Era uma linda sexta-feira. As férias ainda estavam a começar e, na minha casa, como era habitual, reinava uma alegre confusão.
– Vá lá meninos, despachem-se! – Disse a mãe.
– Mas mãe, nós já dissémos que não queremos ir para o parque! – Respondi.
– Mas vocês sempre gostaram tanto de brincar lá…e além disso já chega de vos ver à volta dos i-pads e coisas do género. Por isso, agora vamos!
A razão pela qual eu não queria ir ao parque, era porque eu tinha uma coisinha a esconder…
É que, uma vez eu tinha levado uma águia ferida para casa, cuidei dela e queria que ela ficasse comigo. Mas, quando ela recuperou dos ferimentos, os meus pais não a quiseram mais lá em casa e tive de a levar de volta ao parque.
Então, um dia, às escondidas de todos, montei-lhe lá uma casa e coloquei-lhe uma placa com o meu nome. Era a minha águia secreta!
Bem, lá fomos para o parque. Assim que chegámos, meti-me por entre as árvores e fui ter com a minha amiga, antes que ela, ao dar pela minha presença, soltasse um grito de alegria e todos se apercebessem.
– Ah! Que bem que se está aqui. Que silêncio! – disse a minha mãe. Mas isso era porque eu estava a segurar o bico da águia, impedindo-a de chamar a atenção…
– Querida, sabes onde está o João?
– Sim, está com o seu pássaro. – Respondeu a minha irmã Maria, que não tem papas na língua.
– Com o seu pássaro?- perguntou a minha mãe admirada.
– Vem comigo, que eu mostro-te. – Disse ela.
E não é que o fez mesmo?! Ora a minha mãe não gostou nada da surpresa e tivémos de voltar para casa. Ela achava que a águia era um animal perigoso e que um dia ainda havia de me magoar.
Ela não compreendia que aquela ave era mesmo especial para mim. Eu não tinha contado a ninguém que, depois de eu a ter ajudado, ela se tinha tornado a minha guardiã e que, uma vez, me salvou a vida. Foi num dia em que, sem os meus pais repararem, eu tinha ido procurar paus para brincar com os meus amigos. Era outono e o chão estava coberto de folhas. Então, saltei para cima de um monte de folhas, escorreguei e caí num precipício. Quando quase me estatelava contra uma rocha e achava mesmo que ia morrer, senti uma pata no meu ombro, que me agarrava na camisola com força. Era a minha amiga águia, que me levantou e levou de novo até ao cimo do monte.
Mas não pensem que foi só o que ela fez por mim que a tornou especial. É que, logo quando a vi, percebi que tinha ali uma amiga para sempre. Aquela ave era um sonho tornado realidade, era especial, era como uma nova esperança.
Eu acho que ela também sentiu o mesmo, porque ela também me olhou de uma maneira especial. Conseguíamos comunicar! Parecia que ela tinha um olhar de pessoa. Foi então que percebi que ela era uma ave de outro mundo!
Depois deste acontecimento, nós tornámo-nos inseparáveis, mas o grande problema era que a minha mãe continua a desconfiar muito do “pássaro”, como ela dizia.
Nós sabíamos que tínhamos de a conquistar a minha mãe e, por isso, um dia decidimos fazer-lhe uma surpresa. Quando ela chegou do trabalho, eu chamei-a e disse-lhe:
– Ó mãe, vem cá, por favor!
A surpresa estava em cima da mesa. Era um bolo que eu e a minha amiga águia tínhamos feito para ela!
– Ó João, está lindo e muito apetitoso! Acho que vocês os dois merecem uma oportunidade. Sabes que mais, se vocês amanhã também me ajudarem a limpar a casa, ficamos com o teu pássaro!
E assim foi. Transferimos a sua casa do parque para o meu jardim e ela passou a viver connosco.
Um dia, cheio de curiosidade, peguei no i-pad da minha mãe, para ver se descobria na internet qual era a espécie a que ela pertencia. Enquanto isso, lembrei-me da imagem de uma fénix, daquelas que aparecem nos contos, e escrevi rapidamente o termo de pesquisa “fénix”. Vi então umas imagens de aves iguais à minha águia! Não queria acreditar! Fui logo à Wikipédia, onde li uns artigos sobre aquele animal fantástico.
Foi então que descobri uma coisa assustadora: que se uma fénix ficar três dias sem contacto com o fogo, ela poderá morrer ao fim de mais três dias. Eu fiquei muito preocupado e contei isto à minha família. Enquanto todos nos perguntávamos o que é que devíamos fazer, surgiu-me uma ideia:
– Espera lá, se ela não é deste mundo deve ter vindo de uma nave espacial ou alguma coisa parecida. Seja o que for, deve estar algures no sítio onde nos conhecemos!
Então, fomos todos depressa para o parque e vasculhámos, vasculhámos, até que encontrámos a sua nave e a metemos lá dentro muito depressa, para evitar que morresse.
A nave lá partiu e foi difícil acreditar naquele adeus. Mas aquilo não era um fim. Era antes um princípio, o começo de um novo tesouro, pois ela, antes de partir, pôs um ovo, do qual nasceu nova vida, uma nova esperança, uma nova fénix!
Fiquei sem o meu animal de estimação. Mas no futuro, conforme diz uma carta que me foi enviada de lá, de onde ela está, ela voltará quando tiver 74 anos para me visitar.
Fim!
João Espírito Santo Azevedo
4º ano – Escola Europeia de Munique