A queima de combustíveis fósseis – o carvão e o gás para produzir eletricidade, e a gasolina e o gasóleo para fazer andar os carros, por exemplo – está a tornar o planeta um sítio mais difícil para todos nós vivermos. A explicação é simples: este tipo de poluição emite gases, como dióxido de carbono (CO2), que provocam o chamado «efeito de estufa».
Isso faz com que o clima fique mais quente. Na melhor das hipóteses, durante este século, a temperatura do ar vai aquecer 2ºC, mas pode mesmo ficar 4ºC mais quente ou até mais. Tudo depende de como nos comportamos ao longo dos próximos anos.
«E que mal faz um calorzinho?», pensas tu, enquanto tiritas de frio ao brincar no recreio da escola, em pleno inverno. Pois, mas o problema não é o calorzinho. A verdade é que uma pequena alteração na temperatura média leva a grandes mudanças climáticas – o clima é um bicho muito, muito sensível; quando lhe picam com um pau, ele vira-se e dá uma daquelas dentadas capazes de arrancar dedos.
Quando tiveres mais ou menos a idade dos teus pais, e a Terra estiver uns 2ºC mais quente do que hoje, Lisboa vai ter um clima parecido com o de Casablanca, em Marrocos, no Norte de África, e o Porto estará como Caracas, a capital da Venezuela, na América do Sul.
O mar terá subido uns 30 centímetros (o calor faz derreter o gelo dos glaciares e das calotes polares, além de que a água quente ocupa mais espaço do que a fria) e, portanto, algumas das tuas praias favoritas vão estar muito, muito mais pequenas – isto se não tiverem desaparecido já.
Também boa parte de Portugal, sobretudo o Alentejo e o Algarve, vai ter anos seguidos de seca. Não te admires se, nessa altura, houver limites ao uso da água. Imagina que, por causa da falta de chuva, o governo tem de cortar o abastecimento de água canalizada, dia sim, dia não ou durante meio dia. Tu e a tua família não vão poder tomar banho e lavar os dentes quando desejarem e terão de ter água guardada em baldes para uma emergência…
E prepara-te: até a comida será mais cara. Devido à seca e ao calor, a produção agrícola será menor. Haverá menos cereais, vegetais e carne a chegarem aos supermercados. Ao existirem menos produtos, estes aumentam de preço (uma regra chamada «lei da oferta e da procura»).
E as outras espécies?
Mas isto não é só sobre a espécie humana. As alterações climáticas – que estão a ser apelidadas de «emergência climática», tal é a gravidade do problema – vão afetar ainda mais as outras espécies que partilham o planeta connosco.
Os primeiros a desaparecer, dizem os cientistas, são os corais, especialmente frágeis (não ajuda nada que o oceano absorva CO2, e que o CO2 torne as águas mais ácidas, coisa de que os corais não gostam). Pior do que isso: há todo um mar (por assim dizer…) de peixes que vivem nos corais e que estarão condenados se estes desaparecerem. Da mesma forma que os tigres não sobrevivem sem florestas para se esconderem e caçarem, o peixe-palhaço (lembras-te do Nemo?) precisa dos corais para ter casa. E há muitos mais animais que estão em perigo de extinção por causa das mudanças climáticas.
Os ursos-polares, os maiores predadores terrestres, são o símbolo desta ameaça que paira sobre os animais. Eles precisam de plataformas de gelo flutuantes para caçarem focas, que é o seu único alimento. Hoje, nadam de pouso para pouso, em busca de comida, mas, apesar de serem excelentes nadadores, há cada vez menos gelo e muitos acabam por se cansar e se afogar ou morrer de fome.
Tal como o seu predador, o urso-polar, a foca-anelada precisa de plataformas de gelo marinho para viver. É aqui que descansam e que têm as crias. Com o gelo do mar a desaparecer, desaparecem também as focas
As diferentes espécies de tartarugas que vivem no mar estão em risco por diferentes razões, todas relacionadas com o clima. Uma das mais estranhas é que as areias (onde estes répteis põem os ovos) mais quentes fazem com que nasçam mais tartarugas fêmeas. E sem machos não há reprodução…
Este texto foi originalmente publicado na edição nº 188 da VISÃO Júnior