1. Chama-se Língua Gestual Portuguesa e não Linguagem Gestual Portuguesa
«A Língua Gestual Portuguesa [LGP] tem uma estrutura própria (diferente da língua portuguesa), respeita regras gramaticais e é usada por uma comunidade», tal como a língua portuguesa, explica Cláudia Braga, tradutora e intérprete de LGP no Agrupamento de Escolas Coimbra Centro. Esta língua tem palavras, letras, uma gramática, e usa a expressão facial e o movimento do corpo. Além disso, toda a informação é recebida através da visão.
2. A Língua Gestual é universal
«Não é verdade. Existem tantas Línguas Gestuais como países, cada país tem uma diferente. Mesmo dentro do grupo de países que falam Língua Portuguesa, existem Línguas Gestuais diferentes», esclarece Joana Rosa, surda profunda e professora de artes visuais.
3. Os surdos são todos mudos
«A pessoas surdas não são mudas. Normalmente o aparelho fonador funciona [ou seja, as pessoas surdas têm cordas vocais e por isso conseguem falar], mas a oralidade dessas pessoas pode não existir ou ser reduzida devido à falta de capacidades auditivas», alerta Cláudia Braga. «Ainda assim, alguns surdos sentem mais dificuldades [em falar] do que outros, não porque não tenham essa capacidade, mas porque não ouvir pode naturalmente condicionar a fala e a modelação da voz», explica Joana Rosa. Resumindo, um surdo não fala porque não ouve. E, não ouvindo, não consegue reproduzir o som das palavras.
4. Só os surdos falam Língua Gestual Portuguesa
Não são só os surdos que falam LGP. «Muitas pessoas ouvintes também falam LGP: familiares ou amigos de pessoas surdas também a aprendem e, além destas, existem os profissionais que trabalham com surdos, a quem se chamam tradutores e intérpretes de Língua Gestual Portuguesa», explica Luís Oríola, que, além de ser tradutor e intérprete de LGP no Instituto Nacional para a Reabilitação, sempre conviveu com surdos: «Desde pequeno assumi o papel de intérprete, já que sempre vivi numa família de surdos. O meu irmão, os meus pais, tio, avós maternos e também a minha mulher são surdos».
5. Os falantes de Língua Gestual Portuguesa fazem muitas caretas
É verdade que fazem, mas existe uma razão para isso. «A expressão facial é fundamental para a comunicação, pois pode dar a indicação de perguntas, frases na negativa, ou até tom de voz», explica Sandra Faria, também tradutora e intérprete de LGP na Serviin (uma empresa de interpretação à distância para pessoas surdas).
6. Os tradutores e intérpretes de Língua Gestual Portuguesa trabalham só naquele quadradinho da televisão
Sobre este mito, Paula Teixeira, tradutora e intérprete de LGP na TVI, esclarece: «A maioria das pessoas vê os intérpretes só na televisão e, muitas vezes, não têm noção do trabalho que fazemos e de que somos a ponte entre os dois mundos: o do som e o do silêncio. Acham que não traduzimos tudo o que está a ser dito, que podemos traduzir algo que nos apeteça ou que fazemos mímica». E onde trabalham? «Podem trabalhar em escolas e faculdades que tenham alunos surdos, em serviços de telecomunicações que ofereçam assistência em LGP, podem fazer o acompanhamento de surdos a vários locais (finanças, segurança social, médico, entre outros) e ainda podem traduzir eventos como casamentos, divórcios, funerais ou uma ida a um tribunal». Sandra Faria acrescenta: «Muitas vezes, quando estou a trabalhar, as pessoas pensam que estou a falar pela pessoa surda; que sou uma ajuda ou que estou a explicar aos surdos o que se está a passar. Na verdade, o nosso papel é apenas interpretar, ser ponte de comunicação. O nosso dever é ser fiel à mensagem, sem juízos de valor, sem opinião e sem a modificar».