Renault 5. Só o nome já evoca memórias, imagens de um passado áureo da indústria automóvel francesa. Mas desengane-se se pensa que este novo R5 está muito focado no passado. É um salto em frente, um concentrado de tecnologia e design a condizer, que permite revisitar o passado… mas com olhos postos no futuro.
Tivemos a oportunidade de testar este pequeno elétrico e, desde logo, o que salta à vista é a forma como a Renault conseguiu integrar modernidade e referências vintage sem cair em clichés. O design exterior é uma homenagem clara ao modelo original, mas com linhas bem mais dinâmicas e, claro, atuais. Fizemos mais de 200 km no sul de França e vimos muitas cabeças a rodar para ver o ‘nosso’ R5 amarelo. Pessoas de todas as idades, o que demonstra bem que este R5 tanto apela aos nostálgicos como aos mais novos que, provavelmente, nunca viram um Renault 5.
Um assistente? Não, dois
No interior, a tecnologia impera, com destaque para o ecrã central que serve de porta de entrada para o infoentretenimento com o sistema operativo Google. O que significa que temos acesso a um ecossistema completo de aplicações e serviços, como o Google Maps, Google Assistente e Google Play (loja de apps). Sem, sequer, ser necessário ligar o telemóvel. A fluidez e rapidez do sistema são convincentes, e a integração com o smartphone é exemplar.
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Mas a Renault foi mais longe e equipou o R5 com um assistente digital próprio, com direito a avatar e tudo, com forma do logo da marca – fez-nos lembrar o velhinho clip do Windows. Este assistente, que responde ao nome de “Renault” (ou “Reno”), é capaz de controlar vários aspetos do carro, como o ar condicionado, o sistema de som e a navegação. Não menos importante, é capaz de dar informações de forma proativa, como alertas de trânsito ou sugestões de pontos de interesse. Um exemplo muito concreto: se optarmos pela recirculação do ar na cabine e uma janela estive aberta, o ‘ami Renault’ sugere fechar a janela.
Mas é aqui que surge a primeira nuance na nossa experiência. Sentimos alguma confusão por existirem dois assistentes digitais distintos, o assistente da Renault e o Assistente Google integrado no sistema operativo. Por duas vezes, ao tentarmos ativar o assistente da Renault com o comando “OK Renault”, ambos os sistemas responderam em simultâneo – o som do “Ok Google” e do “Ok Renault” não parece ser assim tão diferente para os ouvidos artificiais. Questionámos os responsáveis da Renault sobre esta situação, que afirmaram não ter conhecimento deste comportamento. Suspeitamos que possa estar relacionado com a utilização em Português, mas a Renault irá analisar a situação. Também nos explicaram que o utilizador pode desativar um ou outro sistema. De qualquer modo, há alguma descontinuidade na experiência por existirem dois assistentes capazes de interagir connosco em linguagem natural. Por outro lado, podemos usar um ou outro em função das suas capacidades. Por exemplo, será preferível usar o Assistente da Google para perguntas mais genéricas e o ‘Reno’ para comandos mais relacionados com o controlo do carro.
Uma das funcionalidades mais promissoras prometidas pela Renault é a integração com o ChatGPT, o sistema de inteligência artificial da OpenAI que tem dado que falar. Um serviço que, segundo averiguámos, não terá custos para o utilizador. Infelizmente, não conseguimos testar esta funcionalidade, possivelmente porque ainda não está disponível em Português. Uma pena, pois seria interessante ver como a Renault conseguiu integrar esta tecnologia no seu assistente digital.
Gosta das curvas
Ao volante, o Renault 5 convence. A condução é fácil e intuitiva, com uma direção precisa e um bom comportamento dinâmico. O carro é estável e reage de forma eficaz aos comandos do condutor. Sentimos o carro bem agarrado à estrada e até choveu em boa parte do percurso. A aceleração é progressiva e forte q.b., mas não particularmente impressionante para um elétrico, sobretudo a partir de velocidades médias.
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No capítulo da tecnologia elétrica, o Renault 5 também inova. Este carro carro conta com suporte para V2L (Vehicle-to-Load), permitindo usar a bateria do carro para alimentar dispositivos externos através de um adaptador que se liga à porta de carregamento. Mas a grande novidade é o suporte para V2G (Vehicle-to-Grid), uma tecnologia que permite carregamento bidirecional com postos AC (corrente alternada) da Mobilize. Imagine poder usar o seu carro como um power bank para a sua casa ou para a rede elétrica! Esta funcionalidade, que já está disponível em alguns países, abre um leque de possibilidades importantes em termos de gestão de energia. Podendo, até, transformar o carro, ou melhor, a bateria do R5 numa fonte de receita com venda de energia à rede em situações de pico. É importante explicar que, ao contrário de outros sistemas V2G, a solução da Renault usa corrente alternada, interagindo com a rede via wallbox da Mobilize. Uma solução muito mais económica e adequada às casas que os sistemas bidirecionais baseados em corrente contínua (DC).
A Renault e a Mobilize estão a analisar a viabilidade de disponibilizar este serviço em Portugal.
Primeira opinião
No geral, a nossa primeira experiência ao volante do Renault 5 foi bastante positiva. O carro é confortável, fácil de conduzir e cheio de tecnologia. O design e a irreverência das cores vivas arrancaram mais sorrisos e reações dos transeuntes, nas estradas entre Nice e Mónaco, que os muitos superdesportivos que por lá andam.
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O infoentretenimento usa, quanto a nós, o melhor sistema operativo para automóveis e o assistente digital é uma adição que reforça a experiência tecnológica e funcionalidade. Se a isto juntarmos as tecnologias V2L e V2G, temos aqui um carro com trunfos para conquistar os condutores que também são utilizadores. Ou seja, pessoas que valorizam a experiências permitidas pela tecnologia. E há vários detalhes neste campo, como o 5, no capot, criado por barras luminosas, que nos permitem perceber o estado de carga da bateria quando nos aproximamos do carro.
É por isto que acabamos este primeiro contacto a reforçar a ideia inicial. Este não é um carro (só) para nostálgicos. O R5 destina-se a quem quer ter acesso às experiências tecnológicas que vão muito além da condução. É um carro em que a viagem, de A para B, ‘parados’ no trânsito ou numa roadtrip, pode ser pautada por momentos como interações com os assistentes para organizar a nossa agenda, obter informações sobre os sítios por onde passamos ou ouvir os nossos podcasts preferidos.
Ficámos com vontade de voltar ao R5 para um verdadeiro teste. Para aprofundarmos as capacidades da tecnologia e analisarmos questões mais práticas, mas também importantes, como a eficiência e as velocidades de carregamento.
Quanto às versões e preços, o muito falado R5 de €25000, com bateria de 40 kWh e motor de 95 cavalos, só vai chegar para o ano. Por enquanto, só estão disponíveis as versões mais bem equipados, Techno e Iconic, com preços anunciados de, respetivamente, €33.000 e €35.000.
Ficha técnica
Bateria: 52 kWh úteis (55 kWh total)
Carregamento DC: até 100 kW (30 minutos dos 15% aos 80%)
Carregamento AC: 11 kW (bidirecional, V2L até 3,7 KW e V2G até 11 kW)
Autonomia WLTP: 410 km
Potência: 150 cavalos
Dimensões: 3,922×1,808×1,489 (CxLxA)
Peso: 1499 kg