O que aconteceria se a Lua desaparecesse?
Pergunta feita pela leitora Carolina Ferreira, 14 anos
As noites iriam ficar mais escuras. Mas nas cidades não se notaria muito. Contudo, quem vive em zonas sem luz artificial, fora dos centros urbanos, sentiria muito a falta do luar. Nestes locais as noites ficariam sempre muito escuras.
Essa escuridão afetaria os animais que dependem do luar para caçar e orientarem-se, podendo, em alguns casos, levar à sua extinção. As espécies animais demorariam milhares, milhões de anos a adaptarem-se a esta mudança.
Os eclipses (do Sol e da Lua) que observamos em duas épocas do ano deixariam de existir. Mas isso não traria alterações significativas.
Contrariamente ao que se diz por aí, as marés oceânicas não desapareceriam. Continuaria a haver marés diárias mas seriam mais suaves, pois a força gravítica do Sol produz um “efeito de maré” com metade da intensidade daquela que é provocada pela Lua.
Porém, deixaria de haver marés vivas mensais e equinociais – que acontecem duas vezes por ano, perto de Março e Setembro – quando o Sol, a Terra e a Lua quase se alinham, e a lenta movimentação oceânica no Atlântico Norte atinge as costas portuguesas. Estas marés são ainda mais fortes quando acontece um eclipse. Assim, as marés seriam muito regulares diariamente e mais suaves, atrasando-se apenas 4 minutos por dia, em vez dos 55 minutos que agora temos.
Muitos dos bichos que vivem nas zonas costeiras com marés teriam de se adaptar à nova situação. Mas provavelmente não desapareceriam por causa disso.
O período de translação da Terra ao redor do Sol é de 365,25 dias. Ou seja, num ano solar a Terra roda 365,25 vezes no seu próprio eixo. Devido à força gravítica da Lua na Terra, o movimento de rotação terrestre tem vindo a ser mais lento. Através do estudo dos fósseis de corais sabe-se que há 300 milhões de anos atrás (antes da extinção dos dinossauros), a Terra rodava 400 vezes durante 1 ano. Retirando-se a Lua, esta desaceleração desapareceria e a Terra, na duração de um ano manter-se-ia a rodopiar 365,25 vezes sobre o seu eixo. Ou seja, manter-se-ia a duração do dia para sempre. Mas como felizmente temos Lua, os dias tendem a ser cada vez maiores. Mas só se vai notar daqui a muitos milhões de anos.
Outro efeito físico é a estabilidade da inclinação do eixo terrestre (23,4°), que se tem mantido muito constante por causa da Lua. Se ela desaparecesse, esta inclinação poderia oscilar entre os 0° e os 60°, levando a que a zona congelada na Terra variasse a posição entre a zona polar (como hoje temos) e uma zona mais equatorial. Países como o Brasil e África e ficariam congelados! Obviamente todas as espécies animais (ser humano incluído) teriam de se adaptar a estas lentas mudanças na climatologia planetária e isso demoraria centenas de milhões de anos.
A nível físico seriam estas as principais consequências do desaparecimento da Lua, no entanto, a Lua sempre teve (e terá) uma grande importância a nível cultural e científico.
Por exemplo, todos os calendários foram feitos com base no ciclo das fases lunares: a Lua Cheia permitia viajar à noite com mais segurança e a humanidade contou os 29,5 dias do mês lunar. Daí termos os meses com durações próximas do ciclo lunar. Não havendo Lua não haveria razão alguma para dividir o ano em 12 meses, como agora temos.
Algumas descobertas científicas foram feitas pela observação da Lua e durante os eclipses: a observação por Galileu da existência de “montanhas e vales” na Lua constituiu uma das provas para a aceitação da Teoria Heliocentista – que diz que os planetas, incluindo a Terra, giram à volta Sol.
Também foram as observações astronómicas das estrelas muito próximas do Sol, só possível ver durante um eclipse solar, que permitiram comprovar a Teoria Geral da Relatividade – que descreve como é que as estrelas, os planetas e todos os corpos celestes se organizam no espaço, ou seja, no Universo.
Os 400 kg de rochas lunares trazidas pelos astronautas das missões Appolo (NASA) permitiram perceber a idade do sistema solar e da própria Lua.
Para além de tudo isto, a Lua também tem servido de inspiração para a poesia, literatura e conquista espacial. E continuará sempre ligada à Terra e poderemos desfrutar da sua presença o resto dos nossos dias.
Gostavas de saber mais sobre planetas, estrelas, constelações, viagens ao espaço, astronautas, enfim, tudo o que tem a ver com o Universo onde vivemos?
Escreve as tuas perguntas e envia um e-mail para vjunior@impresa.pt. Serão respondidas por investigadores do Instituto de Astrofísica e Ciências do Espaço e publicadas aqui, no site
Resposta de Rui Agostinho do Instituto de Astrofísica e Ciências do Espaço