Estávamos em 1983 quando, no Noroeste chinês, que é uma das zonas com as montanhas mais altas do mundo inteiro, o investigador chinês Li Weidong, do Instituto de Ecologia e Geografia Xinjiang, na China, descobriu um novo animal. O pika de Ili não foi nada fácil de descobrir porque este mamífero herbívoro, para além de ser muito rápido, é pequenino e tem uma cor semelhante à dos penedos onde gosta de se esconder.
A dificuldade aumenta quando os únicos locais onde estes bichos gostam de viver se situam nos penhascos rochosos das montanhas Tianshan, a mais de 2500 metros de altitude. Nessa altura, a equipa de investigadores apenas conseguiu ver 29 pikas de Ili, o que não facilitou nada o estudo desta nova espécie pertencente à família dos coelhos e das lebres.
Nos anos seguintes, muitos outros foram encontrados e os cientistas estimavam que talvez existissem perto de 2000 pikas de Ili a viver naquela pequena área da China. Foi então que eles desapareceram… ou será que não? Pika aqui, pika acola Existem outras espécies de pika pelo mundo inteiro, mas nenhuma com as caraterísticas do Ili chinês.
Os pika evoluíram e vivem principalmente em lugares frios, fazendo as suas tocas nas fendas rochosas das montanhas, alimentando-se sobretudo de ervas secas e gramíneas (cereais como o trigo e a aveia) que existem nessas zonas altas e remotas. Reproduzem-se de forma vivípara, mas pouco se sabe se as mamãs pikas de Ili têm grandes ninhadas. Não são muito conhecidos porque também não gostam de dar nas vistas e preferem viver em zonas isoladas e sem gente por perto. Exceto o Pikachu! O Pikachu? Sim, esse mesmo. A mais famosa personagem da série Pokémon foi inspirada nos pika, com os seus pequenos olhos negros e corpo de coelhinho.
Estamos tramados
Os pika de Ili têm vindo a desaparecer graças ao aquecimento global. Segundo Li Weidong, o aumento das temperaturas têm feito recuar a altitude permanente da neve nas montanhas Tianshan forçando estes animais a subir cada vez mais para os frios cumes montanhosos. Por ser um animal tão solitário que não faz nenhum som – ao contrário de outras espécies de pika que soltam um grito adorável para comunicarem entre si – se os predadores estão perto, o pika de Ili não é capaz de alertar os outros. Agora que já se sabe mais sobre esta espécie de pika e que eles voltaram a ser estudados, começam a haver mais esforços para preservar as vidas destes “coelhinhos mágicos” como lhes chama Li Weidong, tudo porque eles apareceram e desapareceram com uma rapidez mágica… Li Weidong, o investigador chinês que descobriu os pika de Ili
Encontrei-te!
E assim passaram 20 anos. Os pika de Ili voltaram a espreitar para fora das suas tocas e alguém os viu! Mas onde é que eles andaram este tempo todo? O cientista, que descobriu esta nova espécie, dedicou-se a outras investigações e os pika de Ili deixaram de ser estudados, logo mais ninguém lhes pôs a vista em cima durante décadas. Mas se em 1990 já só existiam 2000, agora são menos de 1000, e é considerado um animal ameaçado, mais raro ainda do que o próprio panda.