Ainda estudou Engenharia Mecânica, mas não era nada daquilo que queria para a sua vida.
Passos em volta permanente de “fórmulas e previsões” causavam urticária ao portuense Nuno Pereira, hoje com 27 anos. Procurou um caminho alternativo e uma conjugação feliz aconteceu: ao seu desejo de ser designer, em que se licenciou, aliou-se a descoberta do downhill.
Em janeiro de 2010, fez a sua estreia clandestina, para tirar a limpo que jeito podia ter na coisa. Chegou à descida da Minhoteira, em Oliveira de Azeméis, com um skate que desenhara. “Não sabia o que me esperava, se o skate iria funcionar”, recorda Nuno. Pôs o capacete e arrancou. No fim, lembra-se bem da “sensação fantástica” que lhe percorreu a mente e o corpo. Quase dois anos depois, em novembro de 2011, Nuno Pereira disputava a sua primeira corrida internacional, único português (como sempre acontece desde aí) entre as duas centenas de participantes na Malarrara Pro Teutônia, no Rio Grande do Sul, Brasil. Sentiu-se a “entrar noutra dimensão “, enquanto rolava a 110 km/hora no seu skate de marca própria, o Downhill Machine, numa estrada com 26% de inclinação e curvas estreitíssimas. E não foi nada mau o 65.° lugar que obteve no final.
Tínhamos skater para a disciplina mais perigosa da modalidade. Nuno leva muito a sério a competição em downhill: cuida do físico, segue uma dieta rigorosa. Por isso, conseguiu o patrocínio de uma conhecida marca de vinho do Porto. E, no início deste mês, conquistou a sua melhor classificação até agora 34.° lugar na prova Peyragudes Never Dies, em França, entre 120 participantes e numa corrida com uma inclinação de 12 por cento.
Nuno há de ter festejado, e muito, com a mascote que o acompanha para todo o lado, o Flet Eric. É um boneco amarelo, uma espécie de urso-cão sem orelhas, mas com braços e duas pernas. No Facebook do racer, o Flet Eric surge profusamente fotografado, ora a comer um gelado ora sentado numa cadeira de uma sala de espera de um aeroporto, de perna cruzada e casaco escuro fashion. Descontração, acima de tudo.
Empurraozinho aqui, rasteira ali…
Para Nuno, o circuito internacional de downhill já não tem segredos. De adversários, vai fazendo amigos para a vida brasileiros, americanos, checos, alemães… Em corrida, nos dois ou três quilómetros da descida, um empurrãozinho aqui ou uma pequena rasteira ali nada estragam. Nem sequer uma perna engessada, que Nuno já teve.
Em paralelo, é um dos fundadores da Powa, uma empresa de skates com sede em Gaia. Há cerca de um ano, ele e os seus sócios saíram-se com uma ideia inovadora, um skate desenvolvido para funcionar como aparelho de Fisioterapia para atletas de alta competição. Com um sistema de elásticos, o equipamento ajuda a recuperar de lesões nos pés e tornozelos, sobretudo.
Nuno Pereira vive com a avó materna, Rosa, de 79 anos, o seu maior apoio. Mostralhe vídeos das corridas, que a senhora segue com atenção. Sempre que entra em casa, vindo de uma prova, a avó pergunta-lhe logo: “Ganhaste?” A sorrir, o neto responde-lhe que não. Mas acredita que lá chegará.
Datas-chave
NOVEMBRO DE 2011
Nuno Pereira entra na sua primeira corrida internacional, a Malarrara Pro Teutônia, no Rio Grande do Sul, Brasil Participantes: 200
Lugar obtido: 65.º
Percentagem de inclinação da descida: 26%
Velocidade média: 110 km/hora
JUNHO DE 2014
Meryhill Festival of Speed, em Goldendale, EUA
Participantes: 240
Lugar obtido: 59.º
Percentagem de inclinação: 9%
Velocidade média: 80 km/hora
AGOSTO DE 2014
Peyragudes Never Dies, em França
Participantes: 120
Lugar obtido: 34.°
Percentagem de inclinação: 12%
Velocidade média: 100 km/hora