Excrementos, fezes, cocós, bosta, estrume, dejetos, os nomes são muitos para definirmos o que o corpo dos animais, humanos incluídos, deita fora. Mas fora não significa necessariamente que seja desperdiçado. Os excrementos são muito ricos em material orgânico que pode ser usado para produção de energia ou para adubar a terra. O seu aproveitamento permite poupar dinheiro e ao mesmo tempo reduzir a poluição.
Alimentar a terra
Uma das utilizações mais antigas dos excrementos é a de adubar da terra.
Um aproveitamento muito antigo que até há 50 anos era praticamente a única forma de fertilizar o solo e repor os nutrientes necessários ao crescimento de vegetais. Hoje em dia, ainda é utilizado em metade dos terrenos, a nível mundial.
Usa-se cocó de praticamente todos os animais. Para que o efeito seja o melhor, é preciso deixar os excrementos tapados, durante dois a cinco meses. Nesta fase há umas bactérias que decompõem a matéria orgânica. Durante este processo, natural, diminui o mau cheiro, morrem os microorganismos que são prejudiciais para o solo e o material fica então pronto a ser utilizado. Rico em nutrientes, como azoto, potássio e fósforo, costuma ser muito utilizado em produções de legumes ou em estufas de flores. “Adubamos a terra e diminuímos a poluição”, explica Henrique Trindade, professor da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro. Depois de preparado, é vendido e distribuído pelas explorações agrícolas.
Eletricidade feita de esgoto
Aquilo que para nós é uma grande porcaria, para certo tipo de bactérias é um belo petisco. Há espécies de micróbios que se alimentam de lixo, em particular de dejetos ou plantas em decomposição. E a coisa mesmo boa é que enquanto digerem vão libertando energia. Cientistas americanos já conseguiram fazer uma pequena pilha que, simplificando, é uma caixa com água de esgoto, habitada por estas bactérias de gosto estranho. De cada lado da caixa está um fio e um eléctrodo um carregado positivamente, outro negativamente, como nas pilhas normais.
A eletricidade produzida pelas bactérias é então captada pelos elétrodos.
Para já, esta pilha ainda está a ser testada e produz apenas pequenas quantidades de energia. Mas a ideia dos investigadores é usar o método para diminuir os problemas do lixo, sobretudo em países onde ainda não há sistema de esgotos.
Água a partir de fezes
Serias capaz de beber água que veio de cocó? Blerg! Mas olha que Bill Gates, o homem mais rico do mundo, já o fez. Um projeto apoiado pelo milionário está a pôr em funcionamento em África uma fábrica que produz energia e água potável a partir de fezes humanas. A ideia é simples e resulta. A fábrica recebe cocó vindo das latrinas dois mil milhões de pessoas usam casas de banho que não estão ligadas a uma rede de esgoto. Este material é queimado, num processo que separa a água na forma de vapor da parte sólida.
O vapor de água arrefece e torna-se em água líquida que, depois de passar por um sistema de purificação, está pronta a beber. A parte sólida, completamente seca, serve para alimentar uma fogueira, onde se produz vapor de água que alimenta uma turbina e produz energia. Ou seja, entra cocó e sai água limpa e energia elétrica. Melhor é impossível!
Texto publicado na VISÃO Júnior nº 132, Maio de 2015.