Preparado para uma aula? Vamos lá!
O sol já se levantou, mas a maior parte das pessoas ainda não. Dessa maioria não fazem parte os praticantes de bodyboard que se levantam bem cedo para caçar as ondas na praia de Matosinhos. A praia, essa, está ainda quase vazia e com espaço para que a prática desta modalidade seja segura, tanto dentro como fora de água. Daqui a umas horas, o areal vai estar a abarrotar e toda a gente vai querer ir a banhos, mas nessa altura já a aula de bodyboard terminou.
‘Bora lá começar
Com os fatos já vestidos, o aquecimento começa. Podes ser iniciado, intermédio ou até mesmo um avançado do bodyboard, mas sem fazer um bom aquecimento mais vale ficar sentado na toalha. Esta parte, segundo os treinadores, é essencial para ativar os músculos que a esta hora ainda poderiam estar a dormitar. No areal, perto do sítio onda as ondas se espraiam, Tiago Fazendeiro, um dos monitores da escola de bodyboard Linha de Onda orienta o aquecimento de todos os caçadores de ondas. Correm para trás e para a frente, fazem rotação de braços atrás e à frente, saltam, giram, rodam e alongam as articulações: primeiro de pé e depois deitados no chão.
A seguir, o grande grupo dispersa-se. Os intermédios e os avançados calçam os pés de pato, pegam nas pranchas, seguram a leash ou strap ao braço e desaparecem por entre a espuma das ondas. Os kids, grupo de alunos da escola que estão a principiar a atividade, ainda permanecem mais um pouco no areal, junto das pranchas, para aprenderem as manobras base do bodyboard.
Um, dois, três…
Com as pranchas dispostas num semicírculo, Tiago começa por ensinar aos kids a posição base do bodyboard. Todos deitados devem agarrar com as mãos os cantos da frente da prancha (nose) e apoiar os cotovelos e o peito sobre o deck. E estão prontos? Nada disso. Rita Costa, 12 anos, Carolina Gonçalinho e Andreia Ferreira, 13 anos, ouvem atentamente todas as instruções que são dadas. É a primeira vez que experimentam praticar este desporto «a sério». Uma desafiou as outras, e a curiosidade levou-as até à praia para verem como é que se faz.
Gonçalo Gomes, já pratica bodyboard «há muito tempo» mas confunde-se quando começa a contar pelos dedos. Pode não saber há quantos meses ou anos anda a praticar mas sabe virar e isso é o que interessa. «Não é difícil, só temos de inclinar o corpo para a direita ou para a esquerda e a prancha vira», afirma Gonçalo ainda confuso com as datas. Para todos eles, uma dica de Tiago: tentar deslizar e chegar até à areia. E uma ressalva que é dada com a ajuda de Manuel Carvalho, «Não podemos ir com o peito muito à frente na prancha senão damos uma cambalhota para a frente.» E isso é receita para virar e engolir uns pirolitos. «Assentem bem o peito sobre a prancha», é o último conselho do professor, antes de partirem para a água para deslizar nas ondas.
Onde andam os outros?
Estão a caçar ondas maiores, longe do rebentamento e da areia. Não existe uma idade que coloque cada um dos praticantes de bodyboard numa diferente categoria. Depende muito da competência e do progresso de cada um. Por isso, podes ter 11 anos e ser avançado, ou ter 14 e ser um iniciante. A dedicação é determinante, segundo Nuno Azevedo, um dos fundadores da Linha de Onda.
Esta escola, que já existe há 10 anos, não tem poiso fixo. «Consultamos o estado do mar e depois deslocamo-nos entre a praia de Matosinhos e a praia de Leça da Palmeira.» E o facto é que ninguém se perde! No dia anterior às aulas, os professores entram em contacto com os alunos pelo telefone ou através das redes sociais e à hora marcada não há faltas. Mas eles não andam só aqui. António Gonçalves, 11 anos, tem entrado em competições regionais e até ficou em 1.º lugar numa etapa do Circuito de Bodyboard do Norte (CBBN), em Viana do Castelo. «Estas aulas servem-me para fazer ajustes e para praticar manobras mais difíceis», revela António que anda a aperfeiçoar o 360º. «Para me concentrar e relaxar no mar, costumo cantar uma música na minha cabeça, ultimamente tem sido Hardwell», afirma.
Já Vasco Gonçalinho, 13 anos, praticou quase todos os desportos antes de chegar ao bodyboard. E todos com grande nível de sucesso. É o atual campeão nacional juvenil de kickboxing; e no bodyboard segue pelo mesmo caminho. «Comecei há um ano e este ano fiquei em 3.º lugar na final do CBBN sub-14».
Trocou o surf pelo bodyboard por sentir que nesta modalidade existe um contacto mais físico com as ondas. A verdade é que, segundo Nuno Azevedo, quem experimenta bodyboard vai ter sucesso à segunda onda que apanha, e nos outros desportos aquáticos pode demorar mais tempo.
O campeão Pedro Machado, 16 anos, também vem a estas aulas e vai acumulando prémios e participações em inúmeras competições. Ficou em primeiro lugar no CBBN sub-16, está atualmente no circuito nacional de esperanças sub-16, na taça de Portugal e até já foi ao Havai, Estados Unidos da América, para uma competição internacional.
De volta à areia
O trio de estreantes saiu da água com mais energia ainda do que quando entrou. Rita vinha impressionada por já ter conseguido executar algumas manobras, nomeadamente a águia. Mas Ana Rita Cruz, 10 anos, que começou há uma semana, já conseguiu completar manobras mais complexas como o 360º e o El Rollo. «As manobras não estão perfeitas mas eu gosto do mar, só preciso de praticar.»
Equipamento
FATO ISOTÉRMICO
De neoprene, para que o corpo conserve o calor.
CAMISA DE LICRA
PRANCHA DE BODYBOARD
Deve ter uma altura ideal até ao umbigo.
LEASH/SHOP
Cabo que prende a prancha ao pulso, ao braço ou ao tornozelo, para não se perder.
PÉS DE PATO
Barbatanas curtas, ótimas para ganhar velocidade.
WAX
Cera antiderrapante que se põe no deck para ficar menos escorregadio.
Dicionário de ‘bodyboardês’
DESCOBRE ALGUNS TERMOS USADOS PELAS PESSOAS QUE FAZEM BODYBOARD…
Águia – Manobra que consiste em deslizar sobre a onda de braços abertos.
Baldo – Cair da prancha.
Bottom turn – Virar a prancha para apanhar a linha da onda, aproveitando a velocidade adquirida no drop.
Cutback – Subir o lip da onda e curvar, voltando para a espuma.
Deck – Parte da prancha onde o corpo assenta.
Drop – Descer a onda para dar início à execução de manobras.
Duck Dive/Bico de Pato – Passar por baixo da rebentação das ondas e não ser arrastado para terra.
El Rollo – Manobra que consiste em rodar com o lip da onda.
Flat – Mar calmo e sem ondas.
Lip – Crista da onda.
Marreca – Onda pequena.
Marrequeiro – Bodyboarder que só apanha ondas pequenas.
Nose – Parte da frente da prancha.
Parede – Parte inclinada da onda, em todo o seu comprimento.
Pico – Local onde a onda começa a partir.
Pocket – Zona da onda com mais força.
Prone – Fazer bodyboard deitado.
Set – Conjunto de ondas.
Take-off – Apanhar a onda.
360º – Manobra que consiste em dar uma volta de 360º sobre o eixo da prancha.
Texto: Fernando Carvalho