéis que lhes cabem, prontos para encenar uma e outra vez o momento em que uns atacam e os outros fogem, em que uns protestam e os outros batem.

E a violência policial? Era um punhado de gente pacífica, não fizeram nada de mal. “Oh, isto é a França”, reage o taxista. “Isto não é o Brasil. Vocês são do Brasil, não são?”. Não, não somos. “Bem, então, isto não é Portugal”. Calo-me. Por quanto mais tempo isto não será assim em Portugal?

Penso na vez em que, ao atravessar a Alameda com os meus filhos, passámos pelo meio de uma manifestação pela paz na Palestina. O relvado estava cheio de famílias, algumas com carrinhos de bebés, outras com crianças que brincavam entre os cartazes, enquanto os pais conversavam descontraidamente. Expliquei aos miúdos os cartazes e as bandeiras e passámos por dois polícias, que assistiam à cena de braços cruzados, junto a um carro-patrulha, que entusiasmou muito mais as crianças do que a manifestação. “Podemos tirar uma fotografia?”, perguntaram. A resposta foi um sorriso do agente, que se pôs em pose para o retrato.

“Bem, então, isto não é Portugal”, dizia o taxista. E a questão é também essa. É que a cena que eu vi não é na China nem na Rússia. É num dos berços das democracias representativas ocidentais. É em França. Não é na Coreia do Norte. É em França. É em França, repito para mim mesma.

Podemos encontrar todas as explicações que quisermos. Mas não podemos negar que aquela demonstração de força policial não serve para controlar o punhado de miúdos que gritava pela Palestina. Não seriam precisos tantos meios para o fazer. Menos de metade dos polícias serviria bem esse propósito. Não. O que ali está em jogo é uma ação de comunicação. Fica bem evidente o preço a pagar por divergir do que o Estado entende ser uma posição aceitável.

Aqueles jovens sabem bem ao que vão. E os que estão nas esplanadas estão a ser instruídos a ignorar o que se passa. Acontece todos os sábados. E não há nenhum jornalista presente. É claro que o que se passa em Gaza deve ser silenciado e é claro o preço que se paga por defender o contrário.

Um dos pilares da democracia ocidental é a liberdade de expressão e de manifestação. E é isso que está em erosão. As sucessivas crises, a ideia de estado de exceção, abriram caminho para que a força musculada do Estado seja usada para reprimir direitos que achávamos adquiridos. Está tudo a acontecer à nossa frente. Mas, claro, escolhemos não olhar. Talvez até ao dia que nos bata à porta. Talvez até ao dia em que não seja preciso ter a coragem daqueles miúdos para levar com cassetetes nos lombos.

A Marianne continua lá. Tem, sob os pés inscritas na pedra a Liberdade, a Igualdade e a Fraternidade. Mas a divisa parece, cada vez mais, uma letra morta. Um refrão que já quer dizer pouco.

“Gostaria de pedir às autoridades israelitas que evitem não apenas um ataque direto, mas mesmo qualquer indício disso”, disse aos jornalistas Alexei Likhachev, à margem do Fórum Económico Internacional de São Petersburgo.

O alto funcionário da Rosatom, a agência nuclear russa, declarou que um ataque à fábrica de Bushehr, especialmente à sua primeira unidade geradora, que ainda está ativa, causaria uma “catástrofe comparável à de Chernobyl”, a fábrica nuclear ucraniana cujo reator explodiu em 26 de abril de 1986.

A fábrica de Bushehr está a ser construída com o apoio da Rosatom e Alexei Likhachev disse ter esperança de que as autoridades israelitas “compreendam a situação e tenham bom senso suficiente para evitar até mesmo um incidente casual”.

“Com base no que sabemos sobre a estrutura das fábricas de enriquecimento de urânio que foram atacadas, incluindo as de Natanz, os impactos não danificaram fisicamente as oficinas subterrâneas”, disse Likhachev.

Em Natanz, mais de 10.000 centrifugadoras são utilizadas para enriquecer urânio a 60%, muito além do limite de 3,67% estabelecido pelo acordo internacional de 2015, que conduziu ao alívio das sanções contra Teerão, em troca de garantias sobre a natureza pacífica do programa nuclear.

Enriquecido entre 3% e 5%, este urânio é utilizado para abastecer centrais nucleares para a produção de eletricidade. Para fazer uma bomba, o enriquecimento deve ser levado a 90%.

O diretor da Rosatom alertou que “o facto de os iranianos terem escondido as fábricas de enriquecimento no subsolo não as retira completamente da zona de risco”, portanto “ainda há riscos de incidentes nucleares”.

Lykhachev indicou que a Rússia considera possível manter em Bushehr os cerca de 600 especialistas que tem alocados, 250 dos quais em permanência, segundo os números comunicados hoje pelo próprio Presidente russo, Vladimir Putin, numa reunião com representantes das principais agências de notícias internacionais, no Fórum Económico Internacional de São Petersburgo.

Em 13 de junho, Israel lançou um ataque contra o Irão, alegando ter informações de que Teerão se aproximava do “ponto de não retorno” para obter uma bomba atómica, bombardeando instalações militares e nucleares iranianas e matando lideranças militares, cientistas e civis.

O Irão, que nega ter construído armas nucleares e reivindica o direito de enriquecer urânio para desenvolver um programa nuclear civil, ripostou com o lançamento de mísseis e drones contra várias cidades israelitas.

As autoridades de Telavive admitiram que os ataques causaram pelo menos 24 mortos. Contudo, os números oficiais de mortos não são atualizados há vários dias em ambos os países, assim como não são divulgados objetivos militares atingidos.