«O que é que nos queremos? Mudar enquanto podemos! Mudar porquê? Não há planeta B!» começou por ouvir-se na Praça Luís de Camões, no centro de Lisboa. O relógio marcava 10 e meia da manhã quando começou o barulho, já a praça estava cheia. Inês Corim, Edro Teixeira, Mariana Silvestre e Tomás Santos são alunos do 11º ano da Escola Secundária de Santa Maria, na Portela de Sintra, e explicam que estão a faltar às aulas porque lutar pela saúde do planeta também é um dever. «As coisas já não estão bem como estão, convém não agravar mais. É o nosso dever, o mundo é nosso e nós é que vamos continuar. É preciso agir enquanto temos tempo».
É a primeira vez que se manifestam pelo clima e a causa deixa-os emocionados. «Não podemos ter medo de ser julgados por nos manifestarmos por algo que a muitas pessoas não diz nada. Daqui a uns anos vai ser uma questão de qualidade de vida», explica Inês Corim, que é vegan há dois anos e meio – tem agora 16 – porque quer fazer a diferença. Mas sabe que, «neste momento, as pequenas coisas já não fazem diferença a nível individual. Mas deixa de ser uma pequena diferença se for feita à grande escala. Se milhões de pessoas deixarem de comer carne ou peixe uma vez por semana, faz a diferença».
Para estes estudantes de Sintra, o uso de combustíveis fósseis e plásticos, a alta produção de gado e a poluição em massa são os principais problemas. Organizados através das redes sociais, o apelo à greve estudantil chegou a crianças e jovens de todas as idades. Dando uma volta pela Praça Luís de Camões, viam-se jovens adultos, adolescentes, mas também crianças mais novas.
Manuel Oliveira, 11 anos, veio com a mãe, Sara Oliveira. «Estava agora a explicar-lhe porque é que se faz um apelo aos políticos. Todos os governantes, de um modo geral, têm que se preocupar com esta situação. Há muitos anos que se fala das alterações climáticas e os governos não são ativos». Foi o Manuel quem quis vir, e a mãe, além de o acompanhar, também justificou a sua falta na escola.
Nas faixas ou cartazes, o apelo à classe política era claro: «Marcelo, abraça o ambiente!»; «O clima a aquecer, os políticos estão a ver!»; «Oh Costa, a poluição chegou à costa», «Menos conversa, mais ação» eram algumas das palavras de ordem pintadas em cartazes feitos com papel reutilizado.
A Calçada do Combro já estava cheia de estudantes que rumavam à Assembleia, quando falámos com Marta Santos, aluna da Faculdade de Belas Artes. Levava, no seu cartaz, a frase: «Até vim de camisa para ver se me levam a sério». Porquê? «Peguei na camisa de manhã e lembrei-me que todos os políticos usam camisa. Se calhar precisamos de andar vestidos como eles para sermos ouvidos». Fez o cartaz hoje, mas decidiu participar há um mês. Foi através das páginas ativistas onde ficou a saber da manifestação e já conhecia Greta Thunberg, a menina sueca que começou sozinha a greve estudantil pelo clima que hoje chegou a 123 países.
À chegada à Assembleia da República, um polícia comentava: «No Largo do Camões estavam mais ou menos 500 pessoas, agora já devem estar umas cinco mil. Quero ver quantos camiões vão ser precisos para limpar o lixo». Mas o descrédito nos mais novos – que no manifesto publicado no evento do facebook pediam cuidado com o lixo e com as beatas – não chegou a todos.
André Silva, deputado do PAN (Partido Pessoas-Animais-Natureza), foi o primeiro a vir falar com os manifestantes. «Obrigada pelo vosso apoio e por esta manifestação. É importante dar sinais ao poder político e aos deputados que de facto é urgente pensar nesta causa. A continuar com esta forma de explorar o planeta, não temos futuro, vocês não têm futuro». «Há que respeitar o ambiente e só depois a economia», respondeu Tomás Barrada, que faz parte da Associação de Estudantes da Escola Secundária de Linda-a-Velha, em Oeiras, como quem questiona. O deputado do PAN concordou. Também Catarina Martins e Mariana Mortágua, do Bloco de Esquerda, se juntaram à manifestação e ouviram os estudantes e os seus protestos.
«Esta ligação com a geração mais velha é importante porque são eles que conseguem criar as leis que pretendemos para salvaguardar o nosso futuro. Por isso é que estamos aqui, porque precisamos do apoio dos senhores deputados para fazer cumprir as metas do acordo de Paris, independentemente dos interesses económicos», diz à VISÃO Júnior o aluno de Linda-a-Velha.
Uma das amigas interrompe a conversa: «A Greta, com o pouco que tinha, só a sua voz, tentou alcançar o máximo de pessoas possível. Pelos vistos conseguiu, já que é por isso que nós estamos aqui». Se ficaste curioso, vê mais fotografias da manifestação estudantil pelo clima de 15 de março aqui.