Quando, naquela tarde, cheguei a casa, tudo estava em silêncio. De repente, o telefone tocou e, do outro lado, uma voz grave solicitava a minha presença na esquadra da Polícia. Fiquei estupefacto. Liguei para o serviço de táxis e fui.
No caminho, o motorista puxou por um cigarro e pôs-se a fumar. Aquele gesto indignou-me e reclamei, mas a fumaça, que se ia concentrando, começara a atordoar-me.
Na recepção, identifiquei-me e o polícia conduziu-me a uma sala. Quando a porta se abriu e me deparei com aquelas crianças, o meu coração deu um baque. Apesar de crianças, vi bem… eram os meus pais!
– Reconhece estas crianças? – perguntou o agente.
– Sim, claro… – gaguejei – são os meus… fi… lhos!
Nesse instante, senti o mundo desabar sobre a minha cabeça. Meu Deus! E agora? Movido por uma força desconhecida, abri os braços para receber a minha mãe Marta e o meu pai Miguel.
No dia seguinte, fui ao banco e descobri que o dinheiro não abundava. Aliás, a frase que eu mais ouvira nos últimos tempos era: “Julgas que o dinheiro cai do céu?!” Porém, uma surpresa estava para acontecer: o Euromilhões!
Um mês passado sobre esta sorte, já vivia na minha casa de sonho, conduzia o meu Bentley e transferira os meus filhos – quer dizer os meus pais – para o melhor colégio do País. A minha vida corria sobre rodas até receber aquela chamada urgente do diretor do Colégio!
– Senhor Ferreira, tenho uma péssima notícia! O menino Miguel foi apanhado a exercer bullying sobre um colega: violência física e psicológica…
Senti uma vergonha enorme. O meu pai a fazer uma coisa daquelas! Nunca teria imaginado. Logo ele que passava a vida a dar-me conselhos e recomendações! Logo ele sempre tão reto e correto em tudo!
Apanhei o primeiro avião e depois, no táxi, tentei conversar com o motorista. Contei-lhe que a vida de adulto está cheia de preocupações e desejei ser criança de novo. Nesse instante, o motorista acendeu um cigarro! O gesto indignou-me, mas, quando me dispunha a reclamar, senti um enjoo muito forte.
À entrada do colégio, quando eu disse que ia buscar o meu filho, o porteiro fez uma cara muito estranha e chamou um agente da Escola Segura.
– Então, meu menino, estás perdido?
Foi só nesse instante que eu compreendi que tudo tinha voltado ao normal. Eu era outra vez criança e os meus pais adultos. Apesar de ter adorado a minha vida de sonho, confesso que ser adulto não é lá muito interessante. Por enquanto, prefiro ser criança. Tenho tempo de crescer…
Turma 6ºE
Escola E.B. 2,3 Prof. António Pereira Coutinho – Cascais
Prof. António Moreira