Nunca se tocam, durante uma hora e quarenta minutos de espetáculo. Não apenas porque interpretam um casal que atravessa uma crise matrimonial – representada ao longo de diversas fases – mas também porque são um casal de millennials, a geração da internet que encontra nas redes sociais uma das formas primordiais de comunicação. Pulmões, peça escrita pelo inglês Duncan Macmillan, chega agora ao público português numa encenação de Luís Araújo.
“Apetecia-me que houvesse uma dicotomia entre a brutalidade do que é dito e a passividade do que é feito”, diz Luís Araújo, que é também o ator masculino no espetáculo (a atriz é Maria Leite). “Ainda faço parte da geração dos millennials, e com a relativa distância que consigo ter para analisá-la, sinto que vivemos sob a espada de Dâmocles” – a espada que, segundo um conto moral da antiguidade clássica, se encontrava segura apenas por um fio e a pender sobre o pescoço de um cortesão. “É uma geração sem esperança, filha da Guerra Fria, da guerra nuclear. É uma geração que foi encontrar o seu espaço no mundo virtual, que era de uma liberdade absoluta e que hoje se encontra subjugado também ao capitalismo.”
A par das discussões de casal (muito à volta da importância de ter um filho, do medo de ter um filho, da esperança de ter um filho), as preocupações que embalam todo este escrutínio são sufocantes: reciclar, evitar consumir, poupar-se a ações desnecessárias, ter consciência alimentar, ter consciência política, ter consciência social… “Acompanha–se o final de uma relação ao mesmo tempo que se acompanha o final do mundo”, diz Luís Araújo. A iluminação do espetáculo é sempre escura e sombria. “Queria que fosse o mundo exterior a iluminar a casa, se é que lhe podemos chamar isso”, explica o encenador. “O mundo doméstico encontra-se sempre a ser informado pelo mundo a desabar lá fora.”
Pulmões > São Luiz Teatro Municipal > Rua António Maria Cardoso, 38, Lisboa > T. 21 325 7640 > até 30 set > sex-sáb 21h, dom 17h30 > €12