Na aula de Formação Cívica, o Teixeira que é um aluno, segundo as raparigas da nossa turma, convencido, às vezes “chato”, muito divertido e que nunca esquece os óculos de sol, mesmo que chova a “potes”, mostrou a Visão Júnior à nossa DT, porque essa revista propunha temas interessantes. Então, depois de os ter lido, a professora fez-nos uma proposta: escrevermos sobre as palavras que, de repente, começaram a desaparecer no nosso dia-a-dia, principalmente na escola.
No inicio, ficámos contentes porque era um tema fácil de trabalhar, mas depois bloqueámos. Mas a Joaninha a quem nós chamamos “Rouxinol”, porque a voz dela é irritante, estridente e esganiçada, muito intrometida, teimosa que nem uma mula, mas boa amiga, sempre pronta a ajudar, ganhou coragem e perguntou:
– Que tipo de palavras, professora?
Ela respondeu:
– As que deixaste desaparecer.
Foi então que olhámos uns para os outros em silêncio. Naquele momento, todas as palavras tinham desaparecido. Pensativos, muito confusos e nada satisfeitos por não estarmos a conseguir fazer o trabalho que a professora tinha pedido.
Repentinamente, o Marco que estuda pouco, é esquecido, distraído e atrevido com as meninas da turma, com um cabelo que as colegas muito apreciam e que, segundo elas, é volumoso e fofinho, teve o seu momento de luz e disse:
– Primeiro, devíamos procurar no dicionário o significado de desaparecer.
– Boa ideia, Marco! Respondeu o João.
O João é um colega muito engraçado, sempre bem-disposto, com os olhos tão azuis que parecem o mar num dia quente de verão, explicou-nos que aquele apoio era só para nos animar e que se fôssemos solidários, encontraríamos a solução para o nosso problema. Seguimos a ideia do Marco e verificámos que o significado de desaparecer no dicionário era: v.intr. deixar de ser: A alegria desapareceu; deixar de ser visto: o sol desapareceu; ir-se embora: desapareceu de ao pé de mim! A partir desse momento as ideias começaram a aparecer. A Francisca observou:
– O João disse duas palavras que andam desaparecidas – animar e solidário – e a palavra alegria que aparece no exemplo do dicionário também não se vê muito hoje na nossa sociedade.
Todos concordámos.
A Maria, que é a delegada de turma e muito autoritária, gosta de tudo muito organizado e como deve ser, disse:
– Não gosto quando chego à turma e não me dizem “olá“, “bom dia” ou ” boa tarde”. Estas palavras também desapareceram da turma, porque vocês não as utilizam.
– Tu exageras! Respondeu o Miguel.
– A maior parte dos alunos também não diz ” por favor”e ” obrigado“, quando vão comprar alguma coisa ao bar, ou então quando vamos requisitar um livro à biblioteca. – Acrescentou a Lara.
Todos trocávamos impressões sobre as palavras que já tinham sido ditas, quando a Bruna, que é conhecida por “Princesinha Rebelde”, e só pensa na bateria que sonha ter desde criança, reclamou:
– Não se esqueçam de juntar a expressão ” desculpa, não foi de propósito”, que ninguém utiliza quando faz alguma coisa que não deve e não pensa no que está a fazer.
Todos ficámos muito admirados com a crítica da Bruna, porque nunca tínhamos pensado que isso fosse importante, mas pode ser, principalmente porque podemos magoar alguém amigo.
Foi a vez do Ricardo falar:
– Também não gosto quando me pedem a borracha ou outro material e não me dizem “não te importas de me emprestar isto ou aquilo?”
Todos queríamos dar exemplos de palavras que estão a desaparecer, mas a Inês Manuela e a Bárbara estavam sempre a lembrar que não podíamos exceder o número de caracteres. Gostámos de participar neste texto e o mais engraçado é que agora estamos sempre a lembrar as palavras que desapareceram, ou melhor, que estavam esquecidas.