Porque gosta muito de brincar e acha estranho que muitos dos seus colegas fiquem agarrados ao telemóvel nos intervalos em vez de brincar com os outros miúdos, Maria do Mar, consultora da VISÃO Júnior, aluna do 5º ano na Escola Eugénio de Castro, em Coimbra, foi entrevistar um dos grandes especialistas mundiais jogos e brincadeiras, e a sua importância para as crianças. É o professor Carlos Neto.
Que tipo de brincadeiras fazia quando era criança?
Eu andava por todo o lado. Ia à escola e, depois das aulas, deixava a pasta em casa e ia brincar lá para fora. E andava na rua, a conhecer a cidade e a brincar às escondidas, nadava no rio, subia ao castelo, andava com os meus amigos a descobrir coisas. Era um mundo fascinante de brincadeira livre.
Porque acha que brincar é importante?
O brincar é a magia da nossa essência. Todos os animais brincam e nós precisamos também de brincar muito ao longo da vida. Principalmente nas primeiras fases, porque é nessa fase do nosso crescimento que ganhamos muitas experiências diversificadas, fazemos muitas explorações, conhecemos muitos locais.
Hoje temos um problema porque as crianças estão a ficar muito sentadas e muito agarradas aos ecrãs lúdicos, e isso é mau porque em vez de estarem ali agarradas, deviam estar a brincar e a ter outro tipo de experiências com os amigos, a explorar a natureza, a testar limites, a terem mais autonomia e liberdade, a subirem às árvores e aos muros, a andarem à apanhada e aos jogos de luta… Tudo isso é fundamental para aprender a viver.
E a defender-nos…
… E a serem capazes de se defender, sim.
Mas os pais às vezes dizem para não subirem às árvores porque se magoam ou não brincarem no chão porque se sujam.
Nós temos necessidade de ter escolas, famílias e comunidades ativas. O problema é que as crianças passam muito tempo na escola, cerca de 50 horas. A rua desapareceu enquanto local de jogo e foi ocupada pelos automóveis, mas nós não temos mais perigos do que tínhamos dantes. Temos é menos tempo!
O que é que nós podemos fazer pelo nosso direito a brincar?
Podem convidar os pais para brincarem em casa e para irem à escola para, juntamente com os professores, trabalharem em conjunto para fazerem experiências [sobre como podem mudar esta situação]. Trabalhar juntos é fundamental. E é preciso que as escolas chamem os pais para ali fazerem atividades com as crianças.
Há países no Norte da Europa onde, a partir das 4 horas da tarde, as crianças têm tempo livre para estarem a brincar com os pais. Infelizmente, em Portugal, devido à precariedade, os pais estão a trabalhar até às 7 horas da noite.
E o que podemos fazer para estar menos tempo ligados aos ecrãs?
É preciso distinguir os ecrãs lúdicos (aqueles que usas para te divertires ou entreteres) e aqueles que usas, na escola ou em casa, para ires à procura de conhecimento. O que é preciso é uma negociação entre crianças e pais para combinarem em que alturas podem utilizar os ecrãs lúdicos.
Há três regras básicas: quando se acorda não há ecrãs deste tipo, quando se vai dormir também não; e no quarto não deve haver televisões, ipads ou telemóveis. Isto porque estar muito tempo em frente aos ecrãs retira-te tempo para brincares, que é fundamental para a tua saúde. Não quer dizer que as crianças não podem brincar com ecrãs, claro que podem, mas tem de haver um equilíbrio que deve ser combinado entre pais e filhos.
É verdade que a brincar se aprende?
Claro! Brincar não se ensina, mas a brincar aprende-se. E aprende-se imensas coisas simples mas fundamentais. Pensa-se que o brincar é um comportamento inútil, mas é fundamental. É por isso que não faz sentido a ideia de que se aprende na sala de aula e se brinca nos recreios. Deve-se brincar em todo o lado. Como dizia uma criança recentemente: «Eu aprendo em todo o lugar e com toda a gente.»
O título do seu livro mais recente é Libertem as Crianças. Acha que as crianças estão presas?
Tem a ver com uma campanha que fizemos há uns anos. Verificámos que, em vários países onde foi realizado um estudo, os presos têm, em média, duas horas de tempo livre fora das celas enquanto as crianças têm cerca de uma hora e meia para brincar livremente. Isto significa que as crianças têm menos tempo para brincar do que os presos nas prisões! Temos de ultrapassar esta ideia de que brincar não é importante: brincar é fundamental para o desenvolvimento humano.
Põe-te a mexer!
Correr, saltar, jogar à bola ou subir às árvores são atividades divertidas que fazem maravilhas pelo teu corpo. Descobre porquê e experimenta outras brincadeiras que te podem ajudar a ser um verdadeiro atleta