Em 2002, a UNESCO, uma instituição das Nações Unidas (ONU), instituiu como Dia Mundial da Filosofia a terceira quinta-feira de novembro. Este dia serve para recordar os povos de que é necessário refletirmos sobre o que se passa no mundo, para que possamos construir juntos uma sociedade mais tolerante e pacífica.
Já deves ter ouvido falar de Filosofia, de filósofos e até talvez conheças alguém que tenha essa disciplina na escola. Mas sabes, afinal, o que é isso da filosofia?
Fomos à procura de uma resposta e procurámos uma filósofa. Chama-se Joana Rita Sousa, e foi ela quem nos ajudou a compreender melhor esta atividade. Estas foram as perguntas que lhe fizemos (e ficámos a saber que as perguntas e a Filosofia andam de mãos dadas!)
O que é a Filosofia?
Muitas pessoas têm pensado sobre essa pergunta ao longo do tempo, e têm dado respostas com algumas diferenças. Mas aquilo em que talvez todos concordam é que a Filosofia é um espaço e um tempo de diálogo em que exploramos ideias e pontos de vista uns com os outros, para tentarmos compreender o que se passa connosco, com os outros e com o mundo.
É um espaço de exploração e de atrevimento, porque nos atrevemos a fazer perguntas e arriscamos-nos a dar respostas!
Na Filosofia há ‘respostas certas’?
As pessoas que se dedicam à Filosofia, mesmo que não sejam «filósofos profissionais», fazem perguntas porque andam à procura de uma resposta. Eu, às vezes, digo que a Filosofia é fazer perguntas mas também arriscar respostas.
E digo «arriscar» porque, por vezes, é difícil encontrar uma resposta única, fechada para todo o sempre, que dê para «guardar na gaveta» e não pensarmos mais sobre um determinado assunto.
Só que vão-nos acontecendo coisas, vamos tendo outras experiências, conhecemos mais pessoas, aprendemos outras coisas e, por isso, ao longo da vida, as nossas respostas podem ser «afinadas».
Ou seja, nem sempre a resposta que encontramos para um assunto é ‘certa’, mas é a melhor possível naquele momento.
A Filosofia é uma espécie de saco sem fundo, porque à medida que vamos fazemos mais e mais perguntas percebemos que não sabemos muitas coisas e que temos muito para explorar. E, por vezes, atrás de uma resposta vem outra pergunta!
Os filósofos são todos adultos? Ou as crianças também podem filosofar?
Vítor Lima, um filósofo que mora no Brasil, diz que «a filosofia é para todo o mundo, mas não é para toda a gente». O que ele quer dizer é que a filosofia é uma atividade que pode ser feita por qualquer pessoa, independentemente de ser uma criança, um jovem ou um adulto, desde que essa pessoa esteja disponível para dialogar, conversar, partilhar perguntas, ideias, coisas da sua imaginação…
Diz que a Filosofia é o ‘ginásio do pensamento’ Porquê?
Sabem aquelas pessoas que se inscrevem num ginásio mas nunca vão? A Filosofia é parecida. É um ginásio do pensamento porque temos de fazer algum esforço para pensar, refletir sobre o ponto de vista das outras pessoas, temos de treinar a nossa flexibilidade e a força das nossas razões. É um exercício que devemos fazer um bocadinho todos os dias.
Qual é a pergunta mais importante na Filosofia?
É o porquê. Esta palavra é uma chave quase mágica, que nos abre portas e nos permite ver o que há lá por trás. O ‘porquê’, quando aparece, pede-nos uma explicação, pede que nos dediquemos um bocadinho a explicar o que estamos a pensar.
E o que acontece é que, atrás do porquê, vêm outras perguntas interessantes que nos permitem explorar outras ideias e hipóteses. Essas perguntas são ‘Como?’ e ‘E se?’
A Joana diz que é uma ‘perguntóloga’. O que é isso?
Eu precisava de um nome que fosse uma mistura de coisa séria com algo divertido que explicasse o que faço, que é a arte de fazer perguntas, e inspirei-me numa expressão usada por um filósofo estrangeiro chamado Warren Berger.
Queres ser um ‘perguntólogo’ ou uma ‘perguntóloga’?
Temos um desafio para te fazer, e que vai pôr toda a família a filosofar aí em casa. Bora lá?
Sozinho ou com a ajuda dos teus pais, faz um caderno, que podem ser simplesmente folhas de papel coladas ou agrafadas umas às outras. (Também podes comprarum caderno, se preferires, isso não é importante.)
No primeiro dia de um mês, cada elemento da família vai escrever numa página uma pergunta. Qualquer pergunta, não há regras. No topo da página, põem a data e junto da vossa pergunta escrevem o vosso nome. Deixem o resto da página em branco.
Repitam esta rotina todos os dias: cada dia uma nova pergunta. Já pensaste quantas perguntas terão quando chegarem ao fim do mês?
Quando o mês terminar, vão ao início do caderno, escolhem uma ou mais perguntas do primeiro dia e vão conversar sobre ela para, juntos, tentarem encontrar respostas. Há perguntas a que se responde facilmente se pesquisarmos numa enciclopédia, por exemplo. Mas há outras que não têm resposta fácil e exigem-nos mais tempo, como verás.
Repitam o processo, dia a dia, até chegarem ao último dia do caderno. E, depois, voltem a fazer tudo de novo, com mais perguntas e muitas mais respostas!
Aqui ficam 3 perguntas para começares a filosofar.
Podes fazê-lo em família ou com os teus amigos. São elas:
1.ª Como sabes que és uma pessoa e não um robô?
2.ª Podes fazer tudo aquilo que queres?
3.ª Quem é mais livre: um adulto ou uma criança?
Agradecemos a colaboração de Joana Rita Sousa, filósofa, perguntóloga, Mestre de Filosofia para Crianças e responsável pelo projeto @filocriatividade