Têm todos menos de 30 anos e todos o mesmo amor pelo desporto: Vanina Guerillot, Ricardo Brancal e José Cabeça são os jovens que vão representar Portugal nos Jogos Olímpicos de Inverno em Pequim, que começaram ontem, 4 de fevereiro. Não sabem se vão trazer medalhas de Pequim, mas dizem que só «a sua presença já é uma vitória» e garantem que vão dar tudo para honrar a sua camisola: a portuguesa.
Slalom e Slalom gigante
Ricardo Brancal tem 25 anos e pratica desporto desde os 4. «A primeira vez que tive contacto com a neve e com o esqui foi numas férias de natal que passei em França com a minha família”, conta. «A primeira sensação que tenho era de estar sempre a cair e a tentar perceber como funcionava, mas de estar a gostar.»
Aos 13 anos, foi convidado para integrar a equipa da Federação Portuguesa de Esqui para ir a uma prova das comunidades portuguesas na Suíça. «Não conhecia sequer a Federação, que por acaso tinha sede na cidade onde nasci, na Covilhã», conta. Desde esse momento, começou «a dar tudo para ser o melhor», diz, a rir.
Venceu vários campeonatos nacionais e, em 2020, foi para Itália para fazer esqui a tempo inteiro. «Estou cá quase sempre e o ano resume-se em duas partes: época e pré-época. Na altura de pré-época, entre julho e outubro, treinamos em glaciares, que funcionam durante o ano todo: mais treino, mais horas em pista. Na altura das provas há mais repouso, há mais qualidade e menos quantidade dos treinos», explica.
Ricardo sabe que vencer uma medalha nos Jogos Olímpicos de inverno «é muito, muito difícil», e explica que o nosso país não é um país que aposte nos desportos de inverno, como acontece, por exemplo, na Suíça.
Para os amantes de esqui que queiram competir, Ricardo deixa uma nota de esperança: «No meu caso, eu treinava mais ou menos 30 dias por ano. É muito pouco para o que o resto do mundo faz: eles treinam 200 dias no ano. Mas mesmo assim eu estou aqui a representar Portugal e é possível fazermos tudo o que quisermos. É uma questão de acreditar e dar tudo o que têm.»
Esqui cross-country
Ao contrário de Ricardo, José Cabeça, também com 25 anos, começou a praticar o desporto há apenas dois anos. «A ideia de começar a praticar este desporto surgiu nos Jogos Olímpicos de 2018, quando estava a assistir à prova de esqui de fundo», recorda à VISÃO. «Eu sempre gostei de desportos difíceis, que me desafiassem e que me dessem prazer em praticar.»
Como já tinha praticado triatlo, José sabia que ia gostar de esquiar e que poderia conseguir alcançar o seu maior objetivo de vida: «O meu sonho, desde os 6 anos, era só ir ao Jogos Olímpicos, fosse em que modalidade fosse», afirma, e viu essa possibilidade no esqui de fundo. «Desde 2018 que estudo a modalidade, estudo os movimentos, a forma como me devo mexer ou não, toda a parte teórica da modalidade. Depois, em 2019, comecei com a parte prática e foi evoluindo», conta.
Em 2020, decidiu ir viver para a França, onde esteve de janeiro até março de 2020. «Nesses dois meses iniciei a prática de esqui de fundo, e apesar de treinar, não consegui arranjar ninguém. Os treinadores de lá só podem treinar franceses, o que não era o meu caso.»
Foi com a mesma determinação que decidiu sair da França e ir para a Noruega, um país com grandes tradições do esqui. «Encontro-me desde o dia 5 de dezembro na Noruega, a ser treinado por um dos melhores treinadores do país», revela, «Muitos treinadores dizem que neste momento estou igual aos que já lá treinam há anos e anos.»
Recebeu a notícia de que ia aos Jogos Olímpicos de Pequim pelo Instagram. «Eu já estava à espera, mas tive a confirmação quando uma amiga minha partilhou uma publicação e me identificou. Não poderia estar mais contente, é um sonho mesmo.»
E deixa uma mensagem: «Quando era mais novo fui muito julgado por sonhar demasiado alto. Ninguém acreditava que ia estar nos Jogos Olímpicos, mas espero que o meu caso ajude muitos a conseguirem o que querem e que os ajude também a conseguirem chegar mais longe-»
Slalom
Vanina Oliveira, de 19 anos, residente em França e filha de mãe natural de Atães, Guimarães, deposita também no slalom a maior esperança. O slalom é uma modalidade do esqui alpino. Trata-se de uma descida na qual os esquiadores têm de passar através de uma série de obstáculos colocados num percurso cheio de curvas.
«Espero representar bem Portugal, mas também divertir-me e aproveitar o momento. O slalom é a minha disciplina favorita e na qual vou tentar um resultado melhor», afirmou a atleta que, durante a preparação para Pequim 2022, se ressentiu da lesão nas costas que a afetou nos Mundiais.