“Alice Vieira nasceu em 1943, em Lisboa. Desde 1979 tem vindo a publicar regularmente, tendo editado na Caminho mais de cinco dezenas de títulos. Em 1979, recebeu o Prémio de Literatura Infantil Ano Internacional da Criança com Rosa, Minha Irmã Rosa; em 1994, o Grande Prémio Gulbenkian, pelo conjunto da sua obra. Foi indicada, por duas vezes, como candidata portuguesa ao Prémio Hans Christian Andersen (o mais importante prémio internacional no campo da literatura para crianças e jovens). Alice Vieira é uma das mais importantes escritoras portuguesas para jovens, tendo ganho grande projeção nacional e internacional. Foi igualmente apresentada por duas vezes, como candidata ao ALMA (Astrid Lindgren Memorial Award).”
O que acrescentaria ou tiraria a Alice a esta biografia?
Falta só acrescentar duas coisas: neste momento já publiquei mais de 8 dezenas de livros. E a minha profissão – a que tenho ainda hoje, apesar de reformada -, é ser jornalista. Comecei no jornalismo com 18 anos; e publiquei o meu primeiro livro – a “Rosa” – com 35…. Já vês quantos anos de jornalismo eu já tinha em cima…
Estive no Diário de Lisboa, no Diário Popular (estes dois jornais já não existem) e os últimos 20 anos no Diário de Noticias. Agora trabalho para o Jornal de Mafra (on-line) e para a revista juvenil Audácia, dos Missionários Combonianos.
Numa entrevista ao jornal Observador (28/05/2017), a Alice disse que a poesia é o seu género de eleição. Porque é que gosta de escrever poesia?
Tenho muito poucos livros de poesia. Quatro, ao todo. Poesia para adultos. E é sempre muito difícil para mim falar sobre isso. Quando a editora me pede um livro novo, eu só pergunto a data da entrega e lá vou fazê-lo. A poesia não, A poesia nasce quando nasce e não há nada a fazer. E é completamente diferente de tudo o que eu escrevo. Parece de outra pessoa.
De tal maneira que, quando escrevi o meu primeiro livro de poesia, há 15 anos, mandei-o para um prémio. Ganhei o prémio e o júri teve de abrir o envelope com a identificação para saber de quem era. E nenhum deles acreditou que era meu …. Telefonaram-me todos. “Foste tu que escreveste isto? Fui” E ninguém acreditava. Depois habituaram-se… Poesia para crianças é muito diferente. Tenho 2 livros: Rimas Perfeitas, Imperfeitas e Mais que Perfeitas e A Charada da Bicharada).
Na mesma entrevista, a Alice diz que sempre gostou muito de ler e de escrever. Apesar de todas as suas ocupações, ainda tem tempo para ler e escrever o que quer/gosta?
Não leio tanto como gostaria…. Exatamente porque tenho sempre muitos livros para escrever, e porque vou a escolas quase todas os dias (antes da pandemia, claro). Mas ainda se arranja tempo… Como eu costumo dizer, quem tem muito que fazer tem sempre tempo para tudo; quem não tem nada para fazer é que nunca tem tempo para nada.
“Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades”. Com as novas tecnologias, escreve diferente? Lê diferente?
Claro… Nem sei o que seria de mim sem as novas tecnologias…. Então agora, neste tempo… Mas não gosto de ler grandes textos no computador. Tenho sempre de imprimir. Para mim, os livros são de papel… Uma vez a minha neta mais velha, a Adriana, estava a fazer a mala para ir para Timor durante um mês, fazer voluntariado. E eu vi-aenfiar lá para dentro um kindle. E eu disse: “Ó Adriana, então tu vais ler num kindle?” E ela: “Então diz-me lá, avó, como é que eu levo 100 livros dentro da mala…” Aí tive de me render, claro…
Porque é que os seus livros permanecem intemporais, lidos por várias gerações de crianças, jovens e adultos?
Um bom livro para crianças e jovens é também um bom livro para adultos. E às vezes eu própria, quando acabo de escrever o livro, não sei se é para jovens ou para adultos. Às vezes entrego-o na editora e quando me perguntam se é para jovens ou adultos eu respondo: “Leiam-no e decidam”.
Uma vez o jornal Público decidiu publicar ao fim de semana um livro de um autor português, metade poesia, metade prosa. E eles é que escolhiam. Então publicaram o meu primeiro livro de poesia Dois Corpos Tombando na Água, e na prosa o Às Dez a Porta Fecha. E muitos amigos meus leram e gostaram muito e depois ligaram-me: “Não sabia que também escrevias romances para adultos”. E tinha sido publicado na Caminho como um livro para jovens.
Dos seus livros qual é o seu preferido e porquê?
O meu livro preferido… Isso é que é complicado… Porque se eu não gostasse, não o tinha publicado. Eu sou muito exigente comigo. Às vezes já acabei um livro – depois de o emendar muitas, muitas vezes – releio, e penso “isto não está mal, mas eu era capaz de fazer melhor”. Então deito-o todo fora e recomeço do princípio. E são todos muito diferentes, gosto de um porque me faz rir muito, gosto de outro porque não faz rir nada… E temos sempre tendência para gostarmos mais do último…
O meu último chama-se Diário de um Adolescente na Lisboa de 1910. Deu-me um trabalhão danado, porque aquilo é um diário, e aquilo que escrevo, por exemplo, no dia 8 de Agosto de 1910 passou-se mesmo nesse dia… Mas adorei escrevê-lo
A escritora, que respondeu às perguntas de Nisa através de e-mail, deixou uma mensagem à jovem jornalista. Dizia assim: “Querida Nisa, antes de mais quero dizer-te que fizeste umas boas perguntas, o que nem sempre acontece nestas entrevistas. Gostei muito.”