Lara queria muito acompanhar o dia a dia de um centro de recuperação de animais selvagens. Pediu-nos para visitar “um local onde a Natureza fosse rainha”. Para esta aventura, quis levar a irmã mais nova, Leonor.
Visitámos o Centro de Recuperação de Animais Silvestres de Lisboa, situado no maior espaço verde da cidade de Lisboa – o Parque Florestal de Monsanto.
Lara, quase a completar 11 anos, e a irmã, Leonor, dois anos mais nova, reconhecem o local. Tinham lá estado o ano passado, para entregar um andorinhão encontrado próximo da sua casa. Naquele dia não entraram. Desta vez foi diferente.
Descemos um caminho entre sobreiros, pinheiros, murtas e pilriteiros, algumas das árvores e arbustos do parque. Escondidos por entre a vegetação cantam passarinhos que nos acompanham até sermos recebidos por Manuela Mira, a médica veterinária do centro.
As nossas repórteres estão muito atentas e observam todos os movimentos. Entendem que chegaram a um sítio muito especial. O silêncio é fundamental “para não perturbarmos os animais que ali estão a ser tratados”, avisa-nos a médica.
Os dias aqui são sempre muito agitados e imprevisíveis. “Agora, por exemplo, recebemos um ganso-patola”. Os vigilantes da natureza tinham acabado de entregar esta ave marinha. “Aquele que tem patas azuis?”, pergunta Lara. O ganso-patola não será observado: ainda repousará algumas horas na caixa em que foi trazido, tapado com uma manta para o manter mais tranquilo. “Saber o que é mais importante para o animal e perceber se está forte e se se sente bem é o nosso trabalho. Só assim lhe poderemos devolver a liberdade”, explica a médica.
A dra. Manuela vai indicando as várias unidades do Centro. A clínica, com uma enfermaria e um bloco operatório, serve para prestar todos os cuidados veterinários necessários.
Ao lado encontra-se a unidade de cuidados intensivos, onde os animais ficam sob observação depois de operados. Daí os animais passam para os parques de reabilitação. Nestas gaiolas de grande dimensão, são avaliados o peso, o aspeto, o comportamento e, nas aves, também o seu voo.
As aves maiores treinam diariamente no túnel de voo, para aumentar a sua musculatura. Por exemplo, o bufo-real precisa de grandes exercícios. “Um tipo de mocho mais gordinho” é como Lara descreve à irmã a maior ave de rapina noturna portuguesa. Mas não a puderam ver, porque ter o menor contacto possível com os animais é a regra de ouro do Centro.
“Venham conhecer a área de nutrição”, diz-nos a veterinária. No Biotério, Lara e Leonor observam atentamente os ratinhos que são a base da alimentação da maior parte dos animais carnívoros. “O que está ali?”, pergunta Lara, apontando para duas águias-de-asa-redonda visivelmente agitadas com a nossa presença.
“Mais dois gansos-patolas”, informa-nos Verónica Bogalho, a bióloga do Centro. Com muito entusiasmo, explica-nos o que faz: “Percebo se o animal prefere carne, peixe, se precisa de um poleiro maior ou de mais água.” O que fazer quando é encontrado um animal selvagem? “Devemos ligar para o SEPNA. Mas, se tivermos connosco uma caixa de cartão, podemos transportá-lo até ao centro mais próximo”, explica Verónica.
Foi desta maneira que as irmãs entregaram ainda jovem o andorinhão.
A visita está quase a terminar, mas ainda há tempo para o momento mais aguardado do dia. “Já alguma vez viram uma ave de rapina?” As irmãs entreolham-se. Vão assistir ao tratamento de uma coruja-das–torres, uma ave que vive em celeiros abandonados.
Verónica agarra a coruja, tendo muito cuidado com as patas, que têm garras fortes, e com o bico, para não a aleijar. Lara arregaça as mangas do casaco, está pronta para ajudar.
Muito quieta, Leonor não desvia o olhar daquela ave bonita e misteriosa. Enquanto Manuela prepara o tratamento, Verónica mostra às nossas repórteres a asa danificada.
Indica o bordo das penas serrilhado (parece uma serra), típico das corujas e mochos. É graças a ele que têm um voo tão silencioso. “Precisam destas penas para não assustar as suas presas”, sublinha Lara. “É isso mesmo”, confirma a bióloga, orgulhosa das nossas repórteres. As irmãs ficariam ali todo o dia, encantadas.
O Parque Florestal
Instalado na serra de Monsanto, este local é habitado desde os tempos pré-históricos. Mas nem sempre foi como o vemos hoje. A floresta original foi sendo destruída à medida que a cidade de Lisboa começava a crescer. Na serra, em vez de uma floresta, dominavam os campos de cereais e pastagens para gado. Foi em 1938 que a Câmara Municipal de Lisboa iniciou a plantação de árvores. O processo foi muito longo e complicado. Numa corrida contra o tempo, trabalhadores dos terrenos e prisioneiros do Forte de Monsanto participaram arduamente na plantação. Acácias e eucaliptos (árvores australianas escolhidas por terem crescimento mais rápido), pinheiros-mansos, pinheiros-de-alepo, cedro-do-buçaco foram plantados ao lado das árvores típicas da floresta portuguesa: carvalhos-cerquinho, sobreiros e azinheiras. Atualmente, Monsanto tem uma área de 900 hectares (equivalente a 900 campos de futebol).
Sabias que…
O ganso-patola é a maior ave marinha que frequenta águas portuguesas? Os seus mergulhos são espantosos, lança-se para apanhar peixes de uma altura, entre 10 e 40 metros. Durante os seus mergulhos picados colocam as asas totalmente para trás e atingem a água como perfeitas flechas.
O que deves fazer se encontrares um animal ferido?
Contactar o SEPNA Linha SOS Ambiente: 808 200 520. Os técnicos ajudam-te a perceber o que fazer e qual o Centro de Recuperação que está mais próximo para entregares o animal.