Um novo estudo, desenvolvido por investigadores do Center for Public Health da Universidade de Viena, na Áustria, concluiu que os voluntários que adicionavam sal à maioria das suas refeições tinham uma probabilidade bastante maior de desenvolver cancro do estômago, relativamente aos participantes que raramente o faziam.
Numa entrevista à VISÃO, em 2016, Graham MacGregor, professor de Medicina Cardiovascular no Instituto de Medicina Preventiva Wolfson, Inglaterra, já tinha referido que o sal aumenta o risco de cancro do estômago, além de fazer aumentar a pressão arterial, o que eleva o risco de doença cardiovascular. “É um produto tóxico, que nos vai envenenando aos poucos”, afirmou, na altura.
O impacto do sal na saúde humana tem sido regularmente estudado: por exemplo, em julho de 2022, um estudo desenvolvido ao longo de quase uma década, publicado no European Heart Journal, revelou que as pessoas que adicionam sal à comida já confecionada durante as refeições têm um risco 28% maior de morrer prematuramente do que aquelas que raramente adicionam sal.
Já na investigação recente, a equipa, que avaliou dados retirados do UK Biobank, um grande banco de dados biológicos do Reino Unido, de mais de 400 mil adultos, ao longo de 11 anos, descobriu que as pessoas que adicionavam bastante sal às refeições tinham uma probabilidade 41% maior de desenvolver este tipo de cancro do que aquelas que não o faziam com regularidade.
Os investigadores explicam ainda que este resultado se manteve mesmo eliminando variáveis como o consumo de tabaco e álcool, por exemplo, mas também a idade.
De acordo com os dados mais atualizados do Registo Oncológico Nacional (RON), referentes a 2020, o cancro digestivo representa 25% da incidência global do cancro e 35% de todas as mortes relacionadas com o cancro. Já em Portugal, estima-se que até 2050 a incidência de cancro digestivo aumente 25%.
Um dos perigos deste cancro é que a doença pode progredir sem que o doente dê conta, já que muitos dos sintomas iniciais são “fáceis” de ignorar – inchaço, dores de estômago e indigestão – por poderem ser associadas a refeições mais pesadas, por exemplo.
“Com o nosso estudo, queremos aumentar a sensibilização para os efeitos negativos do consumo extremamente elevado de sal e fornecer uma base para medidas de prevenção do cancro do estômago”, afirma Tilman Kühn, investigador da Universidade de Viena, em comunicado.
A Organização Mundial de Saúde (OMS) recomenda o consumo de 5 gramas de sal por dia para um adulto (uma colher de chá rasa) e 3 gramas diárias para as crianças. Em média, os portugueses consomem 10,7 gramas de sal por dia (estudo PHYSA), o que corresponde ao dobro do recomendado, segundo a Sociedade Portuguesa de Hipertensão.