Passado e presente podem ser tempos difíceis de conjugar, mas não impossíveis. Que o diga a equipa do atelier de arquitetura Openbook, a quem coube renovar o terraço do icónico hotel Ritz, hoje gerido pela cadeia Four Seasons.
O passado foi, aliás, reaproveitado para o presente, aninhado num bar circular que nasceu a partir de um edifício existente desde 1959, data em que o hotel nasceu no centro de Lisboa, com vista para o Parque Eduardo VII. Respeitaram-se a génese e a época do edifício, exemplo maior da arquitetura modernista em Portugal, e é por isso que a arquiteta e designer de interiores Diana Noronha Feio lhe chama “uma intervenção silenciosa, que veio dar uma nova vida a um espaço que precisava de ser resolvido”.
A renovação integra um projeto maior que começou, em 2015, nas antigas Galerias do Ritz (hoje Castilho 77, destinado a escritórios e onde se encontra também o restaurante japonês Kabuki), continuou nos quartos e suítes (pelo atelier OitoemPonto), já na pandemia, e desceu depois ao terraço. O resultado está à vista: uma piscina com música subaquática, que uma clientela jovem de hóspedes aproveita (e bem) numa tarde quente de agosto, e um bar de apoio que se abre para o terraço de 200 metros quadrados, agora pontuado de jardins curvilíneos. A referência direta ao trabalho do arquiteto paisagista brasileiro Burle Marx (1909-1994), que fez par com Oscar Niemeyer, trouxe o elemento orgânico (a curva) de contraste ao brutalismo do edifício.
Já neste ano, o projeto do gabinete de arquitetura e design de interiores, sediado em Lisboa, integraria a lista dos Architizer A+Awards, que somou mais de cinco mil participações vindas de 80 países. Selecionado na categoria de Bares e Adegas, conquistou a preferência do público, posicionando a Openbook entre os 220 melhores ateliers de arquitetura ao nível internacional.
Respeitar a herança
Quem passar do lobby do Ritz há de deslumbrar-se com os enormes arranjos florais, primeiro, e os trabalhos encomendados a artistas na época: as tapeçarias de Almada Negreiros, de Sarah Afonso ou de Helena Vieira da Silva, os cavalos-marinhos esculpidos por Lagoa Henriques, a coluna revestida a azulejos em relevo de Querubim Lapa… A herança desta arte decorativa está representada nos azulejos em castanho e em cinza muito claro, desenvolvidos na fábrica Viúva Lamego, que revestem a única parede e as duas colunas do Ritz Pool Bar, perpetuando assim esse saber-fazer.
Mais do que inspirações, Diana Noronha Feio prefere falar em ideias debatidas e gizadas pela equipa da Openbook, a partir das maquetas do hotel projetado por Porfírio Pardal Monteiro. E é assim que chegamos à altura das cadeiras, ao tamanho das mesas, à cultura de esplanada dos franceses. “O mobiliário incute no comportamento”, afirma a arquiteta e designer de interiores. “Uma pessoa está tanto mais relaxada, descontraída, quanto mais baixo for o assento. Testámos isto com muitas pessoas”, conta. “Às vezes, neste trabalho”, continua, “é deitar fora o livro de Ernest Neufert, que diz quais as métricas corretas de ergonomia, e usar a fita métrica que levamos no bolso para todo o lado. As mesas não têm de ter todas 1,20 m, podem ter 80 cm, e consegue-se fazer uma refeição ligeira, sem comprometer o serviço de luxo”.
A forma circular do edifício, de tal forma sui generis, seria replicada em muitas das opções: nos tampos das mesas, na mesa de buffet, na claraboia… “O círculo acaba por ser uma forma fluída e arejada de viver o espaço e tem também que ver com o ambiente e a disposição de uma pessoa quando está numa piscina. Fomos em busca desse estado de espírito”, contextualiza.
Lá fora, um universo colorido quebra a sensação tórrida do calor e ajuda a criar ambiente – vejam-se os chapéus de sol num vibrante vermelho ou as espreguiçadeiras cor de laranja, em volta da piscina, a lembrar a forma de um boomerang. Quando terminaram o projeto, sentiram que lhe faltava qualquer coisa. E assim surgiu o castiçal Bugio, também ele um círculo chanfrado, no qual a luz da vela bate e reflete, difundindo-se na mesa.
Neste resort urbano, como lhe chama o Ritz, a carta inclui umas ostras da ria Formosa, roll de polvo à algarvia, hambúrguer de novilho, um bao de garoupa, a clássica Sandwich Club, entre outras sugestões, acompanhadas de sumos do dia espremidos na hora, um mojito ou um copo de vinho, branco ou tinto. Um brinde ao futuro.
Ritz Pool Bar > R. Rodrigo da Fonseca, 88, Lisboa > T. 21 318 1400 > seg-dom 12h-19h
Terraço As linhas orgânicas da piscina e do bar contrastam com os traços modernistas e a geometria mais formal do edifício do Ritz. O projeto de arquitetura e design de interiores da Openbook conquistou um Architizer A+Awards, na categoria de Bares e Adegas