Pedro Alecrim, de António Mota (continuação)
Passaram cinco anos. Comecei a tocar cavaquinho com o meu tio Trindade, tal como antes o meu pai fizera. Percorríamos várias terras para animar toda a gente.
Em algumas terras as nossas músicas eram bem recebidas, noutras nem por isso, não apreciavam o nosso género de música popular.
Porém, o nosso talento em dupla era muito elogiado na nossa aldeia do Pragal. Ouvindo as nossas músicas, as pessoas divertiam-se imenso e até parecia que todos os seus problemas desapareciam; problemas da sua vida, de pobreza, de faltas e de angústias.
As pessoas da aldeia incentivavam-nos a continuar a tocar cavaquinho lá e noutras terras.
Certo dia estávamos a tocar cavaquinho quando uma das cordas se partiu; colocava uma nova corda e esta partia-se de imediato. Fiquei triste. O cavaquinho do meu pai estava muito frágil e já não me podia acompanhar naquelas andanças de músico nas horas vagas. Sim, porque eu era ferreiro de profissão, tendo sempre por mestre o meu tio. Para ajudar a minha mãe e os meus irmãos, eu não podia deixar de tocar nas festas e arraiais.
O cavaquinho do meu tio Trindade ainda estava intacto e, então, durante algum tempo o meu tio continuou a tocar para angariar algum dinheiro. Como tocava sozinho, as pessoas não gostavam tanto de o ouvir. Tivemos de arranjar uma solução. Um novo instrumento porque eu não queria outro cavaquinho.
Depois de muito pensar decidi comprar uma flauta transversal.
As pessoas da aldeia gostaram da ideia, pois o som da flauta comunicava-lhes a paz dos montes onde pastava o seu gado. E assim começámos uma nova etapa na nossa vida. Tivemos tanto sucesso que até fomos convidados para programas de televisão e as revistas culturais escreviam sobre nós. Os ferreiros músicos ficaram a ser conhecidos em todo o país.
Foi uma época muito feliz na minha vida, pois consegui ajudar a minha família.
Quanto ao cavaquinho de meu pai, ficou sempre em lugar de destaque na sala da nossa casa lá da aldeia. Era o meu motivo de orgulho!