1. Crepúsculo, de Michel Franco
Começa com uma família branca, rica, de férias num resort de luxo sul-americano, que, mais do que entediada, está no estado de letargia típica de quem apenas encontra refúgio da realidade num ecrã de telemóvel. Têm tudo, não se divertem com nada. O silêncio, interior, reflexivo, traça a linha invisível com que se monta este filme do mexicano Michel Franco, apresentado na última edição do Festival de Cinema de Veneza. E é essa subtileza formal que torna Crepúsculo tão interessante. Franco filma o desencanto. O ator britânico Tim Roth e a atriz Charlotte Gainsbourg protagonizam o filme. C.M.S. De Michel Franco, com Tim Roth, Charlotte Gainsbourg, Albertine Kotting McMillan, Samuel Bottomley > 93 min
2. Alcarràs, de Carla Simón
Em Verão 1993, a sua primeira longa, a catalã Carla Simón embrulhava-nos num fundo nostálgico, num recuo emocional à infância. Em Alcarràs, que lhe valeu o Urso de Ouro do Festival de Berlim, sobressai uma ideia de falsa nostalgia. É que, apesar de o filme retratar uma realidade rural contemporânea de uma Catalunha profunda, ressalta uma ideia de anacronia, como se o filme remetesse necessariamente para um tempo remoto.
Alcarràs mostra-nos um mundo surpreendente, um estilo de vida em vias de extinção, às portas do cosmopolitismo urbano. Simón foca-se no resquício de uma agricultura cooperativa e familiar, nas lutas dos trabalhadores rurais, mostra a sua realidade e as suas justas reivindicações. Mas esse lado político, bem presente, é, na verdade, atirado para segundo plano. O filme está mais próximo de O Verão do Skylab, de Julie Delpy, do que da intervenção política do francês Stéphane Brizé com o ator Vincent Lindon.
O que parece interessar a Carla Simón continua a ser o tecido familiar. A forma como as famílias se desenham e se relacionam no seu microcosmos afetivo e social, as relações entre pais e filhos e as dinâmicas obtusas das teias familiares.
3. Elvis, de Baz Lhurman
A vida de Elvis Aaron Presley, nascido a 8 de janeiro de 1935 em Tupelo, Mississippi, é uma história tão boa que não admira que, regularmente, nos cruzemos com ela. É como uma espécie de mito contemporâneo que se vai reinventando de várias maneiras sem nunca se extinguir. Elvis tem glória, tem tragédia, tem poder, tem dinheiro, tem sexo… É uma daquelas grandes personagens que nos permitem, através das suas vidas, fazer uma leitura de um tempo e de um lugar. Neste caso, os Estados Unidos da América em décadas tão decisivas como as de 50, 60 e 70 do século passado. No filme Elvis, o realizador australiano Baz Luhrmann levou a vida do músico para o grande ecrã, apontando o foco à relação de Elvis com o seu polémico manager: o coronel Tom Parks, interpretado por Tom Hanks. O difícil desafio de dar corpo ao mito Elvis foi entregue, no filme de Luhrmann (conhecido pelo gosto por um imaginário feérico, presente em filmes como Moulin Rouge, de 2001), ao ator californiano Austin Butler, de 30 anos. P.D.A. De Baz Luhrmann, com Austin Butler, Tom Hanks, Olivia DeJonge > 153 min
4. Ciclo John Cassavetes – O Verdadeiro Rebelde
Cassavetes é uma das figuras mais influentes do cinema independente americano. É difícil imaginar o cinema de Jim Jarmusch ou de Noah Baumbach sem essa raiz. Contudo, ele nunca foi um vanguardista louco, capaz de puxar os limites do cinema a formas não narrativas, como fez Andy Warhol ou Jonas Mekas. A sua revolução fez-se dentro de balizas definidas. E a maior loucura foi insistir em fazer o seu cinema contra tudo e contra todos. Quando os produtores lhe cortaram os meios, ele arriscou criar o seu próprio modelo de produção. Arriscou loucamente.
O ciclo O Verdeiro Rebelde, com a marca da Leopardo filmes, apresenta cinco títulos maiores, em cópias digitais restauradas – Sombras (de 1959, o seu primeiro filme), Rostos (1968), Uma Mulher Sob Influência (1974), A Morte de Um Apostador Chinês (1976) e Noite de Estreia (1977) -, em várias salas do País, com destaque para o Nimas, em Lisboa, e Campo Alegre e Trindade, no Porto. A não perder até final de agosto. Programação aqui
5. Um Corpo que Dança, de Marco Martins
Para fazer uma história dos 40 anos do Ballet Gulbenkian é preciso falar um pouco de tudo e mais alguma coisa. Esta é a ideia que fica de Um Corpo que Dança, o surpreendente documentário de Marco Martins. E se aqui se usa a palavra “surpreendente”, não é por estranharmos o tema ou o género – Marco Martins é dos realizadores portugueses com uma ligação mais evidente às artes performativas –, mas antes pela originalidade e vivacidade da abordagem.
Construído através de imagens de arquivo, com destaque para o precioso espólio da RTP, Um Corpo que Dança não é um filme hermético que se encerra a pensar num público especializado e mais atento ao que se passa no mundo do bailado. Transforma-se, antes, num retrato sociocultural de Portugal ao longo de quatro décadas, um gesto amplo. Em exibição em várias salas. De Marco Martins, documentário, 127 min