Mais de 150 escolas estão em plena campanha eleitoral. O projeto «Miúdos a Votos: quais os livros mais fixes?», uma iniciativa da revista VISÃO Júnior e da Rede de Bibliotecas Escolares propôs às crianças e jovens, entre o 1.º e o 9.º ano, a eleição do livro de que mais gostaram de ler. Os títulos candidatos às eleições, que se realizam já esta sexta-feira, 17 de março, estão organizados pelos três ciclos de ensino básico e foram escolhidos pelos próprios alunos.
Tal como numa campanha eleitoral política, nesta não faltam cartazes, comícios, debates, folhetos, crachás e até tempos de antena produzidos tanto para a rádio, como para a televisão. Já na reta final – a campanha termina a 15 de março -, os alunos da EB da Azeda, em Setúbal, reuniram-se na biblioteca para uma sessão de esclarecimento seguida de debate.
Miguel, do 4.ºA, apresentou-se como moderador de uma discussão que reuniu apoiantes de cinco livros: O Diário de um Banana: Tudo ou Nada (Vol.11), de Jeff Kinney; O Principezinho, de Antoine de Saint-Éxupery; A Menina do Mar, de Sophia de Mello Breyner Andresen; Porque é que os Animais não Conduzem?, de Pedro Seromenho, e O Gigante Egoísta, de Oscar Wilde. Cada qual na sua mesa, aguardavam as instruções do moderador, que, de olhos postos no relógio, iria cronometrar o tempo de intervenção de cada um, para garantir que todos estavam em pé de igualdade. «Dois minutos por intervenção», esclareceu. Entre a audiência familiar, composta pelos colegas do 3.º e do 4.º ano, estavam visitantes estranhos – o do secretário de Estado da Educação, o vereador da Inclusão Social de Setúbal, Pedro Pina, e jornalistas de câmaras e microfones em punho.
Coube a Guilherme, partidário d’O Diário de um Banana: Tudo ou Nada (Vol.11), ser o primeiro a expor os seus argumentos. «Greg é um adolescente como nós e o livro fala do seu dia-a-dia e dos seus problemas», explicou. Já para Gonçalo O Principezinho é a escolha clara. «Fala sobre a vida, sobre a amizade, o amor e ensina uma grande lição: temos que aproveitar o tempo que temos e as oportunidades.»
A Menina do Mar é a escolha de Madalena, livro que para a apoiante apresenta muitas qualidades. «Gosto muito de mar e de praia, e foi a principal razão pela qual o escolhi. Este livro fala também da alegria, da tristeza e da amizade. A amizade é como uma planta, temos que cuidar para que não murche.» E insistiu: «Quando começamos a ler este livro não conseguimos parar. Assim que soube que era um dos candidatos, escolhi-o logo para fazer campanha. Vou defendê-lo até ao fim!».
Já João se deixou conquistar pelas rimas de Porque é que os Animais não Conduzem?. «Conheci este livro quando o autor visitou a nossa escola. É muito giro. Os animais, o dinossauro, a toupeira e o papagaio parecem pessoas reais, mas é claro que não podem conduzir. Os meninos devem votar neste livro porque aprende-se muito sobre segurança e prevenção rodoviária», disse.
«Uma lição para a vida» foi a mensagem que Valéria retirou do livro O Gigante Egoísta e com que espera conquistar os colegas. «O gigante só foi feliz quando começou a partilhar e a deixar que as crianças brincassem no seu jardim. Não ganhamos nada se formos egoístas», explicou.
Apresentados os livros candidatos e os seus apoiantes, foi a vez da assistência colocar algumas questões aos intervenientes. Miguel, o moderador. não se privou de colocar perguntas difíceis. «Mas Valéria, se no final o gigante e um menino vão para o paraíso… Ora, há aqui uma mensagem religiosa… Como vais convencer os eleitores que não são religiosos a votarem neste livro?» Valéria não hesitou: «Independentemente de sermos religiosos ou não, a lição mantém-se: devemos ser bondosos e partilhar.»
À participação dos alunos, seguiu-se a intervenção de João Costa. O secretário de Estado que cresceu em Setúbal felicitou o desempenho dos alunos e a adesão dos professores ao projeto. «Têm muita sorte não só por estarem a estudar numa escola onde os professores vos dão a conhecer atividades como esta, mas também por terem uma biblioteca cheia de livros», disse. João Costa explicou ainda aos alunos a importância de se ser livre para se fazer escolhas, tanto a nível de leitura, como em relação à escolha de um candidato, seja este um livro ou uma pessoa. «Votar é uma grande sorte. Nós é que decidimos. O que vocês fizeram hoje aqui é muito importante: ouvir, apresentar ideias, respeitar a opinião dos vossos colegas, mesmo quando essa opinião é diferente… tudo isso é o que significa viver em democracia. Um primeiro sinal de liberdade em qualquer país é podermos ler o que queremos – porque os livros dão-nos liberdade para pensar e capacidade de questionar o mundo que nos rodeia», concluiu.
E é essa liberdade, autonomia e espirito de cidadania que se requere aos alunos que exerçam no dia de eleições, já na próxima sexta-feira, dia 17. Simulando uma eleição política, a campanha termina no dia 15 e os alunos terão um dia para refletir na escolha que irão fazer. Inclusivamente, todo o processo eleitoral é feito à semelhança de umas eleições políticas, contando «Miúdos a Votos» com o apoio da Comissão Nacional de Eleições, da Pordata (responsável pela contagem de votos) e do Plano Nacional de Leitura.
Liliana Lopes Monteiro (Texto) e Mário João (Fotos)
Veja a reportagem da SIC Notícias sobre esta iniciativa: