Agarremos nos hashi, os pauzinhos bonitos bem guardados desde o dia da abertura do Guelra, há pouco mais de um ano, para inaugurarem este primeiro andar (first floor, em inglês, como preferem chamá-lo, talvez por estarem num dos corações do turismo lisboeta), que eles nos vão ser muito úteis nesta refeição.
O passaporte azul que está em cada um dos lugares não engana: a viagem à mesa, longe da carne, como já nos habituou este restaurante, promete levar-nos ao Japão, seja através de um ou outro prato do menu âncora ou seguindo por uma degustação de sete momentos (€60). Ao almoço, também há uma versão reduzida, por metade do preço.

Daqui a uns meses, garante o dono, Sérgio Frade, o destino será outro e a mudança de rumo acontecerá três vezes por ano, tendo como inspiração culturas e lugares por onde os navegadores portugueses passaram.
Por agora, entregamo-nos nas mãos do chefe executivo Manuel Barreto, sabendo de antemão (está escrito num barquinho de papel posto no centro da mesa) que este se baseará numa “mistura de técnicas, produtos e filosofias”.
Quando nos sentamos, desconhecemos o que vamos comer – só no final, uma mensagem na garrafa esmiuçará o jantar e servirá de souvenir. Todas as noites muda a receita, por isso, o que nos calhou em sorte pode não chegar a ser saboreado por quem embarca nesta aventura.
Será uma pena que não comece com as ostras temperadas com lima-caviar, vinagre de arroz e aroma de patchouli. Ou que fique sem provar a panqueca ao estilo japonês de carabineiro e caviar. No entanto, garantimos que no momento do pão irá deliciar-se com uma broa de algas que a padaria Soares faz de propósito para o Guelra. E que, nesse momento, poderá limpar as mãos a uma ashibori, uma toalhinha molhada e cheirosa.
O ramen de lula, sem os hidratos de carbono da massa, como está nos pratos avulso, também não faltará no desfile de originalidade. Já não podemos jurar que o peixe do dia usado para o sashimi seja lírio dos Açores ou raia a fazer pendant com o topinambur negro, a endívia roxa e o cogumelo shitake.
No pairing, caso se opte por ele (€35), haverá sempre vinho da talha produzido no Alentejo pela família Frade, os proprietários que tiveram esta ideia de nos levar a viajar sem sairmos da mesa.
Guelra First Floor > R. de Belém, 35 > T. 93 900 2081 > seg-dom 12h-15, 19h-23h

