-E se de repente o mundo acabasse… E se de repente acordássemos na lua… E se de repente vivêssemos sempre de dia… – isto dizia um rapazito, que para tudo dizia “E se de repente…”
Esse rapazito chamava-se Rui. Era alto, magro, os seus olhos eram azuis da cor do mar como o mar da Vagueira, do concelho de Vagos, localidade a que pertencia num dia de Verão. O Rui em todas as aulas, (logo no início das aulas), gostava de perguntas sem fim a todos os professores. Era curioso por natureza, brincalhão, mas também muito imaginativo. A aula que ele mais gostava era a de Língua Portuguesa, pois nesta ele conhecia diferentes escritores, ouvia diferentes histórias, conhecia diferentes personagens e vivia diferentes aventuras com as personagens que aprendia a compreender. Também gostava de olhar para as ilustrações, pois estas ajudavam-no a construir as suas personagens e a melhorar as suas aventuras. O Rui, como todas as pessoas, também tinha defeitos e o dele era arreliar os professores com intervenções inadequadas e despropositadas. Eram do tipo:
– Professora, e se de repente… aterrasse um extra-terrestre à nossa frente?
Os professores ameaçavam-no dizendo:
– Rui, não digas disparates e faz, como os teus colegas, presta atenção à lição.
Estas advertências ainda iam resultando, uma vez que o Rui tinha uns pais que se preocupavam com o futuro do seu filho e sabiam que a escola era um local de aprendizagem e de construção da sua personalidade. Mas, para isso, ele teria que aprender a estar atento e isso era complicado.
Certo dia, na aula de Língua Portuguesa e durante a leitura da fábula “O Rato do Campo e o Rato da Cidade”, o Rui, como sempre, decidiu fazer das suas interrompendo a professora:
– Professora, professora… E se de repente… o rato comesse o gato?
Foi gargalhada geral. A professora, com os cabelos em pé, mandou-o calar:
– Rui, por favor, presta atenção! Estou a avisar-te! Para a próxima, ligo aos teus pais.
Funcionou, porque o Rui, logo que ouviu aquelas palavras, decidiu ficar calado. Senão quando chegasse a casa, já tinha um castigo à sua espera. O castigo era ficar sem ir ver o jogo de futebol com o pai, da equipa da qual o seu irmão fazia parte. E ele gostava tanto!
Passado um quarto de hora, o Rui pôs o dedo no ar …, mas a professora pretendia continuar com a lição e não lhe prestou atenção, com receio que saísse mais algum disparate.
Foi então que a cabeça do Rui entrou em acção:
– E se de repente eu acordasse na lua… – disse ele muito discretamente.
E de repente o Rui viu-se na lua… sentiu areia espessa nos pés, mas ao mesmo tempo flutuava. Era uma sensação invulgar! O mundo era diferente. Branco, cinzento, às bolinhas! Sentia-se diferente, livre! “Mas essas bolinhas, na lua, o que são?” perguntava-se ele. Decidiu aproximar-se a saltitar e viu muitos ratinhos a sair de uma enorme cratera. Claro, a sensação de liberdade eclipsou-se, dando lugar a um enorme susto. O susto ainda foi maior quando ele se apercebeu que os ratos só tinham um olho. A sua reacção foi fugir. Correu tanto, tanto, tanto que não distinguiu um enorme buraco. Era uma gigantesca cratera. Sentiu-se cair dentro dela. Estava cheia de filhotes e de enormes ratazanas! Eram de todos os tamanhos e corriam em todos os sentidos! Os filhotes nem lhe ligaram, continuaram com a sua vida…comiam o interior da Lua como se fosse queijo. O Rui, ao pisar uma das crias, levo a que as ratazanas maiores se revoltassem e começassem a aproximar-se dele. O rapaz não conseguia fugir. Sentia-se cada vez mais aterrorizado. Estavam já a morder-lhe os pés. Miam! Miam! Miam! Os animais, esses sentiam-se todos deliciados!
Enquanto o Rui estava em pânico na sua imaginação, a professora continuava com a lição:
– Reparem na frase: “O rato comeu o queijo.”. Qual é o sujeito da frase?
O Rui entretanto, só pensava em ratos… Nisto ouve:- Rui, Rui, Rui, Ruuiii… Qual é o sujeito da frase? – repetia a professora.
O Rui, todo assustado, estremecendo, responde:
– Ratos!… O rato.
– O rato!… Muito bem! – elogiou a professora.
O que ela não sabia era que a resposta tinha chegado da Lua.
O Rui, esse tinha aprendido a lição. Nunca mais se ouviu dizer por palavras dele “E se de repente…” com receio que a fantasia se tornasse realidade; tal foi o susto que ele apanhou!
Alunos da turma do 6ºG
Escola E. B. 2, 3 Dr. João Rocha (pai) – Vagos