Depois de Onde Moram os Teus Macaquinhos?, Ana Markl lança o seu segundo livro infantil intitulado Avó, Onde É que Estavas no 25 de Abril? A propósito deste lançamento tão importante e cheio de significado, e quando vamos a caminho do 50.º aniversário do 25 de Abril (número redondo e bonito que se completa em 2024), conversámos com a autora sobre o imaginário da Revolução dos Cravos, e as histórias que ela ouviu contar enquanto crescia e que acabaram por inspirar o enredo do livro.
Lê a entrevista e vê este vídeo em que a Ana Markl explica o que é isso de liberdade e revolução. E não te esqueças de comer brócolos!
Como surgiu a ideia de escrever este livro?
Perante o sucesso da primeira aventura do Manu, Onde Moram os Teus Macaquinhos?, eu e a Célia Louro decidimos que haveria aqui potencial para uma coleção de livros focada em algumas particularidades da cultura portuguesa. Esse desafio pareceu-nos suficientemente abrangente para que fizesse sentido escrever primeiro sobre expressões idiomáticas e agora sobre um momento fundamental para a nossa História e a nossa identidade enquanto povo. No fundo, como todas as crianças, esta personagem procura o seu lugar no mundo.
Nasceste cinco anos após o 25 de Abril. Durante a infância, que histórias te contavam sobre este dia?
O 25 de Abril foi vivido intensamente pela minha família, por isso os meus pais – ótimos contadores de histórias – contavam recorrentemente e de forma muito vívida as suas memórias desse dia: onde estavam, como tudo aconteceu, que música se ouvia… E contavam também o que era o país antes do 25 de Abril. Para mim, a ditadura era um verdadeiro papão e os capitães de Abril eram estrelas de rock.
E que imagem tinhas da ditadura, do tempo da «outra senhora»?
Manteve-se na minha cabeça uma imagem meio infantil de que tudo era cinzento, escuro, bafiento e triste. De que sem liberdade não havia alegria.
As estatísticas dizem que as pessoas não leem. Foi para isto que se fez o 25 de Abril?
Certamente que não se fez o 25 de Abril para que os livros sejam tão caros. Mas acho que essas estatísticas ainda não contabilizam novos hábitos de leitura, nomeadamente no meio digital. Tenho bastante fé nas novas gerações no que concerne à sobrevivência da literatura. Apesar das solicitações e dos estímulos serem muitos, apesar da busca por uma gratificação imediata ameaçar o prazer lento e saboreado da leitura, noto uma grande predisposição para o consumo de conteúdos relacionados com a palavra – como podcasts ou audiolivros. Por isso, vamos tentar não cair no discurso de que «no nosso tempo é que era bom», senão não tarda estamos como aquela malta que acha que devia haver um Salazar a cada esquina.
É preciso uma “revolução” na literatura para crianças?
Acho que não é preciso propriamente uma revolução porque estamos muito bem encaminhados, mas há muito produtos culturais para crianças – não só livros – que são verdadeiros atentados à imaginação. As crianças, enquanto leitores, não podem ser tratadas com condescendência. Elas é que vão dar sentido às palavras dos adultos, elas são capazes de reescrever livros – portanto essa abertura deve ser tida em conta, bem como o seu sentido de humor, sinceridade e acutilância. São um público muito desafiante, muitas vezes tratado como um público fácil, que papa tudo desde que tenha uma bonecada qualquer. Não é bem assim. Aliás, se o meu filho de dois anos fosse crítico literário, muitas carreiras seriam destruídas.
Avó, Onde É que Estavas no 25 de Abril? conta novamente com as fabulosas ilustrações de Christina Casnellie, parceira da Ana Markl nesta aventura pela literatura infantil, dedicada a aspetos relacionados com a língua, a cultura e a história portuguesas.
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