Já imaginaste andar por cima da sujidade e nunca mudar a tua camisola preferida mesmo quando já cheirasse mal? Os teus pais não tardariam a dar-te um duche à força. Com a maioria dos animais, isso seria impossível: para eles, a limpeza é inata.
O asseio é particularmente importante quando vivem muitos animais num espaço pequeno. Como numa colmeia, onde chegam a viver 40 mil abelhas. A natureza teve de inventar soluções muito refinadas. As abelhas não podem defecar durante todo o inverno, como se tivessem sempre prisão de ventre. Só na primavera, quando saem pela primeira vez, se aliviam.
Os filhos das abelhas, ou seja, as larvas, também são muito asseados. Mas se largarem uma caganita, as obreiras levam a sujidade para fora. Ou enrolam os dejectos como uma múmia, utilizando uma cera especial, a própole.
Outros animais são metidos numa espécie de máquina de lavar. Nos recifes de coral, por exemplo, vivem muitos bodiões-limpadores que usam um «uniforme de escovador», de modo a que os seus «clientes» possam reconhecê-los e aproximarem-se para uma limpeza. Comem as bactérias e larvas da pele da clientela. Ou seja, alimentam-se da sujidade dos outros.
Os gatos não gostam nem de areia nem de água, mas lambem todo o corpo com a língua. A sua saliva tem substâncias que matam as bactérias. A língua de certas rãs também serve para a limpeza, quando não está ocupada a apanhar insectos. Como a língua é particularmente longa, até dá para lavar os olhos.
Os macacos usam as mãos e os dentes. Entretêm-se a catar as pulgas e a coçar o pelo uns dos outros.
Há até uma espécie de sabão nos animais: os caracóis, crustáceos, peixes ou anfíbios segregam mucosidades para impedir que a sujidade entre directamente em contacto com a pele.
E é com muita habilidade que os coalas limpam os filhos. Na bolsa marsupial da mãe há substâncias proteicas também chamadas antibióticos que abrem orifícios na parede celular das bactérias.
Sem estes caça-bactérias, os bebés coalas andariam muito sujos. A bolsa é aberta em cima e o feto fica lá em baixo, pelo que a mãe nem sequer o poderia lavar com a língua, como fazem os cangurus.
A maior parte das espécies animais muda a sua «roupa suja» a intervalos mais ou menos longos.
As moscas fazem a «muda» 40 vezes na sua curta vida. Trata-se de «mudar de pele», precisamente como nas cobras. Como a cobertura do seu corpo não cresce, ao contrário do que acontece com a pele das pessoas, mais tarde ou mais cedo rebenta. Sob a velha vestimenta, já se formou uma nova pele.
E como é com os porcos? Porque esses são mesmo sujos, não é? Nada mais falso. Os porcos só são sujos quando os obrigam a viver no chiqueiro em cima dos próprios excrementos. Os porcos selvagens em liberdade limpam-se com a ajuda da lama e roçando-se nas árvores.
O que não há certamente nos animais é limpeza desnecessária. Uma certa quantidade de bactérias na pele até é saudável, e quem toma duche demasiadas vezes acaba por estragar a pele. Alguns cientistas consideram que muitas crianças têm alergias simplesmente porque a sua pele tem pouca sujidade e, por isso, começa a reagir a coisas inofensivas como o pólen das flores.
Este artigo foi originalmente publicado na VISÃO Júnior n.º 23