Quando entramos na Escola da Guarda, em Queluz, onde vivem e trabalham os cães do Grupo de Intervenção Cinotécnico da GNR, nem parece que estamos nos arredores de Lisboa. O espaço é verde e silencioso, apesar de haver zonas onde parece ter ocorrido uma catástrofe natural. Mas não, são apenas espaços que imitam cenários reais, com escombros resultantes de um sismo, por exemplo. Afinal, é para trabalharem nesse tipo de locais que estes cães são treinados.
Assim que a presença da equipa da VISÃO Júnior é sentida, o silêncio acaba e começam os latidos; chegaram estranhos, e estes cães estão sempre alerta. Quem nos recebe é o tenente Nunes, que conta como é um dia normal no Grupo de Intervenção Cinotécnico da GNR. «Todos os dias nós, polícias, temos a formatura às nove da manhã. Depois, fazemos a limpeza e a higiene dos cães. O resto do tempo é passado a fazer exercícios que imitam a realidade, treinos de socialização ou treinos físicos, como ir correr com eles para a serra de Monsanto ou para a praia.»
Todos os dias se tenta recriar situações reais usando a técnica do reforço positivo. Se tens um cão, de certeza que já usaste esta técnica quando o ensinaste a sentar-se ou a deitar-se: se fizer o que lhe pedes, dás-lhe mimos e brincadeira como recompensa. Aqui, faz-se o mesmo: «Por exemplo, o cão tem uma bola de que gosta muito. O treinador segura na bola até que ele ladre − porque é preciso que ele dê sinal quando encontra algo − e, quando ladra, o brinquedo é-lhe devolvido. A isto chama-se um reforço positivo», explica o tenente Nunes.
E é assim que se ensinam todas as outras tarefas, como a aproximação a suspeitos, a deteção de drogas, armas, dinheiro ou explosivos e também a localização de pessoas desaparecidas. «Aprendem a procurar diferentes cheiros em diferentes cenários. Por exemplo, se no meio de escombros eles se distraírem com o cheiro de outro objeto, não terão nenhum reforço positivo. Quando encontrarem a pessoa e ladrarem o suficiente, damos-lhes esse reforço.»
A relação com o treinador também é muito importante: «Muitos destes cães vivem connosco, fazem parte da nossa família», diz-nos o primeiro-sargento Cipriano. «É uma boa forma de aprenderem como se comportam as pessoas e de reforçarem a relação com o treinador. Somos companheiros em todos os momentos.» Estes cães começam a ser treinados por volta dos 2 ou 3 meses, e normalmente estão aptos para entrar em ação por volta dos 2 anos.
Estes animais percebem muito facilmente o estado emocional das pessoas (ou seja, se estão com medo ou agitadas, por exemplo) e interpretam as expressões corporais. Estas capacidades, além de um faro muito apurado, são uma grande ajuda em situações de risco, como num estádio de futebol, onde é preciso manter a ordem. Como nos explica o capitão Brito no final da nossa visita: «o que os nossos olhos não veem, o nariz do cão descobre!
O que é a cinoterapia?
Há cães da GNR que trabalham como «terapeutas». Geralmente, são animais reformados que ajudam crianças com problemas físicos ou psicológicos, como o autismo. O objetivo é ajudá-las a criarem rotinas: as crianças, ao sentirem a responsabilidade de cuidar de um animal, acabam por se tornar mais independentes.