Foi nas instalações da produtora onde é gravada a novela da SIC Sol de Inverno que a Beatriz, a Mariana e a Marta conheceram a atriz Victoria Guerra. Com as três enviadas especiais nervosas por irem falar com a sua atriz preferida, a entrevista começou às 9 da manhã. De roupão azul e cabelo apanhado, Victoria conversou com as repórteres enquanto esperava que a chamassem para gravar uma cena com a atriz Rita Blanco.
Aos 24 anos, Victoria dá corpo a Matilde, uma jovem que vive um intenso amor com Salvador, um dos filhos da maior rival da sua mãe. O argumento não é nada parecido com a “vida real” de Victoria. Nascida em Loulé, no Algarve, aos 15 anos a atriz veio morar para Lisboa, onde estudou Jornalismo, mas deixou a escola dois anos mais tarde, para participar na série Morangos Com Açúcar. A partir de então entrou em muitas novelas (Fascínios, Flor do Mar, Mar de Paixão, Dancin’ Days), e fez também um filme, Linhas de Wellington. Já este ano recebeu o Globo de Ouro Revelação, pensado para premiar os jovens que começaram a trabalhar há pouco tempo.
Nasceste em Loulé e vieste morar em Lisboa. Como foi sair de casa tão nova, aos 15 anos?
Foi uma experiência muito engraçada. Queria muito vir para Lisboa estudar Jornalismo e sair do Algarve só foi possível com a ajuda dos meus pais. Eles vieram comigo, primeiro procurámos escolas, depois um sítio para eu morar. Fiquei a viver numa residência de freiras.
Como foi viver numa residência de freiras?
Era uma casa familiar, com raparigas dos 9 aos 24 anos, onde durante dois anos partilhei o quarto com outras pessoas. Até hoje, uma das minhas melhores amigas é uma dessas raparigas. Depois ainda chegámos a morar juntas num apartamento. Ela agora voltou para Angola mas sempre que vem cá estamos juntas, já faz parte da família.
Lembras-te do primeiro dia de aulas?
Adormeci, estava habituada a que os meus pais me acordassem… Fiquei tão triste que chorei durante duas horas e nem consegui ir às aulas. Sentia tantas saudades da minha mãe… O meu pai estava cá comigo e disse-me: “Se mudares de ideias nós estamos em casa à tua espera.” Mas correu muito bem e acabei por ficar.Como percebeste que querias ser atriz?
Sempre gostei muito de cinema e televisão, mas achava que ser atriz era algo muito estranho e muito difícil, então nunca tentei. E quando comecei, aos 17 anos, a fazer os Morangos Com Açúcar adorei.
Como foste escolhida?
Fui a um casting na Casa do Artista com um grupo de amigos. Na altura, estava a estudar Jornalismo e uma colega de turma quis fazer uma reportagem sobre o casting como trabalho para uma disciplina.
Para se ser atriz achas necessário tirar um curso ou basta ter jeito?
Boa pergunta. Acho sinceramente que as duas coisas se complementam. Não basta ir à escola – podes estudar muito, mas se não tiveres esse jeito de que falas não consegues pôr em prática aquilo que aprendeste. Por outro lado, também podes estar a trabalhar uma vida inteira e faltarem-te muitas bases que a escola ensina. Na escola podes errar; quando se começa a trabalhar não se pode fazer uma coisa mal, se não é-se julgado. Sinto falta da escola e daqui a uns anos, provavelmente, hei de estudar.
Como estão a correr as gravações da novela Sol de Inverno?
Muito bem, estou a adorar! Tenho a melhor “família” do mundo e é muito giro interpretar esta personagem, sempre com tantos problemas para resolver. É uma rapariga tão boa, que sabe aquilo que quer e tem sempre de estar a lutar contra a família dela, contra a família do namorado. A Matilde não tem uma vida fácil.
Identificas-te com alguma das personagens que já desempenhaste?
Todas têm pormenores que não faziam parte de mim mas que depois eu acabo por assimilar. Passo mais horas como Matilde do que como Victoria. Torna-se confuso e sou um pouco Matilde em casa. Estou a gostar muito de interpretar a Matilde, é diferente de tudo o que eu vivi. É uma personagem que me obriga a trabalhar muito as emoções.
Quais são os tipos de cena mais difíceis de representar: as de amor, as de tristeza ou as discussões?
Há cenas de amor muito difíceis porque estás rabugenta naquele dia e não te apetece. As discussões também são difíceis porque têm muito ritmo e basta esquecer uma palavra para se ter de interromper a cena, e ter de a voltar a gravar. Às vezes sai-se muito triste porque se leva a cena muito a sério. Neste momento, as cenas de choro estão a ser muito complicadas para mim; a Matilde chora muito e há dias em que não consigo chegar lá.
O que significa para ti representar?
É a verdade. É pegar em situações e torná-las o mais reais possível. É criar momentos reais e mágicos.
Quais as diferenças entre participar numa novela e num filme?
Em televisão gravamos 30 ou mais cenas por dia, em cinema apenas três, no máximo. O tempo de preparação é diferente. A novela vai sendo escrita enquanto é gravada. Quando interpretei a Vera, em Dancin’ Days, não fazia ideia de que ela iria entrar no mundo da droga, só a meio é que soube. Tive de pensar o que levava a minha personagem por aquele caminho. Num filme, recebe-se o guião e sabe-se de antemão tudo o que se vai fazer. Trabalhamos com um texto fechado (sabe-se o início e o fim da história). Liga-se mais aos pormenores, é mais subtil. O cinema é mágico.
Lidas bem com a fama?
Temos de nos lembrar que não estamos a salvar vidas, não somos médicos, não fazemos nada muito importante. Para mim é o mais importante do mundo, mas a verdade é que amanhã posso não estar a fazer isto e as pessoas vão esquecer-se de mim.
Como te sentiste ao receber, em maio, o Globo de Ouro Revelação?
Assustada, não estava nada à espera. Mais tarde, quando pensei no assunto, percebi que as pessoas em casa gostam do meu trabalho. Mas foi um choque. Não sentia que tivesse feito algo surpreendente naquele ano.
O prémio mudou alguma coisa?
Não sinto que tenham surgido mais trabalhos depois de o receber. Tudo o que estou a fazer já estava planeado antes.
Há alguma personagem especial que gostasses de interpretar?
Muitas! Adorava experimentar interpretar uma personagem cómica, ou que não tivesse nada de bom, que fosse horrível, porque até agora fiz sempre personagens muito boas.
NATAL INGLÊS
Filha de mãe britânica e pai português, Victoria mantém no seu dia-a-dia alguns rituais very british. Bebe sempre chá preto forte com leite ao pequeno-almoço. No Natal abre as prendas de manhã, come peru e bolos ingleses e usa uma coroa de papel na cabeça durante o almoço de dia 25
TRUQUES PARA UM ATOR CHORAR
-Ir para um cantinho pensar em coisas tristes
-Há um “bâton de choro”, mas magoa os olhos
-Secar os cantos dos olhos para ficar com o olhar emocionado