O som da Playstation invadia a casa cheia de gente adulta e muito séria naquele fim de tarde: Alexandra e Pedro, dois gémeos de doze anos, jogavam Sonic Underground viciadamente e estremeciam as conversas secantes e crescidas à volta do jogo de Póquer.
De repente, um raio multicolor imobilizou os adultos e os irmãos foram absorvidos pela Paystation: uma luz em vórtice puxou as pequenas criaturinhas para o mundo tridimensional dos jogos digitais…
–Onde estamos? – gritaram os gémeos aterrorizados. –Que mundo é este?
Atarantados, olharam uma imensa multidão de monstruosos seres viscosos lançando baba verde e peganhenta em todas as direcções ao aplaudirem a corrida de casas voadoras.
Num ápice, sem hipótese de reacção, uma cápsula sugou os irmãos, levando-os para o interior de uma casa desengonçada e “grafitada”.
No interior da casa tudo mudava constantemente: as paredes ondulavam e as divisões auto-alteravam a forma e o tamanho, apenas uns olhos azulados se mantinham em todas as paredes da abominável habitação… Muito a custo, os gémeos tentaram fixar o olhar no azul cintilante e hipnotizante e descobriram um grande jovem musculado de pequena dimensão, um ser lá do país dos minorcas, onde quer que isso fosse…
Apurando o ouvido, escutaram ruídos emitidos pelo minora:
– Sou genial, sou poderoso, eu sou o maravilhoso Electro Man!!!
Pedro, zombando, exclamou:
– Um terror de 30 cm!
Ainda não tinha acabado a frase e já havia sofrido um incrível choque: transformara-se numa rapariga:
-Aaaaaiiiiii! SOCORRO!!!! Esta saia é horrível! Estes sapatos não são os ideais para a minha pessoa… e este cabelo!? Escandaloso!
–Ora lá, toma lá, esta é para aprenderes… Sou o todo-poderoso Electro Man!
Apesar de estar confusa e atarantada, Alexandra esboçou um sorriso trocista ao ver o irmão transformado no seu maior pesadelo: para ele as raparigas eram simplesmente detestáveis!
Mas Alexandra não teve tempo de falar, porque, num abrir e fechar de olhos, o Electro Man agarrou os dois irmãos e fechou-se com eles no frigorífico enquanto a casa se derretia:
-Ora bem, temos trinta segundos para irmos para o próximo nível… o mundo de chocolate!
Irrequietos e entusiasmados, os gémeos olharam interrogativamente o minorca eléctrico:
-O que se passa, ó Electro não sei das quantas? – questionou Pedro com jeitos de menina.
-A tua sorte é não termos tempo, senão… para além de rapariga, passarias a ser uma sereia com ares de baleia! Para já, temos de chegar ao mundo das doçuras de cacau! – gritou o Electro Man, puxando-os em direcção de um gigantesco bolo de chocolate com uma portinha aí com uns trinta e um centímetros de altura (para o Electro Man poder passar, claro!), rodeada de gomas de Coca-Cola, de chupa-chupas em espirais e bombons açucarados!!!
Os nossos heróis nem conseguiram respirar, divididos entre o querer saborear os doces e o querer passar pela porta:
-Como vamos transpor aquela portinha minúscula? – procurou Alexandra devorando o chocolate com os olhos enquanto Pedro hesitava entre o saborear e o engordar.
Mas não houve tempo para comer nenhuma daquelas guloseimas ou para pensar em mudanças de planos, porque o cronómetro estava a esgotar-se: num instante estavam dentro do mundo de chocolate.
Era tudo magnífico e delicioso! Com as bocas empanturradas do mais fino chocolate de leite com um tentador sabor digital explosivamente gostoso, perguntaram:
-Hum… Delicioso… O que nos vai acontecer?
-Se continuarem a comer… – respondeu o Electro Man – o chocolate vai derrotar-
-nos e “Game Over”!
-Qual o objectivo deste nível? – interrogaram os gémeos com a cara e os dedos lambuzados.
-O grande desafio é salvar o mundo digital e, para isso, têm de derrotar um cientista meio maluco com ideias limitadas ao reino das malvadezas, o Senhor Devil Multicaos!!!
-O quê? O que temos de fazer? Como vamos sair daqui? Como vamos encontrar esse cromo maquiavélico?
Pedro, farto de entalar os saltos dos seus sapatos nas gomas adesivas e tão apetecíveis, puxou um dos pés com uma mão, enquanto a outra era puxada pela mana e pelo minorca… Pois é, saltou o sapato, voou, voou e tocou o tecto do bolo, abrindo um buraco. Imediatamente caiu um pingo de chuva com a forma de uma moeda de ouro flamejante, seguido de uma tempestade que transformou o mundo de chocolate no mundo catastrófico de ouro que valia areia!
Protegidos pelo brilho do Electro Man, os gémeos olharam-se nos olhos e Alexandra reencontrou o seu carunchoso irmão:
-Voltaste a usar calças! Foste ao cabeleireiro cortar o cabelo! Os ténis ficam-te a matar…
-Aqueles sapatos de salto não me ficavam assim tão mal! Não exageres…até vou levar este para te oferecer nos anos!
Quando Pedro pegou no seu sapato tão “fashion”, foi atingido por um raio obscuro que, bruscamente, o transportou, com os seus companheiros, para um barco espacial com uma mega sala de videojogos reais: desafios frente-a-frente.
Tudo estaria maravilhoso se não fosse… um robô cavernoso e artilhado controlado pelo Senhor Devil Multicaos:
– Iahahah!!! Podem ter chegado até aqui, mas daqui vocês não passam!
Pedro correu apressadamente para o robô mais próximo, por sinal cor-de-rosa choque, e tentou conduzi-lo para o campo de batalha… Contudo, algo estranho aconteceu: o vigoroso e brusco robô do maldoso e terrível Senhor Devil Multicaos começou sedutoramente a fazer olhinhos à máquina rosa e não se deixava pilotar… estava APAIXONADO (inserir corações)
Furioso, o Senhor Devil Multicaos esmurrou a sua máquina perdida de amores e lançou-se em direcção do Pedro como um míssil. Entretanto, o rapaz, muito assustado, ficou imobilizado quando viu o robô apaixonado correr para a sua amada… Claro que o mauzão não reparou e foi horrivelmente esmagado entre os robôs.
Pedro suspirou de alívio enquanto Alexandra o abraçava e o Electro Man sorria à medida que se transformava numa máquina de jogos e dizia:
Se para casa querem ir…
Uma moeda devem inserir!
Os irmãos, ansiosos, revoltaram os seus bolsos sem sucesso, tendo apenas encontrado o sapato que fez de Pedro uma rapariga. Olharam desconsoladamente para ele, quando uma luz pequenina cintilou no interior da sua biqueira… Situação resolvida: nervosamente, inseriram a moeda na ranhura da máquina e imediatamente aterraram no sofá em frente à Playstation, como se nada tivesse acontecido!
Game… Over… acabou-se a história!
(Não percam a próxima aventura… E se de repente fôssemos jogados pela wii?)