Albert Serra, realizador espanhol multipremiado e detentor de uma linguagem muito própria, interrompe uma sequência de filmes de época para viajar até à Polinésia Francesa e contar uma história de paraísos perdidos e ameaçados.
Uma das mais-valias de Serra, tal como nos filmes anteriores, está na capacidade de inventar um contexto, um universo, e fazer com que dentro dele irradiem e se evidenciem personagens fortes. Em Pacifiction grandes figuras circulam num admirável mundo novo, simultaneamente paradisíaco e promíscuo.
O foco está na figura excêntrica e lasciva de De Roller, representante do governo francês no território, figura obscura que esconde um pensamento perverso. Mas todas as personagens assumem uma presença forte naquele mundo fascinante e ameaçado por um projeto de testes nucleares.
O filme que se estreou no Festival de Cannes, tem coprodução portuguesa e uma surpreendente atuação do crítico de arte Alexandre Melo. Nesta obra maior de um grande realizador nota-se o método ousado que lembra os métodos e práticas dos documentários: para captar uma maior naturalidade das personagens, o realizador filmou 500 horas, incluindo 200 de diálogos, para depois fazer um corte de 165 minutos. Ou seja: a preparação e a rodagem são longas, mas é na sala de montagem que se define o olhar final.
Pacifiction > De Albert Serra, com Benoît Magimel, Sergi López, Pahoa Mahagafanau, Cécile Guilbert, Alexandre Melo > 165 min