MENÇÃO HONROSA
(20 anos depois)
Amarílis: Ontem à noite, tive um sonho horrível.
Felizardo: Então, conta-o.
Amarílis: Eu estava descansada, sentada no meu trono e, de repente, expulsaram-me do palácio. A mim e à minha irmã Hortênsia!
Bobo: Às vezes, os sonhos são uma antevisão do futuro…
Amarílis: Cala-te! Não digas asneiras. Bobo imbecil!
(Hortênsia entra, aflita)
Hortênsia: Querida irmã, ontem tive um sonho estranho. Sonhei que nos expulsaram do palácio.
Amarílis: Em também tive esse sonho…
Bobo: Onde há fumo há fogo…
Hortênsia (chorosa) E só nos restava a roupa que tínhamos no corpo.
Amarílis: Esse sonho dever ter um significado. Hortênsia, o tempo passa. Acho que chegou a hora de escolhermos os herdeiros e levarmos uma vida descansada. Bobo, vai chamar os nossos herdeiros.
Hortênsia (não muito crente): Se calhar é melhor… Amarílis, é fácil. O teu filho mais velho fica com a parte Norte e o meu fica com a parte Sul. Nada muda.
(Amarílis, Hortênsia, Felizardo e Simplício e os filhos dos casais na presença do escrivão)
Escrivão: Vamos proceder então ao ato solene de doação dos reinos da Helíria aos príncipes herdeiros.
(Assinados os papéis. Filho de Hortênsia com o documento na mão e ar triunfante)
Filho de Hortênsia: Caro primo, creio que a primeira medida que temos de tomar como senhores destes reinos é expulsar as nossa mães destas terras, pois não fazem cá falta.
Hortênsia (em choque): O quê?
Amarílis: Mas os reinos são nossos.
Bobo (aparte): O verbo deve ser conjugado no passado: foram.
Filho de Amarílis: É bom que vejam o mal que fizeram a nosso avô. Julga que não conhecemos a história…
Hortênsia (irritada): Este Bobo anda sempre a dar com a língua nos dentes. Bobo, estás expulso deste reino e serás sujeito a cem chibatadas.
Filho de Hortênsia: Calminha. Quem manda aqui sou eu. O Bobo fica e nada de chibatadas.
Hortênsia e Amarílis: Vamos, irmã. Que tolas que fomos, não temos outro caminho.
(No palácio da irmã Violeta)
Violeta: O que fazem aqui?
Amarílis: Fomos expulsas do nosso palácio, querida irmã. Sei que tens bom coração. Viemos pedir-te ajuda.
Violeta: Também não tiveste pena do nosso pai. Foram muito más com ele. Vejam como ele se sentiu.
Hortênsia: Deixa-nos viver aqui. Não queremos nada, apenas uma malguinha de sopa.
Violeta: Ficam… Mas trabalharão, para garantir o vosso sustento.
Hortênsia e Amarílis: Trabalhar??? Nunca trabalhamos…
Violeta: Então nada feito.
Amarílis (sem alternativa): Aceitamos. Ai que vida…
Bobo: Ai… Esta gente não dá ouvidos aos ditados populares: Filho és, pai serás, como fizeres, assim acharás.