Há mais de um mês que mais de uma centena de escolas vive uma agitação fora do comum. Por causa de «Miúdos a Votos: quais os livros mais fixes?», uma iniciativa da revista VISÃO Júnior e da Rede de Bibliotecas Escolares, nos recreios e nas salas de aulas têm-se presenciado momentos extraordinários. Desde fevereiro que os alunos fazem campanha eleitoral pelas histórias que mais gostaram de ler, tentando convencer os colegas a, nesta sexta-feira, dia 17, votarem neles. E estão a fazê-lo como se de uma campanha eleitoral política se tratasse, organizando comícios e debates, criando cartazes e autocolantes, produzindo tempos de antena para a rádio e para a televisão. O projeto quer fomentar simultaneamente a leitura e a cidadania, permitindo aos alunos entre o 1.º e º 9.º anos organizaram e participarem num processo eleitoral.
«Tubarão/Tubarão/ é ele quem vai ganhar/tudo pode acontecer», cantaram os 20 miúdos apoiantes do livro Tubarão na Banheira, de David Machado, ao verem o ministro entrar na Escola Ribeiro de Carvalho. Com chapéus de cartolina em forma de tubarão, empunhavam ao mesmo tempo os cartazes defendendo o seu livro. Era a primeira manifestação de uma longa série de atividades programadas para segunda-feira, 14, dia que esta escola básica do concelho de Sintra decidiu dedicar inteiramente à campanha eleitoral, envolvendo os seus 380 alunos. «Queria agradecer-vos! Não poderia eu pensar em forma mais especial de começar uma segunda-feira de manhã do que vir à vossa escola, que é uma escola exatamente igual à escola onde eu andei», explicou entusiasmado o ministro, já dentro da pequena biblioteca da escola, para a plateia de estudantes do 3.º e 4.º anos que já tinha ouvido o diretor do Agrupamento e o vice-presidente da Câmara de Sintra, Rui Pereira.
O ministro não se alongou no discurso – e preferiu entrar em diálogo com os miúdos, perguntando-lhes como eram as histórias que haviam escolhido e por que motivo gostam daqueles livros. «Imagina que as eleições eram hoje. Diz-me em dez segundos porque devo votar em Teatro às Três Pancadas» – Tiago Brandão Rodrigues lançou a provocação a Eva, que não deixou cair a bola no chão: «Porque é um livro diferente dos outros e podes representá-lo em teatro», respondeu a miúda com convicção e um sorriso na cara. E Diário de um Banana – Dias de Cão? «Porque nós também temos dias de cão», responde Carlos, o mais alto da fila, como se a frase lhe saísse lá do fundo da alma. E Tubarão na Banheira? «Porque pelo nome percebemos logo que é um livro criativo», responde, sem hesitação, outra aluna. «E o que é isso de ser criativo?», desafia o ministro.
Embrenhado no pingue-pongue com os miúdos, com quem criou de imediato empatia, Tiago Brandão Rodrigues parecia querer ficar ali à conversa o resto da manhã. Mas os alunos queriam que ele assistisse à peça de teatro que haviam ensaiado e ao Telejornal que tinham realizado, e que mostrariam à tarde a todas as turmas da escola. «É uma felicidade enorme estar aqui convosco», disse o ministro. «O que esta iniciativa nos ensina é que cada um pode pensar as suas escolhas. É importante acreditar e torcer por aquilo em que acreditamos – e isso é mais importante ainda nesta altura da vida do mundo.»
Antes de Tiago Brandão Rodrigues visitar as quatro bancas montadas no recreio, uma por cada livro candidato, e levar para o ministério uma capa de livro cheia de material de propaganda, os alunos queriam fazer-lhe três perguntas: «A sua escola também tinha uma biblioteca?»; «Também teve a possibilidade de votar como se fosse um adulto, quando andava na escola?»; «Qual o livro que mais gostou de ler quando tinha a nossa idade?». A última é a mais difícil, porque não tem uma resposta única: «Gostava de um livro chamado O Pequeno Nicolau, que contava a história de um rapaz que passa por muitas complicações e que um dia até foge de casa, mas volta para jantar… E gostei muito de O Principezinho, que também estás nomeado para estas eleições. Ah, e da coleção de Uma Aventura, sobretudo Uma Aventura Entre o Douro e o Minho, que era a zona onde eu vivia. É fantástico a ficção acontecer em lugares que são realidade!»
Aventura é o que estão a viver as 406 escolas que se inscreveram em «Miúdos a Votos: quais os livros mais fixes», entre as quais se encontram estabelecimentos de ensino de Angola, Timor-Leste e São Tomé e Príncipe. Numa primeira fase, até dezembro, os alunos propuseram os seus candidatos, tendo sido registados mais de 15 460 candidaturas de mais de 2000 livros. Os candidatos que reuniram maior número de propostas foram nomeados para a eleição nacional, que se realiza esta sexta-feira, 17 de março, dividida pelos três ciclos do ensino básico. A campanha eleitoral, iniciada a 1 de fevereiro, termina na quarta-feira, e está a decorrer, além das escolas, na Rádio Miúdos (uma radio online), que transmite os tempos de antena de rádio produzidos pelas escolas, e nos sítios da VISÃO Júnior e da Rede de Bibliotecas Escolares. De forma a que os alunos tenham um dia para refletir, como acontece numas eleições políticas, a campanha termina na quarta-feira, 15. Aliás, todo o processo eleitoral é feito à semelhança de umas eleições políticas – mas organizado pelos alunos -, contando «Miúdos a Votos» com o apoio da Comissão Nacional de Eleições, da Pordata (responsável pela contagem de votos) e do Plano Nacional de Leitura.
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Cláudia Lobo (texto) e Mário João (fotos); André Moreira e Liliana Lopes Monteiro (reportagem vídeo)