Na sessão de lançamento deste Vinil, no atelier da artista Joana Vasconcelos (filha do autor), em Alcântara, Lisboa, Jorge Pereirinha Pires (autor do posfácio) disse que Luís Vasconcelos foi uma das pessoas que mais contribuiu para construir uma imagem da música portuguesa nos anos 80, com destaque para o célebre boom do rock nacional – simbolicamente inaugurado com o sucesso do disco Ar de Rock, de Rui Veloso, lançado em 1980, com uma fotografia do autor deste livro na capa. Os mais distraídos poderão achar que é um desses exagerados elogios de circunstância, mas ao folhearem este novo livro vão sendo convencidos, página a página, de que a afirmação é totalmente justa.
Podia não ter sido assim. Luís Vasconcelos vivia em Paris, onde criou uma editora de livros, a Germinal, quando a explosão de liberdade do 25 de Abril aconteceu em Lisboa. No dia 29 de abril de 1974 chegava a uma cidade em festa, que ele não conhecia lá muito bem. A juventude, e a descoberta da paixão pela fotografia, tinha acontecido na Beira, Moçambique, e tinha passado um ano e meio no Porto, a estudar Arquitetura, antes de, como muitos, dar o salto para a Europa livre, escapando à Guerra Colonial.
No regresso a Portugal fez-se, rapidamente, fotojornalista de agência (na ANOP, Notícias de Portugal e, finalmente, na Lusa, quando esta foi criada, em 1986; mais tarde marcaria as redações do Público e da nossa VISÃO, onde esteve de 1999 a 2008).
Mas a música cedo se intrometeu no seu quotidiano de fotógrafo, não só na cobertura de concertos em Portugal e no estrangeiro mas também como fotógrafo muito solicitado pelas editoras para imagens de promoção e capas de discos num fervilhante meio musical, ansioso por novidades e por dar a banda sonora certa a um Portugal democrático, sintonizado com o mundo contemporâneo.
São esses dois registos – as poses ensaiadas e a espontaneidade nos palcos, não só de artistas nacionais – que fazem a força deste Vinil, grande viagem no tempo, a preto-e-branco e a cores.
Vinil (Tinta-da-China, 156 págs., €54,90) inclui mais de 130 fotografias de Luís Vasconcelos a músicos portugueses e estrangeiros realizadas nos anos 70 e 80 do século passado. O único texto nessas páginas é o posfácio de Jorge Pereirinha Pires que contextualiza o trabalho do fotojornalista que passou pela VISÃO, como editor de fotografia, entre 1999 e 2008