Dom Anrique
Rua dos Fogos 13
131313 Inferno
Inferno, 11 de Novembro de 1571
Ex.mº Senhor Pai Nosso Que Estais Nos Céus,
Presidente da Residência conhecida como Paraíso
Dom Anrique, fidalgo português, vem apresentar reclamações sobre um dos Vossos subordinados:
Quando expirei e me encontrei no cais das duas barcas, um dos Vossos ajudantes tratou-me com um desrespeito muito imerecido, além de que me recusou uma entrada na barca que conduzia à salvação.
Começara por me dirigir ao Arrais do Inferno, por desconhecer por completo de quem se tratava, e perguntei-lhe para onde sua barca ia. Tendo ele respondido que conduzia ao Inferno, dirigi-me de imediato, com o meu simples pagem atrás, à barca conduzida pelo Vosso subordinado. Muito eduacadamente e utilizando todas as regras de cortezia, solicitei-lhe entrada na sua barca. Ele, contudo, recusou o pedido da Minha Senhoria, acusando-me de nunca Vos ter sido fiel, eu, que todos os domingos ia à missa e rezava, e utilizou palavras impensavelmente mal educadas e irónicas, que nunca devem ser dirigidas a alguém do meu elevado estatuto.
É pelo facto de o Anjo não saber respeitar os fidalgos que estou agora encarcerado num local sem-sabor, no qual tenho de aturar torturas desagradáveis diariamente, e com residentes muito mal-educados, o que é muito humilhante e desonrante.
Visto o Senhor ser incapaz de me libertar deste lugar (segundo o que me disseram os meus carrascos), solicito-Vos que, ao menos, puna o Anjo responsável com as medidas que considerar adequadas.
Respeitosa e submissamente,
Dom Anrique