Na quarta-feira, em cerca de 850 escolas portuguesas, viveu-se uma azáfama muito especial. Na biblioteca ou na sala de aulas, houve uma urna em cima de uma mesa, com papelinhos ao lado. Os alunos tinham na mão os cadernos de turma, e iam fazendo uma cruz no nome dos seus colegas que iam votando. São as eleições de ‘Miúdos a Votos: quais os livros mais fixes?’, uma iniciativa da VISÃO Júnior e da Rede de Bibliotecas Escolares que se realiza este ano pela sexta vez.
Não haveria melhor maneira de comemorar a passagem da ditadura para a democracia em Portugal: no dia seguinte, 24 de março, o nosso país passou a viver mais dias em democracia do que em ditadura e arrancaram as comemorações dos 50 anos do 25 de Abril, ou seja, da revolução que pôs fim à ditadura.
Em ditadura, nunca poderia haver ‘Miúdos a Votos’, pois este projeto inclui duas coisas de que os ditadores não gostam muito: livros e cidadania. Antes do 25 de Abril, havia censura: nem todos os livros podiam ser publicados em Portugal. As pessoas não podiam expressar livremente a sua opinião, o que quer dizer que nunca seria possível fazer campanha eleitoral. Além disso, não eram permitidos todos os partidos políticos, o que, transportando isso para ‘Miúdos a Votos’, quer dizer que só haveria um único livro a votos…
Eis fotos da forma como votação decorreu em algumas escolas
Mais de 28 mil alunos envolvidos na primeira fase
‘Miúdos a Votos: quais os livros mais fixes?’ é uma iniciativa aberta a todas as escolas, públicas ou privadas, em Portugal ou no estrangeiro, que tenham alunos entre o 1º e o 12º anos. Replica todas as fases de umas eleições políticas (recenseamento, apresentação de candidaturas, campanha eleitoral, votação e escrutínio), permitindo aos alunos ficarem a conhecer por dentro como se organizam e para que servem umas eleições. São os alunos o motor e o centro desta iniciativa, pensada para lhes dar voz.
Na primeira fase, em que os alunos podem propor qualquer livro como candidato a estas eleições (fosse ele prosa, poesia, banda desenhada, etc.), participaram 28 962 alunos. Foram propostos mais de 5 mil títulos diferentes, de perto de dois mil autores! Tal como um candidato à presidência da República tem de apresentar um número mínino de assinaturas, o mesmo se passa em ‘Miúdos a Votos’ com os livros. Apura-se uma lista de candidatos por cada ciclo de ensino.
Foram a votos, em mais de 850 escolas em todo o país (e algumas em França e Angola), 59 livros diferentes.
‘Miúdos a Votos’ conta com o apoio da Comissão Nacional de Eleições, Plano Nacional de Leitura 2027, Pordata (responsável pelo apuramento dos resultados) e Rádio Miúdos (transmite os tempos de antena de rádio). Conta ainda com o patrocínio da editora Booksmile.
Durante a campanha eleitoral, que decorreu até segunda-feira, os alunos construíram materiais de propaganda para a campanha eleitoral, gravaram tempos de antena de rádio, produziram filmes, organizaram comícios e arruadas, criaram canções, peças de teatro, vídeos, esculturas – tudo o que a sua imaginação lhes permitiu. Muitos dos trabalhos foram desenvolvidos no âmbito das disciplinas de Português e de Cidadania, mas também de Inglês ou de Filosofia, ou de Educação Musical ou Educação Visual, trabalhando os professores em articulação uns com os outros.
Como diz um aluno do 2º ano da Escola Básica Pedro Himalaya, em Arcos de Valdevez, num dos vídeos que gravou para a campanha eleitoral na sua escola, «nós já vencemos, porque nos divertimos e aprendemos!»
Cartazes de livros , feitos por alunos
Eis alguns das muitas centenas de cartazes que os alunos foram criando para a campanha eleitoral de ‘Miúdos a Votos’