Arriscamos a dizer que, desse lado, muitas mãos se levantaram. Aliás, é comum ouvirmos alguém admitir ser “péssimo a Matemática”, mas são menos aqueles que admitem, por exemplo, dar pontapés na Gramática a torto e a direito.
A verdade é que, de certa forma, é socialmente tolerado não sermos “muito bons” a matemática, uma vez que a opinião geral é de que se trata de uma disciplina realmente difícil.
O problema, segundo alguns teóricos, é que esta ideia vai passando de pais para filhos, criando em muitas crianças um certo medo da Matemática, que é vista como um bicho-papão, um inimigo tão difícil de vencer que nem os seus pais foram capazes de o fazer.
E se, no seu tempo de escola, os pais não foram bons alunos à disciplina, talvez sejam mais compreensivos quando os filhos chegam a casa com uma nota fraca a Matemática. Isto diz-lhe alguma coisa?
Nos exames nacionais deste ano, os alunos do 9.º ano ficam-se pelos 43% de média a Matemática. E só 42% conseguiram chegar ao patamar dos 50% ou ficar acima
Este é um assunto há muito estudado e até tem um nome. Na década de 1950, a americana Mary Fides Gough, professora de Matemática de liceu, questionou-se sobre a dificuldade com que os seus alunos se debatiam na sua disciplina e procurou descobrir o estava na origem dos maus resultados.
Foi ela quem cunhou o termo math anxiety (ansiedade a matemática) para se referir ao sentimento de medo, preocupação ou desconforto que interfere na capacidade de estudar a disciplina ou de resolver problemas matemáticos. Desde então, vários estudos têm sido realizados na tentativa de quantificar os níveis de ansiedade e encontrar as razões sociológicas para tal fenómeno.
“A matemática é difícil”
Não adocemos a pílula, aconselha o matemático e professor universitário Jorge Nuno Silva: “A matemática é difícil e não temos de o esconder. A questão é que, para motivar os alunos, é preciso proporcionar-lhes o prazer que a matemática pode dar. E esse prazer é o de pensar bem. Esta é a disciplina em que se pensa com rigor e criatividade, em que alimenta este gosto de explorar, em que se brinca com as ideias.”
Na sua opinião, infelizmente, nem sempre há espaço para esta exploração. “A escola preocupa-se em ensinar, em preparar para os exames – tudo muito louvável – mas, muitas vezes, o aluno não tem tempo para saborear certas coisas, nem é atraído para a exploração e especulação.”
Daí defender que é fundamental promover nas crianças o gosto de pensar bem. Esse é um dos objetivos da Ludus, a associação a que preside, cujos objetivos passam por promover e divulgar a matemática recreativa, através de atividades que levam a matemática para fora da sala de aula, tornando-a mais apelativa.
“E isso faz-se de várias maneiras, através de puzles, adivinhas, jogos de tabuleiro, também conhecidos por jogos abstratos, cuja prática se assemelha à própria prática da matemática porque são pensamento puro.” O Circo Matemático e Campeonato Nacional de Jogos Matemáticos são dois exemplos das atividades organizadas pela Ludus.
“Os jogos abstratos são fantásticos para pôr os miúdos a pensar e a gostar de pensar. Quando são pequenas, as crianças comem papas, depois vão-lhe sendo introduzidas novas comidas, de que elas não gostam, não querem e até choram. Mas quando chegam à idade adulta, já comem sushi e sarrabulho. Ora, com a matemática é a mesma coisa: é preciso apreciar e subir degraus que, às vezes, custam a subir!”
Onde se treina a Matemática?
“A matemática na cozinha é uma atividade cheia de conceitos quantitativos, que ajuda as crianças a habituar-se à inevitabilidade da matemática porque sem números não se pode fazer uma receita com sucesso.” De facto, não dá para dizer “deita aí um bocado de açúcar”, é preciso quantificar. “Ao fazemos um bolo percebemos que 100 gramas é diferente de 1 quilo; aprendemos proporções quando queremos fazer um bolo com o dobro do tamanho e temos de duplicar os ingredientes, e por aí fora.”
Com outra vantagem: sendo uma atividade física, as mãos estão envolvidas no processo o que, pedagogicamente, é uma vantagem pois ajuda à compreensão. “É por isso que a Física se aprende fazendo experiências. Com a matemática é um bocadinho mais difícil, mas também se consegue.”
Deixamos duas sugestões para quem está em Lisboa: o Pavilhão do Conhecimento, que oferece atividades de matemática interessantes para mexer e brincar; e a Sala de Matemática do Museu Nacional de História Natural e da Ciência, onde se encontram vários jogos interessantes para todas as idades.
A VISÃO Júnior dá uma ajuda
Na edição de outubro, que encontra à venda nas bancas ou aqui, propomos entrar no mundo dos números, cálculos e problemas e ajudar os jovens leitores a descobrir como melhorar a matemática e a perder o medo.
Através de jogos, curiosidades e truques de cálculo mental, mostramos como a matemática está em todo o lado – quando pomos gasolina no carro ou se calcula a rota de um foguetão – , pode ser bastante divertida e é possível treiná-la a brincar.
Sabia, por exemplo, que as abelhas usam conceitos geométricos para indicarem às suas companheiras onde encontraram comida? Ou que os egípcios construíram as pirâmides sem sequer saber o que era a tabuada? Espreite e aprenda como fazer uma multiplicação complexa usando apenas a tabuada do 2. Sem medo.