Para o que der e vier
De Alice Vieira, Marta Polena, Inês Polena e… quem mais quiser!
Capítulo I
(escrito por Alice Viera)
Eu nem queria vestir nada de especial, calças , t-shirt de propaganda a uma marca de roupa, e acabou-se, mas a minha mãe insistira:
– Temos de causar boa impressão. E a senhora é velhota…
Lá condescendi e enfiei-me numa saia. Não sei por que é que a velhota há-de preferir saias a calças, mas pronto, prometi à minha mãe que ia fazer tudo para que aquele jantar corresse bem.
Muito bem. Muitíssimo bem.
– Lembra-te que vais conhecer uma irmã e uma avó – tinha ela dito.
– Que por acaso até nem me são nada… – murmurei.
– Mas vão passar a ser.
Encolhi os ombros.
Há dez anos que a minha mãe me atura sozinha – merece ser feliz.
Muito feliz.
Muitíssimo feliz.
Então vamos lá.
Capítulo II
(de Inês Polena)
Acabei de me preparar e entrei no carro. Nunca tinha visto a minha mãe tão bonita. Vestido comprido, como numa gala, penteado todo elaborado e maquilhagem perfeita. Estava a exagerar! Parecia que tinha saído da capa de uma revista da Miss Universo.
A minha mãe ligou o carro, com a mãos a tremer. Parecia nervosa!
Continuámos o caminho.
Silêncio.
Ninguém falou.
Chegámos a casa dessa irmã e dessa avó (que não me são nada) e já lá estava o Eduardo, o namorado da minha mãe, à porta.
Quando a minha mãe saiu do carro, balançou-se de tão nervosa.
Beijou o Eduardo e disse-lhe qualquer coisa ao ouvido.
Não ouvi nada.
Entrámos.
Capítulo III
(de Marta Polena)
Entrei naquela sala com pouca luz e enfeites de Natal. Como se já estivéssemos em dezembro!
A minha mãe decidiu ir para a cozinha ajudar. Eduardo foi à casa de banho e eu fiquei na sala sozinha com ela.
Ela.
– Bom, tu és tu! – começou por dizer ela.
– E tu és tu! – disse eu.
– Chamo-me Leonor.
– Eu sei.
– E tu?
– Chamo-me Inês.
Corremos as duas para um quarto escuro. Não se viam bem os objetos.
Capítulo IV
(de Açucena Alijaj)
Ela acende a luz, e deixou de ser um quarto escuro.
Um bater de coração.
Dois.
– O que queres fazer? – pergunta a Inês.
– Não sei.
Ela senta-se na cama, e eu sento-me à beira dela. Porque sinto que é isso que
devo fazer.
Deveria perguntar-lhe coisas. Gostas de gelado? Qual é o teu sabor
preferido? Que séries vês? e outras perguntas banais que as pessoas fazem
quando se querem conhecer melhor.
Mas não.
A socialização não é o meu forte. Por mim, ficaria no meu canto com as minhas
coisas e não me importaria se nunca mais visse um ser humano na minha vida.
Por isso ficamos sentadas num silêncio ensurdecedor até que ouço a minha
mãe a chamar.
Fico aliviada. Muito aliviada.
Muitíssimo aliviada.
Ela levanta-se e eu sigo, e entramos na sala.
Capítulo IV
(de Fernanda Silva)
Chegamos à sala e era hora de jantar.
Sentamo-nos e o silêncio continuou.
Passado alguns minutos a minha mãe deu-me um toque na perna e disse-me
baixinho que eu teria de quebrar o silêncio e dar-me a conhecer.
Por mim eu continuava calada e no meu canto, mas como não queria deixar a
minha mãe mal em frente aos outros fiz-lhe a vontade.
Depois de jantarmos, eu e essa tal prima entramos no quarto.
Capítulo V
(de Tiago Airosa Pereira Santos)
Fomos para o quarto e ficamos uma afastada da outra, eu perto da porta e ela na cama.
Acho que ela era como eu, não muito social.
Mais tarde tentei avançar com ela e fiz as tais perguntas banais.
Pelos vistos tínhamos muito em comum. Ela gostava de gelado, mas preferia waffles. Ambas adoramos ver Netflix.
Era uma futura boa amiga.