Os alunos do Conservatório levam sempre duas mochilas para a escola: uma com roupa para dançar, outra com os livros e cadernos.
O dia começa por volta das 8 e meia da manhã e termina às 6 e meia da tarde. Samba Injai, 14 anos, aluno do 3.º ano, admite que não é fácil: “Quando chegamos a casa não temos muito tempo livre.” Como o amor pela dança é grande, encontram sempre uma solução: “Até faço alongamentos enquanto jogo consola”, conta Samba.
Sem desviarem o olhar do espelho, os alunos tentam reproduzir os exercícios pedidos pela professora Alla Shirkevitch, que veio da Rússia, durante um mês, para a Escola de Dança do Conservatório Nacional, em Lisboa. “Um dos segredos dos bailarinos é não mostrar dor.
Os espectadores devem achar que todas as posições são fáceis”, explica Joshua Feist, 12 anos, aluno do 3.º ano de dança (equivalente ao 7.º ano). Antigamente, havia muito mais bailarinas do que bailarinos. Hoje, a proporção é quase igual, mas os rapazes sentem que continuam a existir pessoas preconceituosas, “acham que dançar é coisa de raparigas”, lamenta Samba.
João Almeida, 12 anos, aluno do 3.º ano, chegou a pensar em desistir por causa do que lhe diziam os irmãos mais velhos, de 14 e 17 anos: “Queriam que eu fosse para o futebol”. Joshua interrompe o companheiro admirado: “O ballet requer mais força do que o futebol”, exclama. Samba dá uma ajuda: “Fazemos muitos saltos complicados e temos de ser capazes de pegar nas raparigas.”
A maior parte dos alunos entra no Conservatório com 9 ou 10 anos, mas já dançavam antes. Samba apaixonou-se pela dança aos 4, via vídeos de bailarinos na internet e tentava imitar.
Apesar de todos sonharem com uma carreira de bailarinos profissionais, não desleixam o estudo académico. Joshua aproveita para dar um conselho aos bailarinos e não só: “Devemos seguir sempre os nossos sonhos, mas é importante ter um plano B.”