Mia Khan tem 63 anos e vive na província de Paktika, no Afeganistão. Pai de 12 filhos, vive com a família numa casa humilde e, apesar de naquele país ainda muita gente acreditar que as raparigas não devem ir à escola, o sr. Khan faz questão de que as três filhas mais novas, de 8, 10 e 12 anos, estudem.

Numa zona onde existem poucas escolas, têm de percorrer todos os dias 24 quilómetros: 12 para lá e outros tantos no regresso a casa. Às vezes, leva as três meninas de mota mas, noutras ocasiões, têm de ir a pé. Mas a distância não é o único problema. A região não é muita segura, pois o país está em guerra há muitos anos e, por isso, as famílias não gostam que as crianças andem sozinhas. Assim, depois de deixar as filhas na escola, o sr. Khan espera até ao fim das aulas para regressarem todos juntos à aldeia.
Um verdadeiro herói
«Sou analfabeto (é como se chamam as pessoas que não sabem ler nem escrever) mas a educação das minhas filhas é muito valiosa para mim. […] O meu desejo é que estudem, tal como os irmãos estudaram». Ao jornal Arab News, o sr. Khan explicou que na sua terra não há médicas e que o seu sonho é que a sua filha mais velha seja a primeira da aldeia: «Quero que ela sirva a Humanidade.» Rozy, que anda no 6º. ano, diz que se sente muito feliz por poder ir à escola, e as irmãs confirmam que estudar Medicina é um sonho que todas desejam realizar.
Graças a uma publicação na página de Facebook do Comité Sueco para o Afeganistão – a organização que gere a escola que as três meninas frequentam -, a história de Mia Khan espalhou-se pela internet. A história chegou aos ouvidos do ministro da Educação daquele país, Mirwais Balkhi, que ficou muito impressionado com a atitude deste homem e o apelidou «herói da educação». Quis conhecê-lo pessoalmente e anunciou que será construída uma escola na aldeia onde esta família vive, que se chamará Escola Mia Khan.
A luta pela educação das raparigas
Em 2015, 75% das raparigas e mulheres afegãs eram analfabetas, e hoje os números não devem ser muito diferentes. De 1996 a 2001, o Afeganistão foi dominado pelos talibãs – um grupo de homens que usa os livros religiosos islâmicos (o Corão e a Suna) para dizer o que é proibido e permitido. Foram eles que, no poder, criaram leis que obrigavam as mulheres a andarem completamente tapadas dos pés à cabeça com um traje chamado burca e proibiram as raparigas de irem à escola. Mas isto não aconteceu só no Afeganistão. Há outros países onde as pessoas acreditam que, ao contrário dos rapazes, as meninas não devem estudar.

Há uns anos, no Paquistão, uma menina decidiu protestar. Malala Yousafzay, de quem já deves ter ouvido falar, tinha 11 anos quando começou a escrever num blogue para a BBC (uma rede de rádio e televisão britânica) sobre como era a vida num país dominado pelos talibãs. Entre outros assuntos, defendia o direito de as raparigas estudarem, e isso quase lhe custou a vida: os talibãs paquistaneses tentaram matá-la, pois consideravam as suas ideias perigosas. Mas Malala sobreviveu, a sua história impressionou milhões de pessoas pelo mundo fora e, em 2014, com 17 anos, recebeu o Prémio Nobel da Paz. O seu lema é «Um livro, uma caneta, uma criança e um professor podem mudar o mundo», e parece-nos que Mia Khan concorda com ela.