Gritam a plenos pulmões: “Ye, Ye, Ye, A girafa que comia estrelas é que é!”. ou “Cuquedo é fixe!”. ou. ainda, “Vota Trincas!” Nas mãos trazem cartazes e bandeiras que desenharam, pintaram, colaram e que mostram quais os seus livros favoritos. A campanha eleitoral de ‘Miúdos a Votos’ está ao rubro na EB1-JI e Creche Aprígio Gomes, na Amadora, e não deixa ninguém indiferente.
“Eu gosto das arruadas. São muito divertidas!”, diz Pedro Amorim, 9 anos, aluno do 4.º D. Empunha uma enorme flor, feita em madeira e papel Eva, e com a ajuda dos colegas Lourenço Bernardino, também de 9 anos, e de Beatriz Monteiro, de 10, distribui pelos colegas de outras turmas marcadores de livros em forma de flor. Consegues adivinhar o livro que escolheram defender?! Exatamente: A Maior Flor do Mundo, de José Saramago. “É uma história muito bonita, faz-nos pensar”, diz Laura Veríssimo, da mesma turma. Segundos depois de dizer esta frase, Laura corre disparada para ir ter com os colegas que continuam alinhados, entre risos e gargalhadas, a fazerem a sua arruada.
As várias turmas fazem arruadas em diferentes partes do recreio da escola e gritam intenções de voto pelos corredores. Das 18 turmas de 1.º Ciclo desta escola, há 12 a participar na campanha eleitoral, ou seja, estão muitas crianças (e professores) envolvidos nesta iniciativa da VISÃO Júnior e da Rede de Bibliotecas Escolares. “É a primeira vez que a escola participa e tem sido incrível ver o empenhamento das crianças com os livros e com a campanha. Começamos devagarinho e agora tudo ganhou uma proporção gigante”, explica Elvira Silva, professora bibliotecária da escola e uma das responsáveis por pôr toda a gente a falar de livros, a lê-los e a pensar votar neles.
Cartazes pelos corredores
Não é só nos recreios que a campanha eleitoral se faz sentir. Mal se entra no portão da Aprígio Gomes, começam logo a ver-se cartazes. Um pouco por todo o lado, dos corredores às escadarias, passando pelos placards das paredes, há centenas de folhas e cartolinas onde se leem várias palavras de ordem: “Votem em Não abras este livro. Dá muito suspense!” “O Monstro das Cores é o melhor livro!”, “Gravity Falls é que é!” “Votem no Cuquedo se quiserem rir…”
“É muito giro participar. Podemos escolher o nosso livro preferido, conhecer mais livros e ajudar outras crianças a pensar nos livros. Mas não se pode obrigar ninguém a votar. O voto é livre”, diz, muito sério, Gonçalo Gibão, 8 anos, aluno do 3.º D. Gonçalo, tal como os amigos Miguel Rodrigues e Julieta Bengala, ambos da mesma turma e idade, foram a outras salas fazer apresentações sobre Gravity Falls – Diário 3, de Alex Hirsh. “Falamos dos vários portais que existem nestes livros e explicamos, por exemplo, que a personagem Stanford tem seis dedos”, recorda o Miguel.
A turma do 1.º E foi uma das que recebeu esta visita. “Foi fixe, mas eu vou votar na Girafa que comia estrelas [de José Eduardo Agualusa]. Gosto muito desta história”, afirma Tomás Ribeiro, de 6 anos. A colega Lara Teixeira, da mesma idade, durante a visita da VISÃO Júnior, apercebe-se de que a 23 de março – o dia das eleições – não vai estar na escola (tem uma viagem já marcada) e por isso não vai poder votar. Quase a chorar, Lara conversa com a professora bibliotecária. “Não há problema algum! Tal como nas eleições dos adultos, poderemos fazer uma votação antecipada”, explica a professora Elvira. E Lara volta para o lugar mais feliz.
Bananas pelo ‘Diário de um Banana’
Estão (quase) todos vestidos de amarelo e na mão têm bananas verdadeiras. “Nós adoramos O Diário de um banana e, como se pode ver, ‘vestimos a camisola’. Tínhamos que escolhê-lo para fazermos a campanha e tentarmos que seja eleito”, explica Gabriel Garrido, 10 anos, aluno do 4.º C. A colega Eva Reis, 9, mostra os marcadores feitos em cartão – em forma de banana – que têm distribuído um pouco por toda a escola: “Ao longo de várias quintas feiras temos feito diversos materiais, cartazes, marcadores, posters… Tudo para ver se O Diário de um Banana ganha!”
Também o 2.º F tem ‘lutado’ pelos seus livros. Escolheram defender três: O Monstro das Cores, O Cuquedo e Não abras este livro. Também eles fizeram marcadores onde se pode ler, por exemplo, “Vota Não abras este livro e farás um amigo!” “Achamos que era uma maneira boa de divulgar as nossas escolhas”, conta a professora da turma, Ana Cristina Farinha. “É ‘muita’ giro fazer a campanha e irmos gritar pelos livros”, diz André Rodrigues, 7 anos. O colega Manuel Cristóvão, do 2.º F, acrescenta que é bom participar porque “assim conhecemos mais livros e podemos treinar a nossa leitura”.
E tu, já sabes em que história vais votar? Quais serão os livros vencedores desta campanha? A professora Helena Ribeiro, do 4.º C, não tem muitas dúvidas: “O grande vencedor de Miúdos a Votos é a leitura!”
Quem ‘descobriu’ Miúdos a Votos?
Maria João Lopes, 7 anos, estava no carro à espera da mãe que tinha ido pagar o combustível numa bomba de gasolina. Quando a mãe voltou, entregou-lhe um exemplar da VISÃO Júnior onde se falava de ‘Miúdos a Votos’. Maria João, que é aluna do 2.º C, começou a ler e a entusiasmar-se. Tinha que levar a revista para a escola e convencer a sua professora – Mónica Fernandes – a participar. Assim fez.
Foi a primeira página deste ‘livro’ que agora toda a escola está a escrever. A professora falou então com a professora bibliotecária e num verdadeiro trabalho de equipa mobilizou-se toda a escola. Maria João confessa que assistir e participar na campanha – no dia das eleições ela vai estar a ajudar a distribuir os boletins de voto – a deixa “mesmo feliz”! E, com um sorriso, acrescenta: “Para o ano há mais!”
No dia das eleições
Vinte e três de março, a próxima quarta-feira, é a data marcada para as eleições de ‘Miúdos a Votos’. “Normalmente as crianças não votam em nada e eu não acho que isso seja justo. Estou entusiasmado com estas eleições. Quero muito votar”, diz Duarte Martins, 8 anos, aluno do 3.º D. A colega da mesma turma Isabel Landeiro acrescenta que “votar é bom porque ajuda a decidir as coisas”.
Crianças de todo o país, de mais de 850 escolas, vão votar e encontrar os melhores livros nas categorias de 1.º, 2.º, 3.º Ciclos e Secundário. Também Tiago Merca, de 9 anos, diz “gostar das eleições” e acrescenta: “Gosto de dar a minha opinião. Dá-me liberdade!”
Nesta escola, no dia 23, todos os alunos irão – em horários específicos – votar. As urnas e as mesas de voto vão estar na Biblioteca. A controlar quem já votou estarão os alunos do 3.º e do 4.º ano e também serão eles, com a ajuda dos professores, que irão fazer a contagem dos votos. E tu, na tua escola? Já te foste oferecer para estar numa mesa de voto e participares de uma forma (ainda) mais ativa nestas eleições? Pensa nisso!